Friday, May 18, 2007

 

Ja que o Globo no quiere.....

O mundo inteiro clama por um “choque de gestão”. Parece ser o grito de guerra atual. Proliferam os mestrados em administração, MBAs, com especializações em todos os ramos de atividade. MBA em logística, finanças, cultura, futebol, e, brevemente, em gestão de dejetos, urticária e digestão de laticínios e derivados. Esse choque, reza a lenda, deveria ser levado a cabo em países, instituições, empresas, estados, quitandas etc... E como isso responde, mimeticamente, ao que necessitamos no âmbito da educação? Ou seja como esta é refletida nas gestões?

Vamos começar pelos grandalhões. Curiosamente, a maior potência do mundo é dirigida por um formando do programa de MBA mais conceituado do planeta, o da Universidade Harvard. Ideologia de lado, George Bush não tem primado por uma boa gestão - no sentido de racionalizar as decisões que levariam à eficiência e bem-estar dos que estão sob o controle do liderado. Foi comprovado que o Hospital Walter Reed, do exército americano, não estava preparado para receber feridos da guerra do Iraque, o ministro da justiça faz lambanças enormes e não foi demitido, o braço direito (talvez literalmente) do vice Dick Cheney foi indiciado por vazar o nome de uma espiã de seu próprio país, etc... Enfim, de nada adiantou o canudo de George Bush. Nessa perspectiva, o nosso presidente Lula até que está muito bem na foto, posto que nunca estudou e não colou grau para obter um MBA.

A capacidade de liderar requer uma dose maçiça de transcendência. O líder deve tocar em alguma parte da alma do liderado para que possa obter resposta e desencadear um efeito levando à eficiência no processo da ação. Se o liderado não acreditar, não teremos eficiência, nem o desejado “choque de gestão” no processo. Assim podemos observar a malta que forma a antítese da turma do MBA. E daí temos o sucesso apenas parcial de Fidel Castro, Hugo Chávez, Ahmadinejad no Irã, Kim Jong Il na Coréia, e Fernandinho Beira-Mar e Marcola, diferenças setentrionais à parte. As gestões tampouco são eficientes. Parte dos liderados acredita no ideário de tais líderes. A outra parte acredita no revólver que cada um carrega no coldre, ostensivamente ou não. Ou seja, eles evocam o terror que Maquiavel imputava a Cesare Borgia em sua obra-prima, O Príncipe. Nenhum dos supracitados parece ter um MBA. Nem Maquiavel era politólogo da Sorbonne.

A parte trasncendental é tão importante que ela leva a um fator chave para um choque de gestão com sucesso. Da empatia tiramos soluções para alguns problemas, mobilizamos tropas de choque, no escritório, nas ruas, nos conselhos de administração. A vaidade humana, a névoa de nada do Qoelleth (Eclesiastes), uma dessas verdades universais, entra no processo como a cultura de bactéria que gora e coalha o leite. E vendem-se livros onde os maiores executivos são Jesus Cristo, Buda et caterva.

E aí temos um questionamento fundamental, dado o foco necessário na educação do povo. Uma educação mercadológica? Profissionalizante? Sim, faz-se mister. Mas e o conteúdo? Onde está o casamento teleológico (meios e fins) de tal ênfase? De que adianta aumentar a renda de um mecânico de automóvel se ele não vai estimular o mercado editorial? Inclusive para o seu constante aperfeiçoamento como mecânico? Se outros vão jogar papel na rua, lata de Coca no riachuelo, se vai entrar no Congresso com chapéu de Corisco, ou, eventualmente, se as deputadas vão paramentadas de Burka ao plenário? Relativizar demais seria uma postura pós-moderna ou conservadora? Onde está o araldite que pode nos engomar e unir numa identidade verdadeiramente nacional, onde a relativização seja uma realidade que não desperte a ira de certas lides e grupos de pressão?

Choque de gestão. Gerir o quê e para que finalidade? Gestões amorosas? O meta-MBA para destrinchar o que se espera de uma sociedade ocidental feita de líderes e não de pessoas que se sabem ser comandadas e lideradas? A liderança é um pressuposto solitário como postura societária, carregada de valor de julgamento e fazendo distinções a priori entre o forte e o fraco. Ram Sharam, o mais novo guru no tema, fala das diferentes lideranças de escala, indo do presidente de uma nação ou corporação ao líder comunitário, desembocando talvez no professor primário ou no tutor solitário. A liderança é o diálogo a dois também. Seria uma liderança ativa, de troca de vozes e idéias, estas sim, iguais, eivadas do “égalité” da Revolução Francesa, do pingue-pongue tímido, silencioso e canhestro que vimos no filme Borat. Partindo do microcosmo, podemos antever o sucesso da liderança ampliada para um maior número de participantes do processo.

E a boa gestão? Deveria entrar como ou com a tropa de choque? Ou deveria ser um processo de tentativas de erros e acertos, onde começamos a evitar aqueles com bastante presteza? Como exemplo, podemos citar que o governador do Rio de Janeiro, bem como o de Minas Gerais e alguns outros, revelam-se ousados em várias frentes. Na acepção atual eles têm promovido – segundo alguns analistas - o tal choque com “panache” deixando alguns perplexos com suas propostas geralmente cobertas de bom-senso. No Congresso observamos o choque de auto-gestão dos que fizeram um mea culpa e reconheceram que os líderes dos seus partidos não obraram com transparência, levando até à cizânia e criação de novas siglas. Mas apesar de alguns conceitos e saídas para essas questões serem claras, aquele que não tenha um MBA que atire a primeira pedra.

Fernando G. Carneiro é mestre em gestão internacional
fernandocrnr@yahoo.com

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