Friday, December 22, 2006

 

Alexei por Cuenca e Cuenca por Alexei....

(Pra fechar, Alexei entrevista Cuenca com (a)"trois" perguntas e vice-versa...)


1- Alexei, que obra você gostaria de traduzir, por que gostaria e porque ainda não o fez?

Cuenca, eu só traduzo poesia, já traduzi prosa, mas me enche o saco e muita gente faria melhor. O que sonho em traduzir são as poesias completas de José Asunción Silva, poeta colombiano absolutamente genial, do século XIX, para mim o maior dos hispano-americanos, ao lado de Rúben Darío. Mas é um poeta de musicalidade sublime, quase intraduzível. Manuel Bandeira traduziu (e, dentro do possível, muito bem) o seu poema mais famoso, o célebre "Noturno", que às vezes julgo ser o mais belo poema da língua espanhola. Não meti as caras pela eterna falta de tempo, e certo receio.

2- Desde a sua carta aberta aos poetas brasileiros de 2002, houve algum avanço, a seu ver, em relação às questões levantadas por você?

Creio que houve, pela própria discussão. Somos um país de merda que dá homens geniais, mas é muito duro não ser burro no Brasil. Como dizia Baudelaire, todos os países só produzem seus grande homens a contragosto, mas aqui é demais.

3- Você lê seus contemporâneos? Cite alguns nomes, se possível.

De algum tempo para cá só leio poesia, não tenho tempo para ler ficção contemporânea, tenho trabalhado como um louco para pagar (mal) as minhas contas. Estou devendo essa. Quando fico louco para ler prosa vou para o meu Balzac, meu Céline, meu Proust, meu Kazantzakis, russos diversos, mas de fato não conheço quase nada da nossa ficção contemporânea. Há excelentes poetas da nova geração, um Carlos Newton Júnior, um Astier Basílio, um rapaz con sobrenome italiano, muito próximo estilisticamente do meu amigo Herberto Helder, que estreou recentemente (sou uma tragédia onomástica) com um posfácio do Paulo Henriques Brito, entre outros. (N.E. ele se refere ao Sorrentino)

ALEXEI

1- Cuenca, qual a importância do Rio no que V. escreve?

Como somos ambos cariocas, e no meu caso essa presença é bastante evidente, isso sempre me interessa.É muito grande. Não apenas como cenário, mas como argamassa do que escrevo. Acho que devo muito ao Rio e suas contraditórias referências que jamais irão me abandonar. Sou feito dessa matéria e, em muitos momentos, esboço movimentos de negação à cidade. Mas rejeitar o Rio seria como rejeitar a mim mesmo – o que constantemente faço, aliás.Vivemos, eu e a cidade, nessa gangorra.

2- Esta é uma pergunta besta e recorrente, mas todos nós temos uma pequena plêiade de grandes mortos, um altar pessoal com aqueles que nos são incontornáveis, que sempre nos voltam à memória, na nossa arte? Quais são os seus?

Não sou muito original. Pessoa, Machado, Borges, Sábato, Cortázar, Kafka, Dostoievski, Rimbaud.

3- Fumo charuto desde os 15 anos, sem vício nenhum e sem tragar, mas cada vez gosto mais dos "puros". Como acabei de saber que V. faz parte de confraria, fale algo sobre esse hábito, na minha opinião verdadeiramente filosófico.

Na verdade, aquela minha resposta era uma lorota, Alexei. Nunca coloquei um charuto na boca, embora goste muito de alimentar um narguilê que comprei no Cairo com fumos de maçã e rosas. Eu gosto da sensação da fumaça passeando pelo corpo e sempre saio do ritual mais leve do que entrei. Aliás, que falta faz um café egípcio no Rio. Se você souber de algum... Sou capaz de ficar horas no narguilê.

Comments:
Sorrentino ou Tolentino (Bruno)?
 
Tem um restaurante egípcio com narguilê e tudo no Downtown.
 
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