Friday, December 22, 2006

 

Alexei por Cuenca e Cuenca por Alexei....

(Pra fechar, Alexei entrevista Cuenca com (a)"trois" perguntas e vice-versa...)


1- Alexei, que obra você gostaria de traduzir, por que gostaria e porque ainda não o fez?

Cuenca, eu só traduzo poesia, já traduzi prosa, mas me enche o saco e muita gente faria melhor. O que sonho em traduzir são as poesias completas de José Asunción Silva, poeta colombiano absolutamente genial, do século XIX, para mim o maior dos hispano-americanos, ao lado de Rúben Darío. Mas é um poeta de musicalidade sublime, quase intraduzível. Manuel Bandeira traduziu (e, dentro do possível, muito bem) o seu poema mais famoso, o célebre "Noturno", que às vezes julgo ser o mais belo poema da língua espanhola. Não meti as caras pela eterna falta de tempo, e certo receio.

2- Desde a sua carta aberta aos poetas brasileiros de 2002, houve algum avanço, a seu ver, em relação às questões levantadas por você?

Creio que houve, pela própria discussão. Somos um país de merda que dá homens geniais, mas é muito duro não ser burro no Brasil. Como dizia Baudelaire, todos os países só produzem seus grande homens a contragosto, mas aqui é demais.

3- Você lê seus contemporâneos? Cite alguns nomes, se possível.

De algum tempo para cá só leio poesia, não tenho tempo para ler ficção contemporânea, tenho trabalhado como um louco para pagar (mal) as minhas contas. Estou devendo essa. Quando fico louco para ler prosa vou para o meu Balzac, meu Céline, meu Proust, meu Kazantzakis, russos diversos, mas de fato não conheço quase nada da nossa ficção contemporânea. Há excelentes poetas da nova geração, um Carlos Newton Júnior, um Astier Basílio, um rapaz con sobrenome italiano, muito próximo estilisticamente do meu amigo Herberto Helder, que estreou recentemente (sou uma tragédia onomástica) com um posfácio do Paulo Henriques Brito, entre outros. (N.E. ele se refere ao Sorrentino)

ALEXEI

1- Cuenca, qual a importância do Rio no que V. escreve?

Como somos ambos cariocas, e no meu caso essa presença é bastante evidente, isso sempre me interessa.É muito grande. Não apenas como cenário, mas como argamassa do que escrevo. Acho que devo muito ao Rio e suas contraditórias referências que jamais irão me abandonar. Sou feito dessa matéria e, em muitos momentos, esboço movimentos de negação à cidade. Mas rejeitar o Rio seria como rejeitar a mim mesmo – o que constantemente faço, aliás.Vivemos, eu e a cidade, nessa gangorra.

2- Esta é uma pergunta besta e recorrente, mas todos nós temos uma pequena plêiade de grandes mortos, um altar pessoal com aqueles que nos são incontornáveis, que sempre nos voltam à memória, na nossa arte? Quais são os seus?

Não sou muito original. Pessoa, Machado, Borges, Sábato, Cortázar, Kafka, Dostoievski, Rimbaud.

3- Fumo charuto desde os 15 anos, sem vício nenhum e sem tragar, mas cada vez gosto mais dos "puros". Como acabei de saber que V. faz parte de confraria, fale algo sobre esse hábito, na minha opinião verdadeiramente filosófico.

Na verdade, aquela minha resposta era uma lorota, Alexei. Nunca coloquei um charuto na boca, embora goste muito de alimentar um narguilê que comprei no Cairo com fumos de maçã e rosas. Eu gosto da sensação da fumaça passeando pelo corpo e sempre saio do ritual mais leve do que entrei. Aliás, que falta faz um café egípcio no Rio. Se você souber de algum... Sou capaz de ficar horas no narguilê.

Monday, December 18, 2006

 

NÃO VAI TRABALHAR VAGABUNDO

(Por Rogerio Carneiro)

(Aqui falando o editor do blogue, confesso que estou cansado com a trabalheira que esse texto deu)

TRIPALLIUM NO TRABALHO

Atarefado em não fazer nada, quase não tive tempo de escrever estas ociosas linhas e só estou fazendo porque não estou trabalhando, caso contrário não seria possível me ocupar desta atividade lúdica.

Soube da indignação de um cidadão trabalhador, que por aqui passeia quando não está trabalhando, a respeito de matéria publicada neste conceituado devezenquandário. A matéria citada mostrava dados alarmantes sobre os perigos para a saúde de quem exerce tal atividade. É evidente que não falávamos em causa própria, pois aqui ninguém trabalha; nos preocupávamos com aqueles que ainda não se deram conta do risco que correm embreados por seus salários e com a ilusão da possibilidade de altas contas bancárias.

Trabalho não é, e nunca foi, uma coisa boa; a começar pela etimologia da palavra, que tem seu elemento de composição do latim Tripallium, instrumento de tortura sustentado por três estacas, que introduziam no ânus do tripaliare, fonte do português trabalhar, onde o trabalho é regressivo por razões semânticas: o suplício identificado com o trabalho. Que também tem como sinônimos; luta, faina, lida, esforço incomum. Talvez por isso, nenhuma religião promete um paraíso com trabalho; se prometessem, correriam o risco de ter apenas um seguidor; já a idealização do inferno tem a ver com a servidão, escravidão etc. Estamos fora!

Não desmereçam aqueles que vivem ociosamente, foram eles que, estimulados pela preguiça e pelo desejo de menor esforço, deram grande contribuição para a humanidade com inventos como: o elevador, pensado para quem não gostava de subir escadas; a caneta com carga de tinta – preguiça de ficar molhando a pena, como se fazia antigamente; o automóvel – preguiça de andar; cortador de grama – para não ter que ceifar campos enormes; máquina de lavar e tantas outras coisas que se não fossem inventadas por aqueles que usaram o ócio para criar, hoje em dia ninguém teria tempo para trabalhar.

Somos do Bem e gostamos de ficar no bem-bom. A luz do sol vem nos trazer calor, a luz da lua vem trazer amor. Tudo de graça a natureza dá. Para que quero eu trabalhar?

 

Deveras Nietzsche (Rogerio Carneiro)



 

Coroa Portuguesa (Rogerio Carneiro)



 

Fotopalavra (Rogerio Carneiro)





Saturday, December 16, 2006

 

Cristiano Romero no Valor

Os planos do governo para as estatais

O governo Lula prepara para o segundo mandato mudanças importantes na gestão das estatais. O plano é profissionalizar a administração dessas empresas, melhorar seus resultados e coordenar suas ações na execução de políticas públicas. O desafio é grande, mas a boa notícia é que, apresentada na segunda-feira pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, em reunião no Palácio do Planalto com a presença do presidente da República, a proposta foi bem recebida.

Apesar das privatizações ocorridas entre 1991 e 2001, o governo federal ainda possui 117 empresas estatais, além de outras 75 no exterior, estas subsidiárias da Petrobras e do Banco do Brasil (BB). Das 117, 87 são sociedades anônimas, mas apenas três têm ações efetivamente negociadas em bolsas de valores. Vinte e duas são empresas públicas (100% controladas pela União).

Em 2005, as estatais lucraram R$ 35,702 bilhões, mas 65% desse resultado foi gerado por apenas uma empresa - a Petrobras (R$ 23,450 bilhões). Houve prejuízos também - 45 empresas apresentaram resultados negativos, totalizando perda de R$ 1,540 bilhão. O que o governo quer fazer agora é introduzir, na gestão das suas empresas de capital aberto, conceitos modernos, como o de "governança corporativa", já adotados, com sucesso, em duas das estatais - a Petrobras e o BB.
"As empresas estatais devem gerar melhores resultados para a sociedade", reconhece o ministro Paulo Bernardo. Segundo ele, melhorar a gestão resultará em geração de mais recursos (dividendos) e investimentos; fortalecimento do mercado de capitais; oferta de produtos e serviços mais acessíveis à população; e maior eficácia na execução de políticas públicas.

Segundo o ministro, hoje não há uma coordenação entre as diretrizes do governo e as ações das estatais. Este é um velho drama vivido pelas diferentes administrações. Há estatais que, de tão poderosas e independentes, se dão ao luxo de não cumprir ordens do governo. Isso dificulta a implementação de políticas governamentais. Outro problema identificado pelo Planejamento: decisões importantes demoram a ser tomadas nas empresas estatais. Além disso, há dificuldades para avaliação do desempenho da gestão das empresas.

Para mudar esse quadro e aperfeiçoar as práticas de governança corporativa, o Ministério do Planejamento estabeleceu seis diretrizes. A primeira delas é aprimorar o marco legal de atuação das empresas. A segunda é organizar o Estado na função de acionista. A terceira é promover um tratamento equânime a todos os acionistas, públicos e privados. Outra diretriz importante é o governo se relacionar com os outros acionistas.

A quinta diretriz é tornar as empresas transparentes e obrigá-las a divulgar seus atos. A última é usar o Conselho de Administração como instância adequada para a melhoria da gestão. "Isso pode se tornar um marco divisório na forma de relação do acionista (no caso, o governo) com suas empresas, responde a uma expectativa da sociedade e do mercado acionário e acompanha as tendências internacionais", assinala Bernardo, acrescentando que os países da OCDE adotaram essas mesmas diretrizes para o funcionamento de suas estatais.

O plano do governo prevê a criação, por decreto, da CGPAR (Comissão Interministerial de Governança Corporativa e de Administração de Participações Societárias da União). A nova instância, que terá representantes do Planejamento, da Fazenda, da Casa Civil e dos ministérios aos quais estão vinculadas as estatais, coordenará as ações das empresas, decidirá e controlará a execução das diretrizes firmadas. Trata-se de um colegiado com autoridade política. "A proposta do Planejamento é menos intervencionista na gestão e mais eficaz na avaliação", observa o ministro Paulo Bernardo.

Em vez de privatização, governança corporativa

O governo quer também criar uma espécie de UTI para cuidar dos casos de estatais com graves desequilíbrios patrimoniais. Com isso, fará uma intervenção mais direta na gestão e nos planos de recuperação de ativos e liquidação das empresas problemáticas. A idéia, aqui, é usar a expertise da Emgea, empresa criada em 2001 para gerir a carteira de créditos podres, especialmente financiamentos habitacionais, da Caixa Econômica Federal .

De todas as tarefas previstas, apenas uma dependerá do crivo do Congresso Nacional: a elaboração dos estatutos jurídicos das estatais, como determina o artigo 173 da Constituição. Cada estatuto é uma lei e definirá questões como a função social das empresas, as formas de fiscalização, as regras de licitação e contratação de obras, a constituição e o funcionamento dos conselhos fiscal e de administração.

O ideal seria privatizar, senão todas, pelo menos a maioria das empresas estatais ainda existentes. O tema, no entanto, foi interditado, durante a campanha eleitoral, pelo candidato Lula. Decisiva para a vitória do presidente, a demonização das privatizações foi um desserviço ao país.
Empresas estatais são, em geral, menos eficientes que companhias privadas. As exceções, aqui ou alhures, não invalidam essa verdade. Estatais são alvos fáceis da sanha patrimonialista dos políticos. No primeiro mandato do governo Lula, como se sabe, não foi diferente, embora, claro, também não tenha sido propriamente uma novidade.
Do governo Collor à gestão Fernando Henrique Cardoso, a União vendeu dezenas de estatais, apurando receita de US$ 56,2 bilhões e transferindo ao setor privado dívidas no valor total de US$ 11,3 bilhões. No mesmo período, os Estados apuraram US$ 27,9 bilhões com suas privatizações e se livraram de dívida de US$ 6,7 bilhões. Àqueles que alegam que essa dinheirama, usada para o abatimento da dívida pública, não impediu que o país quebrasse em 1999 e mesmo em 2002, fica a pergunta: onde estaríamos hoje, sem aqueles recursos?

Na ausência das privatizações, o plano de Paulo Bernardo para as estatais é, sem dúvida, uma excelente alternativa.

Friday, December 15, 2006

 

Translate This Monsieur !!!

On Translation. . .Harry Mathews

This example of what we may call efficient translation suggests that one thing a translator should look for is a means of letting non-nominal meaning pass into the target language; and this in turn implies that fidelity in translation should apply not only to nominal meaning but to what may be provisionally called effect. A further implication is that reinvention rather than replication can best realize this aim. Let me cite some examples of my own experience in support of this view.
My first work with a French translator provided me with a basic apprenticeship in the practicalities of converting written English into French. (The work being translated was a novel appropriately called The Conversions.) At the start, whenever a difficulty arose, I would soon find a solution for it, only to be reluctantly but accurately informed that 'c'est une chose qu'on ne peut pas dire en français.''That's something you can't say in French.'2 I thus discovered that there are numerous rules of French composition not to be found in grammars, that in order to learn them it is advisable to attend twelve years in a French primary school and lycée, and that I would be well advised to restrict my own writing of French to such easily initiated forms as official letters. As for the actual rendering of the book, Claude Portail, my translator, was knowledgeable, sensitive, and talented enough; she was also, unfortunately, all too modest when confronted with a demanding author; and since I was stupidly obsessed with preserving the rhythm of my sentences and paragraphs (that is, their shape and phrasing), she did her utmost to oblige my usually unreasonable insistence, with results that were inevitably flawed.
How unreasonable my insistence was became glaringly evident on the very title page of my second novel, the first of two translated by Georges Perec. In English the book was called Tlooth, a meaningless, made-up word suggesting both a 'tooth' and the word 'truth' as a Chinaman or a Thai might pronounce it. Perec and I spent much time concocting analogous French words. Of his many ingenious inventions, I particularly remember Dentité; The invented word suggests 'toothness' as well as 'identity.' like the rest, it was discarded as being too literary, too clever. (The word tlooth, after all, sounds like nothing so much as a grunt.) One day Perec suggested as a title Les verts champs de moutarde de l'Afghanistan, words that end a chapter more or less half way through the novel; I did not approve; so he waited until I was safely on the other side of the Atlantic before announcing, after the book had been sent to the printer, that he and Geneviève Serreau had agreed that Les verts champs de moutarde de l'AfghanistanThe green mustard-fields of Afghanistan. was indeed the best possible title for the French edition.Harry Mathews from Fearful Symmetries

 

Mind the Matter, Mind your Head, Mind the F. Matter...

Minsky & Dennet Meet on the Brain

From Wired a great but short interview:

WIRED: What's wrong with the traditional approach to how the brain works?

Minsky: Physics gives us about five laws that explain almost everything. So we keep looking for those kinds of simple laws to apply to the brain. The idea in my new book is that you shouldn't be looking for a single explanation of how thinking works. Evolution has found hundreds of ways to do things, and when one of them fails, your mind switches to another. That's resourcefulness.

In The Emotion Machine, you argue that feelings result from switching on or off certain "mental resources."

Minsky: The traditional view of emotions is that they are something extra, like adding color to a black-and-white photograph. But to me, emotions are what happens when you remove other resources. Anger means you've turned off your social graces, you've turned off your cautiousness, you've turned off your long-range plans and most of your ambition, and you've turned on things that make you act more rapidly and less deeply. Recognizing this complexity adds dignity to the theory.

Dennett: Computer programmers have the luxury to create hierarchies of control. The systems, the subsystems, the sub-sub-subsystems are complete slaves. They never rebel. This gives you a model of the mind with the highest echelons of logic at the top. But if you think about a brain as a community of individually semiautonomous, even independently evolved agencies, as Marvin has, you realize that the agencies have to be browbeaten and they have to form alliances. Emotions aren't an add-on but rather the politics of the whole system.

So what would a machine that worked this way look like?

Dennett: Like us.

Minsky: A well-designed program that wouldn't be so hierarchical but more like a network with resources that make requests of other resources.

Dennett: The research world is going to be impatient with Marvin because they are eager for computational models that really work. Marvin is saying, "Wait a minute, let's work out some of the high-level architectural details in a way that's still very loose, very impressionistic. It's too early to build the big model."

Minsky: Actually, I could quarrel with that. I think the architecture described in The Emotion Machine is programmable. If I could afford to get three or four first-rate systems programmers, we could do it. You can get millions of dollars to drive a car through a desert, but you can't get money to try to do something that's more human.

Why is the idea of a thinking machine so compelling?

Minsky: I think there is a worldwide survival problem. As the population grows and people live longer, there won't be anybody to do the work. So there is an urgent need to make inexpensive mechanical people that are able to do all the things that moderately unskilled people do now.

Dennett: I don't find that very convincing, Marvin. I think we're interested in it for purely curious, scientific reasons. We want to know how we work.

Minsky: Or make machines that work better than us and can solve all the problems we wanted to but couldn't. As Hans Moravec used to say, "The machines will be us."

Dennett: Marvin, I have a slogan for you that came to mind while I was reading your book. I've used it myself as a paper title. "My body has a mind of its own, so what does it need me for?"

Minsky: [Laughs.] I once peeled a label off a London bus. It read: MIND YOUR HEAD.

 

Relato do Beato


Cônsul português em Newcastle (1875), Eça de Queirós escreveu suas Cartas de Inglaterra — que, naturalmente, eram sobre Portugal, com a lucidez que só a distância dá. Eu estou longíssimo de ser Eça, nunca serei nem um centésimo disso, meu alquebrado português carioca nunca se comparará ao seu cultivo luso-naturalista da ultima flor do Lácio. Tampouco sou desse tempo, tão diferente do nosso na para sempre perdida lentidão de seu fluir, mas ao menos tenho a vantagem de estar no mesmo espaço — isso pra quem acha que se pode passar duas vezes pelo mesmo Rio. Achei, assim, que podia escrever estes meus E-mails da Inglaterra — que, eventualmente, poderão versar sobre outras partes deste Reino, cada vez menos Unido, onde vim fazer um mestrado, ou mesmo outros reinos ou repúblicas do Velho Continente, dependendo de onde o sistema de transporte europeu-comunitário me levar. Como o leme da mente esta sempre atrás, então estamos sempre no mesmo barco, singrando sempre o mesmo mar. Mesmo quando o tédio ou o desespero nos levam a mudar de paisagem e de figura, vamos sempre pelas mesmas águas. De todo modo, e se o universo não for um círculo, seguimos adiante.

Acalorada polêmica no vibrante órgão da Universidade em que estou estudando, o javali (The Boar) sobre a China, o grande enigma desse nosso mundo supostamente globalizado, ou em vias de. Um estudante daqui esteve lá e desancou a sinoditadura, a censura em websites, a ausência de qualquer noção de democracia. Alguns dos muitíssimos estudantes mandarins (de longe, a maior comunidade alienígena desta briosa instituição educacional) partiram como Jack Chans furiosos em defesa antigo Império do Meio, como se realmente quisessem botar no meio do seu (isto é, dele, editor do jornal), brandindo seu inglês canhestro em zilhões de cartas desaforadas como nunchakus verbais. Receberam direito de resposta, mas levaram logo a tréplica na cara, que ficou ainda mais amassada do que já é. Nela, muitos pontos fortes, que revelam a difícil, senão impossível compatibilidade da cultura de Confúcio, Lao-Tzé e Mao Zedong com o Ocidente. Por exemplo, apesar de teoricamente socialistas, nunca socializam com estudantes de outros países. É a pura verdade. Em uma das minhas classes, com uns 40 alunos, eles são dez, sentam todos lado a lado e, talvez excessivamente acostumados a apenas ouvir a verdade oficial, não falam nunca. Isto irrita profundamente o professor, que espera e cobra participação de seus alunos, no que é atendido, normalmente, apenas pela minoria composta por este brasileiro (modestamente), um austríaco, um alemão e uma búlgara. Recentemente, perguntou aos chinas como defenderiam sua pátria se fosse instaurado um panel contra o governo chinês, por não atender, no processo de produção de seus automóveis para exportação, medidas ambientais determinadas pela Organização Mundial do Comércio. Nada agressivo, portanto: ele apenas queria que os fu-manchus participassem, frisando que painéis como este poderiam efetivamente ser instaurados como uma estratégia de combate norte-americana contra a maior eficiência da China para produzir carros baratos. Em seguida, respondendo a provocação, dois chinas falaram. Um que até então jamais abrira a boca iniciou, de repente, num inglês de fazer o bardo de nossa vizinha Stratford se revirar na cova, um inflamado discurso politico em defesa da pátria socialista. Admirei-lhe o esforco, mas o fato e que não respondeu a pergunta do professor, deixando de esgrimir qualquer argumento técnico.

Por que são tantos aqui, e tão defensivos? Por que nunca se misturam? De onde vem o dinheiro que os sustenta: são filhos dos novos milionários chineses ou espioes a servico do governo de Pequim? Muitas perguntas sem resposta. Outro dia me disseram que valorizam muito a educação, e esperam que um membro da família, uma vez hiperqualificado, venha a sustentar vários outros. Há pouco, na festa mais internacional a que ja fui, o aniversário do supramencionado austríaco, havia indianos, paquistaneses (que se abraçaram apesar de há pouco seus países quase terem jogado bombas atômicas um no outro), uma somali, uma saudita, os personagens europeus acima e outros sul-americanos além deste, mas nenhum falante nativo de mandarim, apesar de serem mais de 30% da turma. Quando nos dirigem a palavra, ainda que simpaticamente, em geral é pra tirar uma dúvida conosco. Não batem papo, não dão muita conversa, mudam de assunto quando perguntamos se é verdade que nas provincías mais pobres comem qualquer coisa que se move, de insetos a cachorros, o que acabamos fazendo até como resposta a sua postura renintentemente isolacionista. As estudantes chinesas, na deselegancia discreta de seus modelos de lojas de departamentos de Shenzhen ou Guangzhou, se vestem melhor que suas grunges colegas britanicas (o que é impressionante se se levar em conta a diferenca de renda per capita), e são bem mais femininas (o que não é grande vantagem, porque a inglesa media é machuda mesmo). Conseguem ser entrevistados por grandes firmas da city, ansiosas em fazer negocios (no bom sentido) com a China. Quem reclama da arrogante hegemonia da América protestante de hoje não perde por esperar o império dos mandarins, com seu passado longínquo glorioso e o outro, mais recente, do ressentimento pela humilhação a que foi submetida pelas potencias ocidentais e pela potencia asiatica hoje declinante, o Japão, que eles tanto odeiam pelo sofrimento que lhes infligiu na Segunda Guerra. A faculdade pensou em abrir um campus em Singapura, mas abortou o plano. Por que? Talvez porque, sorte nossa, ainda seja quase impossivel fazer negocios da China nesse pais quase tão inexpugnavel como sua Grande Muralha e tão misterioso aos olhos não-puxados dos ocidentais como seus ideogramas. A China é hoje o que o Brasil foi nos anos setenta — chavao das relaçoes internacionais. Sera o país do presente — um novo e amarelo Estados Unidos, hostil ao Ocidente —, ou continuara, como nos, para sempre o pais do futuro, outra grande impotencia mundial, deitado eternamente em berço esplendido depois de uma frustrada tentativa de ereção? So o tempo dira — ou calara. Na proxima coluna falarei do outro grande Imperio, fantasma da Guerra Fria que volta a nos assombrar — ou melhor, envenenar: a Russia.

Monday, December 11, 2006

 

Entrevista J.P. Cuenca


This guy is the shit, a young and superlative writer.. What he has to say is important and I hope it generates goodness...



Qual o seu principal projeto?

Envelhecer.

Em que casos você aconselha os cônjuges a colocarem a boca no trombone?

Caso desistam de instrumentos de sopro mais leves, como o trompete, o sax e, principalmente, a flauta doce.

Como são seus amigos advogados?

A turma é um estouro, Carneiro! De fundamental ajuda nos processos de calúnia que tenho contra mim, além de orientarem minha atuação no board das empresas. Nas horas de almoço, fumamos charuto num subsolo na Travessa do Ouvidor e uma vez por semana, na happy hour de quinta-feira, vamos a uma uísqueria na Buenos Aires, daquelas em que se veste roupão de toalha. Assistir a uns shows... Tudo muito artístico, claro. O pessoal das empresas é dez, Carneiro. Santos homens!

A população tem péssima imagem do administrador regional. Como mudar isso?

Trocando os óculos do populacho, é claro. Ao longo das décadas, o administrador regional é o mesmo, por mais que tenha diferentes nomes e rostos.

Há diferença entre assassinar adeptos de uma outra religião e ser morto pelo próprio guru?

Não, pois ambos são crimes de paixão. As paixões movem o homem, Carneiro. O problema é que a maioria delas são tristes... (P/ o garçom) Ô, amigo! Mais gelo nesse copo, sim?

O sacrifício faz parte da natureza do homem?

Certamente que sim. Especialmente o dos outros.

Quem deveria namorar a Marília Gabriela?

Torço para que se reconcilie com o Giane. Faziam um elegante casal.

Em lancamentos de livros você toma aquele Frascatti quente ou espera pra esticar depois?

Tem um pessoal que estica no banheiro das livrarias mesmo. Como não gosto, e tampouco bebo Frascatti, tento ficar careta. Mas é impossível porque o ar normalmente é irrespirável, e aí...

Friday, December 01, 2006

 

Entrevista Exclusiva Alexei Bueno


Alexei Bueno é considerado um dos maiores poetas vivos do Brasil na atualidade. Considerado por esse blogue. Um dos maiores poetas de nossa língua; pois isso de “poeta de geração” é de doer... E isso de um dos maiores também... Mas esse blogue aposta nele e em Rita Moutinho, autores de poemas bem construídos, com uma musicalidade opulenta, quase simbolistas.... Enfim, ou a obra perdura ou não. E falando de Alexei, trata-se de um patrício nada maurício, de uma pessoa que tentam definir mas não dá. Falta sempre um botão na sua casaca Armani. Gosta de pintar de azul a crina dos paulistas e lanha o lombo de quem passar na frente, amplo sentido. Aí uma entrevista tipo conversa jogada fora, retrato 3X4, remando numa balsa Guandu abaixo... Confessou não entender bem uma pergunta, o que já demonstra que a série de despretensiosas nano-entrevistas do Blogue-Blague já entrou em campo com o pé direito...

1 - Como você viu o ano de 2006 em termos de produção poética no Brasil em particular? Alguém novo te chamou a atenção?

Houve um livro de estréia muito interessante aqui no Rio, do Marcelo Sorrentino, um poeta muito próximo do estilo do meu amigo Herberto Hélder, portanto muito diferente de quase tudo que se faz no Brasil. No Nordeste, como sempre, muita gente interessante, e uma nova revista, de Pernambuco, intitulada "Crispim", da maior qualidade.

2 - E em relação a política cultural do atual governo, programas de leitura e editoriais da Biblioteca Nacional? Alguma sugestão, ou algo que poderia ser aperfeiçoado?

Francamente, não estou informado suficientemente das atividades nessa área, onde houve ações bastante importantes durante os governos FHC, figura sobre a qual sou insuspeito para fazer qualquer elogio, o mesmo aliás com o atual Mandatário Supremo da Nação. O orçamento do MINC é uma piada, e a questão do patrimônio histórico, para mim a eterna prioridade, pois é irrecuperável, está uma tragédia.

3 - O quadro geral de aproximação dos países lusófonos, através de tentativas como a da nova editora do Agualusa parece ter ganho um certo espaço na mídia; você é cético em relação a esse aprofundamento, ou crê que há algo promissor em termos de um maior conhecimento mútuo entre leitores d'além mar e os daqui?

Até meados do século XX a ligação literária entre Brasil e Portugal andou muito bem, e nas então colônias a influência da nossa literatura era avassaladora. Parece-me que a coisa está melhorando de fato, com maior visibilidade dos africanos e o retorno de autores portugueses à primeira linha da ficção lida por aqui. Em poesia, como sempre, tudo é sempre muito mais lento.

4 - Se você fosse para uma metrópole povoada quem você levaria e deixaria por lá para sempre?

Não entendi bem o sentido da pergunta, mas se eu pudesse levar alguém para qualquer lugar, metrópole ou não, eu levaria a Isabelle Adjani, a Laetitia Casta, a Monica Bellucci, a Carmen Electra, umas poucas mais dessa qualidade, e não deixaria ninguém por lá...

5 - Se tivesse que levar alguém pro Santo Sepulcro? Quem seria o convidado?

Levaria minha mãe, muito boa católica, como eu.

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