Friday, December 21, 2007

 

Igual

Isso é igualzinho, sem tirar nem por, ao budismo e às abordagens vedânticas sobre religião.

“O que deve estar no coração de cada cristão é a unidade em Cristo que nos torna um corpo, um espírito, pois Deus é Pai de todos” (F.F. Surian)

Wednesday, December 19, 2007

 

Machado

Soneto de Natal

Machado de Assis

Um homem, — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço no Nazareno,
— Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno

As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"

Thursday, December 13, 2007

 

Notecom

A definição básica de como recursos escassos são alocados, fundação da economia, é uma idéia de Lionel Robbins com sua definição de economia como “a relação entre fins e meios que têm usos alternativos”. Realmente a escassez torna-se acentuada em certos aspectos e menos em outros, com o advento da reciclagem de materiais etc... Temos então o “paradoxo do diamante” de Mark Skousen, economista um tanto quanto lunático, dado que suas idéias são mais libertárias que as de qualquer libertário que já viveu. Mas vá lá. Realmente o mundo não tem uma escassez de diamantes, há vários, em várias lojas e são encontrados facilmente. Poucos compram pela precificação, mas que eles estão ali em vitrines, lá isso é verdade. A demanda é menor que a oferta no caso.

Mormente, se existem esses mínimos paradoxos no qual se tocam em vacas sagradas, caras tanto a desenvolvimentistas (novo nome para a esquerda ou intervencionistas, ou mesmo keynesianos aloprados) como a liberais, temos que ver a aferição da geração de renda no nível macro. Daí poderíamos observar o custo dessa produção, ou seja, em vez de um Produto Interno Bruto, teríamos um índice nacional bruto de despesas (Gross National Outlays). Um estudo do próprio Skousen avalia que em 1980 um PIB americano de U$3 trilhões saltaria para U$5.9 trilhões com a nova “medida”.

Isso implica que antes de tomarmos qualquer decisão, temos que ver o custo. Ou seja, a alavancagem tão propalada, que gera a crise do subprime hoje em dia, já demonstra que é regra há antanhos. O custo para produzir os ativos já ultrapassaram os mesmos há anos. Então mais uma vaca sagrada vai para o brejo. Melhor olhar para a margem operacional (e isso vale para governos) do que para preços relativos.

Então nem sempre a verdade propalada é o que é. Aqui podemos falar do papel de bancos centrais, ora vilipendiados, ora exaltados. Há economistas que eximem o choque do petróleo como causador do difícil período econômico vivido pelo mundo nos anos 70. Michael David Bordo, em seu estudo, demonstra que houve uma tendência deflacionária nos EUA e Grã-Bretanha de 1800 a 1913. E que desde a instituição da idéia de bancos centrais no início do século XX a situação se inverteu. A expansão da base monetária, via bancos centrais independentes ou não, é uma constante em momentos de crise. Talvez apenas alguns economistas mais escolados saibam, mas Hayek era total opositor da idéia de bancos centrais, creditando os ciclos econômicos, algo visto como tão natural como o sol nascendo no leste, aos mesmos. Ele propunha a “desnacionalização” e competição até na emissão de dinheiro.

Portanto, no âmbito global pode-se inferir que o choque de petróleo da Opep ocorreu após uma grande expansão monetária, ou seja o problema estava mais no lado da demanda. Tanto é que quando Paul Volcker promoveu o já famoso arrocho nos anos 70 o preço do petróleo despencou de forma espetacular. Que sirva de lição atual para que tiremos a fúria e som de se regular toda a economia via política monetária apenas, esquecendo-nos da política fiscal, esta, coitada, escamoteada no armário.


Hagiografando Giambiagi…

Não importa se o que houve no Ipea recentemente, com o afastamento de quatro economistas lotados na casa, foi expurgo ideológico ou apenas uma solução por “métodos administrativos”, codinome para ação gerencial que já daria frios na espinha e revelaria a carta na manga dos jogadores mandatários. A expressão foi usada pelos próprios como defesa do ato. Este, aliás, falho – latu sensu. Freud vive.

O que vale a pena é ver o potencial de cada um dos envolvidos, já que o serviço público se fia na meritocracia e consurso. Por essa ótica, mesmo deixando a ideologia de lado, seria difícil que os atuais mandatários do Ipea entrassem por concurso. Um dos que saíram seria aceito na máquina pública com louvor. Somente por comparar o que dizia o empregado e o empregador.

As quarto primeiras citações na apresentação do último livro de Fábio Giambiagi são exatamente de Montesquieu, Bette Middler, Ralph Waldo Emerson e Keynes. Nenhuma novidade para a obra de um economista, stricto sensu. Mas a frase mais reveladora e relevante advém da incongruente citação da atriz e chanteuse americana que nos diz que quando é 3 da tarde em Nova Iorque é 1938 em Londres, ou, na paráfrase do autor, é 1950 no Brasil. Vale até ver o que ele tirou do escaninho dos supracitados, onde lemos que o que é verdade numa época é erro noutra, que um partido político é apenas um eufemismo elegante para poupar um homem do vexame de pensar, e que o tempo é o melhor professor mas infelizmente mata todos seus alunos. Nenhuma dialética marxista resistiria. Ironicamente são idéias minoritárias no Brasil atual do ufanismo tosco. Como vemos, só pela introdução já se aprovaria as idéias do brilhante economista e seu posto governamental onde quisesse....

Sunday, December 09, 2007

 

PO-LEASE.....

Pra quem não diria nada do Andy Summers, diria que roubou o show. Driven to Tears foi maravilhoso, solo atrás, não pentatônico, behind the beat, estragou o ovo, com overdrive e tudo mais, mostrou que tocar com off-penta é melhor.... Mostrou que todo guitarrista simplesmente deve seguir uma máxima: morrer na contramão atrapalhando o tráfico.... Ou o tráfego: náutico, não importa, no contexto de escalas é tudo igual........ E o Police é minha Polícia do meu coração desde quando eu andava em Kings Road...... Avoé..... Andy, errado, HarpoMarx da banda..... Abaixo o bonitão e a boniteza........

Thursday, December 06, 2007

 

Amor e Cia. Ltda.

(Meu comentário sobre o texto:

Curioso, pois esse é um livro muito marcante na cultura anglo-saxã, tipo rito de passagem, um pouco além do Pequeno Príncipe nas nossas hostes. Falo do “Surprised by Joy” do C.S. Lewis, Ele sempre tem um efeito de mudar a rota das pessoas. Tipo o Apanhador nos Campos de Centeio, Salinger, que aqui não faz o menor sentido, mas pra quem respira e vive nos EUA é incrível a força, não fica datado. Esse filme aí com o Hopkins é forte mas nem tanto. E eu acho que o resenhista foi um pouco raso, quer dizer legal, mas é muito mais que isso. Que o amor traz com ele o potencial da dor é inegável. Por isso o tal do Dharma no budismo, no fim escolhemos um caminho e temos que ficar com ele, o sassaricar é complicado, sente-se a liberdade, o "poder" respirar - e aqui não falo afetivamente, e sim estritamente no campo espiritual, mas pra você atingir uma maior concentração temos que ter uma disciplina pétrea e férrea.

Então voltando ao amor, construímos a memória afetiva, mas no sentimento da entrega se expurgam dissabores, passamos por cima das expectativas que nem deviam existir pois se refere ao que projetamos no outro. E o outro ou outra, coitados, tão lá vivendo sua vida, com as inclinações impostas por seus corações, suas fraquezas, demandas da vida. Eu acho que aí temos barreiras na realização de um desejo pleno e entram as meia-travas. Muito complicado mesmo mas a gente tem que fingir que nao é. A chave é se aceitar, aceitar os outros, e reduzir expectativas. Muitas vezes uma pessoa reduz expectativas e não quer dizer que fique mais calma ou feliz, mas curva-se à uma realidade... O C.S. Lewis, tão ascético, acabou tendo uma história de vida paradigmática, que nem mesmo a melhor ficção esboçaria... E diferente de Chesterton, a vida trouxe uma visão distinta das coisas.... Falo desses escritores com forte pendor teológico. Mas pra finalizar, é muito hegeliano o discurso de que a dor e felicidade são condições de ambas, pois é dizer dialeticamente que pra provar a existência de tal condição, precisamos saber se existe a negação de tal, pra provar a existência. Velha armadilha epistemológica... Mas que não leva a lugar nenhum... E ninguém quer dor... E, de pessoas com um mínimo de retidão espiritual e moral, mormente, elas não querem dor pra ninguém como objetivo de vida. Conseguir isso é não ter dor nenhuma. Aí é só amor. Lá no Variedades do William James tem a passagem mais marcante disso que nunca esqueci: do futuro Buda encarnado como lebre que pula no fogo para se auto-cozinhar para servir de refeição para um mendigo. Com o detalhe de que antes disso se sacudiu três vezes para se certificar de que nenhum inseto que carregava na penugem morreria no processo.)


FSP

São Paulo, quarta-feira, 05 de dezembro de 2007


JOÃO PEREIRA COUTINHO

A definição do amor


A dor que sentimos pelas pessoas que amamos faz parte da felicidade que tivemos. Ambas são condição de ambas


CONHECI C.S. Lewis aos 9 anos. É a idade certa para conhecer Lewis, de preferência se estivermos numa cama de hospital. As noites são longas, as noites são solitárias. Mas quando o livro é "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa", a única coisa a lamentar são as chegadas das manhãs.Conhecem a história? Não falo do livro, falo de Lewis. O livro é conhecido: Edmund, Lucy, Peter e Susan descobrem certo dia que o fundo de um velho guarda-roupa não é o fundo de um velho guarda-roupa. É passagem para um outro mundo. Narnia, eis o nome desse mundo, e em Narnia me perdi com eles aos 9, aos 10, aos 11.Só mais tarde descobri a vida do autor: Clive Staples Lewis, nascido em Belfast, educado em Oxford, professor de literatura medieval e renascentista. Amigo de Tolkien. Pregador cristão, depois de uma conversão ao catolicismo (sim, como Graham Greene ou Evelyn Waugh), experiência epifânica que ele conta em "Surprised by Joy". Morte em 1963.Mas a história de Lewis não acaba aqui. A verdadeira história aconteceu nos últimos anos de vida, quando o celibatário escritor foi surpreendido por uma outra "Joy", não em espírito mas em carne e osso. Joy Gresham, uma leitora americana, cruza o Atlântico para fugir de um casamento arruinado. Traz o filho, que traz os livros para Lewis assinar. Conhecem-se. Tornam-se amigos. E casam por conveniência: Joy necessita da cidadania britânica para ficar no país, Lewis acede ao pedido. Tudo em segredo. Subitamente, Joy adoece. Grave, gravemente. Lewis sabe que a vai perder. E nessa certeza sabe também, pela primeira vez, que está profundamente apaixonado por ela. Casam novamente. Desta vez, aos olhos de Deus e dos outros. Joy parte pouco depois.Essa história de amor tardio subiu aos palcos de Londres e estará em cena até 15 de dezembro. Se passarem pela cidade, não hesitem: Charles Dance (Lewis) e Janie Dee (Joy) retomam "Shadowlands", a notável peça de William Nicholson que Anthony Hopkins e Debra Winger já ofereceram em filme homônimo. Existem diferenças, claro. A peça tem o humor anárquico que o filme ignora, ou desconhece. O filme tem o dramatismo sóbrio que só os grandes planos permitem. Mas no palco ou na tela, a trágica ironia de Lewis é a mesma: a ironia de um pregador que disserta teoricamente sobre a importância salvífica do sofrimento; até o dia em que a teoria regressa para o testar com a mais brutal das experiências humanas. E com uma pergunta simples mas fundamental: por que amar se perder dói tanto?A resposta, a única possível, é dada por Joy na peça, quando a morte assombra um breve momento de intimidade terrena. "A felicidade de agora será parte da dor de então".Precisamente. E eu, mudo e parado na platéia do Wyndham's Theatre, sorrio por dentro e agradeço novamente. Na infância, Lewis oferece o encantamento de um outro mundo; na idade adulta, oferece a única certeza deste. A dor que sentimos pelas pessoas que amamos faz parte da felicidade que tivemos. Porque ambas são a condição de ambas.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Free Web Site Counter
Free Counter