Monday, January 19, 2009

 

Man of the Year


Sheldon....

Thursday, January 15, 2009

 

Na Zep

21 de dezembro de 2008
Valeu, Zumbi
BLOG, Música
Por Fernando Carneiro
Uma matéria sobre a banda carioca Zumbi do Mato necessita de um gigantesco nariz de caixa-cêra (mulher que deixa a desejar por falta de higiene nas pudendas). E por ser marafeira. Pudera. Nariz esfacelado. O perfil não tem início, meio ou fim… Trata-se de uma carreira perfilada e tanto – se tonto. Caixa-cêra do Tiroteio do Esqueleto sem Cabeça. Diz Zumbi que a cachorra da moça tá fedendo. Eles são da Zona (Far)Oeste. Uma canção não da Nação. Mas do Zumbi do Mato. Rio de Dezembro. O intróito metalinguístico - já sem t(r)ema e com t(r)ocadilho – é de valia. E o texto é longo pra cacete. A cara dos cara. A cara do Löïs – esse com trema – Lancaster, talvez filho do Burt. O cara é cristal de bacará de uma mesa verde em Ve(r)gas. O perfil tem que ser “gonzo”, concordamos, mas não sabemos o que é verdade. Qual é o tom? Lá? Ele não ameaçou nada. Mas ele é Zumbi. E não é. Aí é que tá…
O “publisher”- personagem desse alfarrábio “em linha”, gostou da pauta de correr atrás de uma matéria com o Z1bi (sic). Entro em contato com a banda por motivo do lançamento, curiosamente na surdina, de seu último trabalho, o “Toma, Figurão!”. Que (me) levou a um show antológico com treze pessoas na Gafieira Elite, na quinta retrasada, chuvosa e reluzente. Vista linda da copalhada de árvores do Campo de Santana. Adolescentes – pré e pós - em danças que ainda não tinha visto. Figurão lobo-do-mar de barba e cabelo branco, tatuado e de camiseta, com máquina digital registrando tudo. Zumbi pai. O bis foi a versão cover do maior sucesso de Sandy e Júnior. Vamos ao nariz fora de ordem…
Cito L.F. Verissimo falando sobre metamorfoses e a barata de Kafka: “…Num livro sobre o tema – chamado Fantastic Metamorphoses, Other Worlds, não sei se foi traduzido – Marina Warner descreve, por exemplo, a transformação sofrida pela palavra e o conceito de ‘zumbi’ através dos anos. Segundo Warner, ‘zombie’ apareceu em inglês pela primeira vez numa História do Brasil em três volumes escrita por Robert Southey e publicada na Inglaterra entre 1810 e 1819. Southey relata a revolta de escravos e índios contra os colonizadores, liderados por ‘Zombi’, que identificam com um Deus angolano e que acaba barbaramente sacrificado no fim da revolta. Depois da derrota do Zombi descrito por Southey, que inspirou protestos e poemas na Europa, ganhou corpo a versão oficial de que ‘Zumbi’ era o nome do Diabo na língua dos africanos, o primeiro passo para transformar o mártir não em herói venerável mas em assombração. De líder libertário de pessoas que preferiram morrer a ser escravos, o nome foi lentamente se metamorfoseando até significar um corpo vazio, sem emoção ou discernimento, a carcaça do que fora um dia. O zumbi de agora é o zumbi de antes, vencido e eviscerado…” Entre Deus e o Diabo o Zumbi do Mato escolheu Kutlu. (continua aqui)

Segundo Steven Pinker, professor de psicologia na Universidade Harvard e autor de “O Instinto da Linguagem” (ed. Martins Fontes), “… a palavra é um rótulo arbitrário - essa é a base da lingüística. Mas muita gente não pensa assim. Acredita na magia das palavras: que pronunciar um encantamento, uma maldição ou uma oração pode mudar o mundo. Xingar é outro tipo de magia das palavras…..” Ainda segundo o badalado Pinker, contrariando a lógica, as pessoas acreditam que certas palavras podem corromper a ordem moral - que “mijar”, “cagar” e “foder” são perigosas de uma maneira que “xixi”, “cocô” e “trepar” não são. (Acrescentaria eu que é aquele negócio de gringo. De que “fucking” no gerúndio – bien sûr - vira um adjetivo em vez de verbo conjugado no conjugado. Já sabemos… So what?)
Sifudê Pinker. Gastando dinheiro na crise para dar lustre e lastro à pesquisa de palavras de baixo calão? O palavrão é muito importante aqui. Cadê o Millôr? Ou não tem a menor importância. O Zumbi do Mato é feito de combustão espontânea, onde se combina Europeido com Massagistas de Massachusetts. Tudo isso em compasso de seis ou sete. Cadê a grana da Ford Foundation ou do Harvard Endownment? Dá pra eles. Dá pra mim. Não você, mas a cu-r-a-dora. Se tiver uma.
A formação vai e vem, mas ainda com Zé Felipe no baixo e Löis, castanhola, aititia (!) e thrown bone (sic). De vara. A primeira resposta que recebo de Zé Felipe, ao ser informado que a Zé Pereira, editada por um Zé José, queria um perfil e entrevista com a banda, foi singela: “Eu sou o Zé do Zumbi do Mato.” O Zé é gente boa. Disse que não tinha nada a dizer. Mas disse, depois de uma boa risada, que eu podia virar Zumbi por uma noite pra ver qual era. Virei no show. A formação se complementa com uma batera musculírica, forte – que entra em metamorfose - e um teclado sempre como que sampleando um Casiotone de dez reau. Sem sacanagem. O teclado do Zumbi é uma marca registrada da banda. São zumbis fixos agora, mas que podem já não ser daqui a pouco mais. Henrique, Ricardo. Sempre um patrício, sempre augustos, pacíficos, clementes.
Parida em 1989, em Jacarepaguá. De-tonando desde então. Tem gente que acha que a banda não existe. Mas eles somem mesmo. Löis merece a Medalha Pedro Ernesto. Está tudo mais ou menos na internet, mas não faz in-justiça ao que é o Zumbi. O importante primeiramente é apreciar a música da banda em si. Depois, apreciar as letras. Löis Lancaster, líder, professor e publicitário, é um dos colaboradores de Fábio Massari no Livro “Zappa? Detritos Cósmicos”. Uma das milhares de influências da banda. Junto a King Crimson, Van der Graaf Generator, Grupo Rumo, Arrigo Barnabé, Elomar, Gentle Giant, Mr. Bungle, Captain Beefheart e Sandy e Júnior. Tudo isso sendo original e não “collage” ou “decoupage” de forma alguma…

O último petardo veio meio que Radiohead, e está todo disponível de grátis em http://www.zumbidomato.com/. Grandes sucessos de seus CDs anteriores, entre eles “Menorme” e “Pesadelo na Discoteca”, fazem parte de “Toma, Figurão!”. Regravações diferentes de suas versões originais. Das vinte faixas, oito são inéditas. Alguns já conhecem a banda de trás pra frente – êpa – mas vale a pena mencionar o c(h)erne da coleção para ver o que falo – com trocadilho. Temos Maconha Grátis, Buraco do Jabor (versão pró-ativa), Mestre do Gandalf, Mongo, Campanha pela Moralização das Faculdades de Direito, Música Polisensorial do Tom Waits para Surdos e Travestibular, dentre outras.
Faltou uma releitura de “Primo Pobre do Kassin” Como diz Löis, é complicado, pois Kassin então poderia ser referência na Zona Sul apenas…
(Ele faz filme com o Andrucha,Eu tomo sopa em caldeirão de bruxa…Eu peço autógrafo prum cover da Xuxae ela ainda reclama!Ele ouve P.J., eu ouço Bia.Ele ouve Beck, eu ouço mim,Eu sou o primo pobre do Kassin!!)
Banda com “fá” clube, o Clã Destino. Fãs que presentearam Löis com um HD. Sim, um HD, pois quando ele morava num local onde o futon ficava em cima do tapete – e nada mais, houve um derr-amamento. De coca. E aí o HD ficou molhado. Um clã se reuniu. Os outros fanzocos que eram técnicos em com-puta-ação fizeram vaca pra dar um HD pro fela. Até hoje é seu HD. O antigo foi emoldurado. Ele é foda, fica lendo Ulysses do Joyce no original e é meio Guimarrosa e associativo. Isso é importante portanto. Pra ele, frisou o próprio. Mas frisa que nada é importante.
Mas o que seria a banda? Uma doença dodecafônica? Afônica? Cafônica? Nerds malucos desconexos? Nerd é o caralho. O Zé Felipe é foda e tá mandando um baixo gordo da porra, ágil no fraseado. A banda é a coisa sinfônica mais punk que existe. Nenhum underground do mundo chegou nas entranhas, na profundeza do atonalismo, non-sense e chulice como essa aglutinação de seres humanos sitos aqui no balneário imundo. Löis treina paradas de polirritmia no balançar dos ônibus circulares. Onde ele pode entrar vocalizando meio tom adiante ou desrespeitando as colcheias. E olhando bundas alheias. Pois assim cria as letras. Um ouvinte taxou uma canção de “disgusting” (sic). Chique paca.
Ou então ele cria letras após reunião de con-domínio de prédio. Em uma entrevista concedida anteriormente a André Mansur, Löis toca no outro ponto crítico da banda, que é anti-cult quase. Some mesmo como um Zumbi, mas poderia estar gazilionária pelo talento. Porém escolhe o deboche de propósito. Banda que deve ter apenas um cartão de Natal sob a árvore, comprada no Saara, e este deve ter sido enviado por seu contador.
“…Acho que a gente ainda tinha uma certa pureza, ainda era uma coisa de início da década de 90. Saiu uma matéria no JB com depoimento do Arrigo Barnabé falando que já tinha ouvido a gente e que achava muito bom, mas que talvez a gente não fosse tão reconhecido porque já viemos em uma época em que se quebrou tudo o que já tinha pra se quebrar….”
Quando indagado sobre a coisa mais bizarra que aconteceu com essa banda, que é a mais bizarra do planeta para algumas pessoas, ele conta a história: “… Uma vez eu cheguei numa garota muito alta, do tipo que gosto, num show em Ubá. Ela me disse ‘você com essa banda não pega ninguém’.”
O Löis tem seu trabalho solo no MySpace – não o meu – dele. Apresentei a um músico experiente e ele disse que foi a melhor coisa que ouviu feita em território nacional em 2008. Não é pouca coisa. São vinte mil referências por minuto sem soar derivativo. Tem letra finlandesa.
Peço uma explicação a Löis para uma de suas faixas solo:
“… A maior influência consciente para a äly Setä foram os dois discos do Yes que eu estava ouvindo direto nesse período: Tormato e Drama. Só que os arranjos complexos de voz eu transferi para os sopros… pode ver quando a Maila canta ‘pydetaan äly setä…’ o baixo está querendo ser Chris Squire, numa linha meio ‘Does it Really Happen’ (e por outro lado soou meio ‘Propaganda’, aquela banda dos anos 80, e eu botei um eco na voz dela pra lembrar mais)! Outra coisa: O início eu vi que estava parecendo um pouco com o início da ‘Pictures of a City’ do King Crimson, com um sax solo tocando algo na linha do solo da Starless no Red, e fiquei feliz com isso. É claro que a gente mostra muito mais influências do que imagina. Aquela parte do meio em que a voz fica falando ‘miksi uskoisin sinuun?’ tem a maior influência dos arranjos do Gentle Giant, como a parte do solo de guitarra maluco com falas entrecortadas da ‘Interview’…”
Isso é um Zumbi transformista. Suas preocupações individuais. Na banda e no palco tem atonalidade e palavrão pra caralho, uma postura infantilóide e debilóide mas que apenas faz rir e muito. Desligada a razão da tomada, voltamos ao mundo cão e normal. Era banda pra jogar São Paulo no joelho (de porco). Prato feito para levar o carioquismo pra capetal do capeta-lismo nacional?
”…Sim, a nossa maior ambição é fazer shows em São Paulo, porque deu pra perceber que há muita gente lá que gosta da gente. Se isso é cair na estrada, então claro que queremos! Acho que o apelo de letras perde um pouco para a gente fazer o mesmo na Europa, a não ser que excursionemos apenas em Portugal e nas Ilhas Canárias…”
Essa dicotomia é mais incrível pois vemos a acessibilidade e “normalidade” dos integrantes. São nóis na fita. Nada de pose. Muita cordialidade, sapiência e apenas colhão de mamute para a parte performática. Que faz parte do irreal e do imaginário. Nada de roupa da moda, cabeleira e coisa e tal. No fim, a banda mesmo se descreve, e o que (não) vem fazendo na cena cultural carioca. O Zumbi mesmo criou “Deficiente Emocional” e “Eficiente Emocional”. O ouvinte pode escolher a canção que quiser. Mas sempre vai se identificar um pouco com ambas. Aí fica imortal. Vira zumbi…
Se quiser ser Eficiente…. Com a palavra o Zumbi do Mato…
“…Eu nunca perdi o talbebo e não passo malNão me ajuda, sai pra láEu estou muito bem assimNão mexe, senão estraga
Está tudo ótimo comigo!
Eu acho graça nessas pessoasque ficam se sentindo malEsse negócio de ‘problemas afetivos’é desculpa para incompetência
Comigo não tem nada disso!
Eu estou sempre relaxadoolhos brilhantes, coluna ereta,respiração profunda
Não entrego minha granapara engordar analistagasto tudo com guloseimase nunca acho que estou gordo
Não me ajuda, sai pra láEu estou muito bem assimnão mexe senão estraga
Está tudo ótimo comigo!
O mundo é um filme do Woody Allen pra mim
E é muito divertido veresses feios, deprimidos, de mau-hálito…tentando azarar a MINHA mulherEla fica deprê com isso, imagina
TODO MUNDO TEM MEDO DE BRIGAR COMIGOPORQUE SABEM QUE EU NUNCA VOU MORRER
Eu não faço dívidas com neguinho do pócheiro e nunca matei a minha vóQuando perco o trem, tem sempreum desesperado que perdeu há mais tempopra eu me divertir
A sua inveja é a velocidade do meu sucessoNão me ajuda, sai pra lá que eu estou muitobem assim
não mexe senão estragaEstá tudo ótimo comigo
Nas menores coisas que eu façotem algo pra eu me maravilhar
Adoro aprendermas, tudo o que levoumas três linhas lendodescubro que já sabia
Minha coleção de Lair Ribeiro de pelúcia é grandee você precisa ver o tamanho da minha glande
EU SOU O FUTURO DO BRASIL!”
Pois estamos mortos. A banda é Zumbi, as taxas de juro são zumbi e o dito cujo já tem até feriado. Zumbi do Mato não é o futuro e sim o presente do Brasil. Presente de Natal.

Esse post foi publicado de domingo, 21 de dezembro de 2008 às 12:59, e arquivado em BLOG, Música. Você pode acompanhar os comentários desse post através do feed RSS 2.0. Você pode comentar ou mandar um trackback do seu site pra cá.
7 comentários para “Valeu, Zumbi”
Löis Lancaster disse: 23 de dezembro de 2008 às 10:51
Valeu, Fernando!Se ficou Gonzo ou não pergunta pra Cecília Gianetti. Mas que ficou foda eu mesmo posso responder! Parabéns! Só tenho um reparo a fazer: não sou líder coisíssima nenhuma! Ninguém me escuta naquela banda - ainda bem! Abração do Löis.
Zé Pereira disse: 23 de dezembro de 2008 às 11:12
“Maconha grátis” é pra dançar o pogo, o cancan e a balalaica!
gustavo disse: 23 de dezembro de 2008 às 11:37
opa! gostei da matéria! valeu zé!gustavo (teclado zumbi)
Nelson dos "Gonçalves" disse: 23 de dezembro de 2008 às 13:58
É, minhas orelhas e meus olhos gostam dos Zumbis, não sei se é pq eu tmb não morro e se tmb não durmo, um Zumbi posso ser eu e minha cadela suzy levinson e meus 3 porquinhos sujos que gostam de beber e falar besteira com o Zé Felipe.
Mackack! disse: 23 de dezembro de 2008 às 18:53
Queria conhece-los. Será que iam gostar de mim?
Renato Pittas disse: 24 de dezembro de 2008 às 12:40
Parabéns, um texto extra-ordinário sobre uma banda extra-ordinária!
Vinícius Pedro disse: 24 de dezembro de 2008 às 17:40
Rooock!
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