Tuesday, February 23, 2010

 

Dos Blocos de Carnaval

Eu confesso que meu coração oscila em relação a esse tema na proporção inversa ao meu termostato exterior e não interior. Por estar afastado do país por anos a fio, numa primeira vinda, até – com amigos – fundei um bloco que já está estabelecido e anda com pernas próprias. Antes do modismo, diga-se. A coisa foi se avolumando e realmente nesse verão a temperatura exacerbada não amainou os ânimos. Depois fui tocar em outro bloco. E em outro. Tocar é sendo muito auspicioso comigo mesmo. Mas enfim... Muitos foliões e as queixas do contra. E a molecada se divertindo. Samba, suor e cerveja. Muitos da minha idade tem o tal do "mixed feeling", pois foi um verão atípico, e realmente vários desses blocos ficaram impraticáveis. Já eram. Com vários sentidos, tenho que pontuar. Não há folião, e falei sobre isso com os mais tarimbados, que gostam de um carnaval onde todos estão quase desmaiando, desidratados, sem a infra de um Oktoberfest na Germânia mesmo, então fica complicado. Sim ouvir marchinhas do Sassaricando foi a melhor coisa do mundo, pois havia o tal do espaço livre e aberto. O que fazer com essa besta solta e Leviatã que foi desamarrado, eu não tenho a menor idéia. Teve gente que desistiu. Eu fui a dois blocos - sabendo que seriam não tão populares, evitando uma turba jovem e numerosa. Por questões pessoais, senão não estaria aqui no balneário desde Novembro e voltaria apenas em Abril. Idéia que cresce. Nada demais com isso, questão de gosto e idade. Mas eu acho que uma proposta alternativa a isso tudo seria – exatamente porque o Rio é a capital mundial do carnaval, já suplantando as mascheras venezianas e venusianas – fazer um carnaval de inverno junino com blocos. Para os que gostam. E seria uma forma de dobrar os emolumentos e vencimentos dos que vivem de tal.

Com o aquecimento global, o pré-carnaval carioca deveria virar um momento de reflexão pré-quaresma, sem mijões, choque de nada e correrias infinitas. Deve ser momento de ar condicionado mesmo. Eu esse ano posso dizer que fiquei completamente fora. Vi a coluna da Cecília Gianetti e vi o Viomar andando como um centurião doido bloco afora de sunga. Mas me passou uma impressão muito longe da alegria escancarada que se vê ou via. Resgataram para os jovens algo que não se resgata. Cada momento é único e ímpar. Estes, tão virtuais, largaram seus teclados para entrar no forno para serem cozinhados como lasanhas. A alegria é difusa e efême-r-a... Que, ou se, a carne vale, vale o quanto não se sabe. Nem sei se foliões possam calcular, mas podemos muito bem ficar sem a carne por toda uma vida, e aí ela não vale nada. No Rio esse ano, me cheirou tudo a esgotamento de um processo biológico. Melhor rever o que foi e partir para novas empreitadas..... O frescor da montanha, a não participação, e mormente respeitar os que não querem respeitar esse calendário imposto goela abaixo, pois vão-se calendas densas neste ardor tropical. Melhor o carnaval pró meio-ambiente (do qual nada entendo) para não sairmos na rua com a sensação de que vamos todos para o abate e sacrifício, esperando a ressurreição em quarenta – e não três – dias......

Explicação meio barroca, mas de pessoa já de meia-idade que deveria estar olhando as taxas de glicose e transaminases em vez de afundar o pé no acelera-dor. O registro não é a vivência de nada, talvez apenas a lembrança de algo que poderia não ter sido. Mas eu sou carioca e isso é o Rio, não poderia me pronunciar sobre Recife ou Salvador. Mas esse calendário todo me parece muito curioso.... Mas, para os que gostam, palmas....

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