Friday, July 03, 2009

 

Carta Aberta ao Governador


BLOG, Papo dez
Por Fernando Carneiro
Fala Serginho,

Ora, no país do “Homem Cordial” de Sergio Buarque de Holanda, e de seu companheiro de legenda (Seu. Não do seu homônimo, Pai de Francisco), Ribamar do Maranhão, eu pelo menos tenho o direito de te chamar assim, né seu vascaíno sacana? Claro que foi o Ribamar do Maranhão que falou, ao discursar uma vez no Congresso americano, sobre a tal da “liturgia do cargo”, que nos faz separar a pessoa do personagem e tratar os dignitários no genuflexo. Eu vi aliás o Presidente do Senado discursando no Congressso Americano, lá do alto da galeria, convidado especial de Jimmy Malloy, que tinha um cargo curioso. “Doorkeeper of the House” seria o honorífico de “porteiro da casa”, mas tratava-se apenas do diminuto irlandês que bradava a entrada do presidente ou de outros ilustres que adentravam o parlatório. Isso tudo para dizer que eu devia te chamar de senhor governador, apesar de não te ver há tempos. Mas não faria isso nem fornicando.

Aliás… Bem, deixa prá lá. Só ajoelho em locais sagrados, na hora de rezar. Somente para coisas metafísicas ou para a hora do lanche. Fora isso, tou fora.

Isso não importa. Temos amigos em comum e você sempre foi carinhoso e pergunta por mim. Eu estive fora muito tempo como você sabe. Continuo por fora (como você pode constatar), numa órbita pessoal e intransferível e, a essa altura, eu vou morrer assim. Curiosamente, estava no país que mantinha oligarquias que promoviam desigualdades como a nossa. Mas lá mesmo se pratica uma coisa mais igualitária. Gozado. Não tem genuflexo a não ser na hora de rezar. Nem monarquia ou pseudo-aristocracia. Tem ignorantes, como aqui, essa coisa que Nélson Rodrigues invejava por ser das únicas que se sabia ser eterna.

Bom meu caro, um dia a gente se vê e bota o papo em dia, aquele que começou lá na sétima série. Nunca mais te procurei pois você tem mais o que fazer e está ocupado e eu também. Não quero pedir nada e nada tenho a oferecer. A não ser a boa conversa afável, com boas risadas, fazendo troça de outrem, como manda o figurino. Obrigado por apartar algumas de minhas brigas, eu ia quebrando o meu pulso na marginália infanto-juvenil.

Você foi pra vida do parlatório. Eu preferi ficar mudo. Parabéns aí pelo sucesso. Mas queria escrever essa nota rápida pra dizer que, por questões profissionais, fiquei em recinto fechado com estrangeiros, ainda mais em São Paulo. Por precaução, depois de dias sem melhora de febre e gripe, fui numa de suas UPAs verificar se estava com a peste suína. Não sei se foi sua criação. A UPA. Ou da sua criatura que é pretérito mais que prefeito. Mas não vou dar a César o que não é de César. Nem fornicando.

Me parece que as UPAs foram sua cria, não é mesmo? Se não foi, pega o copyright logo e as mantenha assim, pois vai dar dividendo eleitoral, ao mesmo tempo em que a coisa é boa, faz bem ao povo. Dividendo eleitoral e o bem do povo nem sempre andam de mãos dadas.

As UPAs, esses postos de atendimento de emergência, desprovam Santo Agostinho e o conceito do pecado original. Assim como o metrô. Se algo nasce limpo, com regras, normas de conduta, de funcionamento e coisa e tal, se não deixarem a coisa desandar e degenerar, permanece sem pecado concebida.

Aqui entre as biroscas ambulatoriais e os hospitais de campanha de guerra, temos a UPA. Você deveria colocar umas quatro em cada bairro. O preço não pode ser exorbitante. Fala com o Joaquim na sua pasta da bufunfa, mas dá pra remanejar e fazer mais UPA. E aproveita e derruba as biroscas ambulatoriais e cria uma nova, tipo de Santo Agostinho pra Tomás de Aquino. Passa a bola no meio de campo e cria posto médico avançado e batiza de SIM, Saúde Inteligente e Maravilhosa. Fazendo uma abordagem holística para todos e dando vacina a rodo, mesclando o que há de melhor de técnicas javanesas, hindus (o povo viu na novela), uruguaias e animistas com a última moda preconizada pelo Cedars-Sinai e o Lancet. Vai ser bom.

Minha experiência na UPA foi excelente. Tratamento melhor que se eu tivesse usado meu cartão de saúde e mofado na emergência de um hospital particular. A triagem foi ótima e como se reza na cartilha da epidemiologia, através do afunilamento de casos com perguntas diretas e sérias, feitas por uma equipe muito competente. Aumenta o salário deles. Fala com o Joaquim pra apertar daqui e dali. Ou isso é com a Duda e o Dudu? Não sei. Acho que é do Estado. Prefiro pensar assim. Estado no sentido avantajado da palavra. Você é que é amigo do “Cara”. Esse sim é cascudo. Excelente escolha política. Imaginou atrelar teu Campolina ao Geraldo? Vou te contar… Aliás ele não é médico? Manda ele pruma UPA.

Até os exames são controlados para o caso específico da peste suína. Muito bom. E um laboratório ganhou a licitação. Companhia aberta. Isso tudo contado por uma atendente. Só não fiquei boquiaberto pra não espalhar o vírus. Controle perfeito como deve ser feito, e não adianta riquinho botar banca pois não dá para dar uma de Ribamar. Vagabundo sempre apedreja quando tem que apedrejar. Eu só escrevo pra dizer que mandou bem nesse quesito Serginho. A coisa foi profissa. A minha foi a de Botafogo. Que não é Lagoa, Ipanema e Gávea. Quero saber como está o atendimento pelo Estado afora… Pode ter sido uma experiência pessoal apenas, vi que lá tinha uma paciente meio impaciente. Mas isso é normal. São 22 UPAs. Manda bala. Falta a UPA ambulatorial e a UPA educacional. Como disse os temas são interligados, vide Nélson Rodrigues supracitado.

Então é isso. Quando for jogar uma pelada me avisa. Convescote tou fora. Um abraço bro, até…

Wednesday, July 01, 2009

 

Vale da Vida



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