Tuesday, October 24, 2006

 

Translating the Most Important...

On Translation and García Márquez

By Edith Grossman
Speech delivered at the 2003 PEN Tribute to Gabriel García Márquez, held in New York City on November 5, 2003.


Ralph Maheim, the great translator from the German, compared the translator to an actor who speaks as the author would if the author spoke English. A sophisticated and provocative analogy, for it takes into account something that is not always as clear as it should be, at least to many reviewers, whose highest endorsement for a translation tends to be that it is “seamless.” If I may attempt to translate the damnation barely concealed in their faint praise, I think they really mean that the translator has, with proper humility, made herself or himself “invisible,” a punishing goal that is desirable only if we are held personally responsible for the Tower of Babel and all its dire consequences for our species.
Fidelity is surely our highest aim, but a translation is not made with tracing paper. It is an act of critical interpretation. Let me insist on the obvious: Languages trail immense, individual histories behind them, and no two languages, with all their accretions of tradition and culture, ever dovetail perfectly. They can be linked by translation, as a photograph can link movement and stasis, but it is disingenuous to assume that either translation or photography, or acting for that matter, are representational in any narrow sense of the term. Fidelity is our noble purpose, but it does not have much, if anything, to do with what is called literal meaning. A translation can be faithful to tone and intention, to meaning. It can rarely be faithful to words or syntax, for these are peculiar to specific languages and are not transferable.
To recreate significance for a new set of readers, translators must make the effort to enter the mind of the first author through the gateway of the text – to see the world trough another person’s eyes and translate the linguistic perception of that world into another language. The better the original writing, the more exciting and challenging the process is. You can be sure that the attempt to enter the mind of García Márquez is as exciting and challenging as the work of a translator gets.
His most recent book, Living to Tell the Tale, is the first volume of a projected three-volume memoir, though I am sure there will be those who insist that it is fiction, as some did, especially in the UK, when News of a Kidnapping was first published and people who should have known better refused to believe that the book was a piece of investigative reporting. The possible reason for their misapprehension is made explicit in Living to Tell the Tale: in a series of fascinating comments, García Márquez makes it clear that he sees little distinction between the practice of journalism and the writing of fiction. This is certainly not a question of his confusing truth and imagination, or reality and fantasy, and it is much more than a clever turn of phrase or thought. Over and over again in the memoir he refers to incidents and situations that are familiar to the reader because they have appeared, transmuted and transported, in the works of fiction. Even more important than events mined from the mother-lode of his experience, however, is the reportorial narrative technique common to both genres in García Márquez’ writing.
He is a master of physical observation: Surfaces, appearances, external realities, spoken words – everything that a truly observant observer can observe. He makes almost no allusion to states-of-mind, motivations, emotions, internal responses: Those are left to the inferential skills and deductive interests of the reader. In other words, García Márquez has turned the fly-on-the-wall point of view into a crucial aspect of his narrative style in both fiction and non-fiction, and it is a strategy that he uses to stunning effect. It not only obliges readers to participate in the narration by placing them up on the wall, right next to the fly, but I believe it is also one of the techniques he employs to abrogate sentimentality, leaving only actions driven by emotions, and sometimes passions.
It is a joy and a privilege beyond the telling of it to translate the profoundly expressive and artful writing of the Maestro. Thank you, Gabo, for your books.
– Edith Grossman

 

In Honor of Api....

October 23, 2006
Philip Lamantia
Vital Conflagirations

It's true that I don't know how to really live; I have never completely gotten the hang of life, even though the "Red phase" of the "Great Work" - radiating a splendor signifying, for some of us, all that perfects the gifts of the Marvelous for humanity - haunts the blackening thought of the absence of a certain social oxygen within present-day life. For it is only in the sight of the most extravagant utopias (well-seasoned by the repeated claw-marks of potential power splashing on a pinch of high voltage momentarily negating the daily horrors of attempted life) and only by absolute confidence in the surpassing fire love shall not fail to collectively materialize in the carbonization of the libertines of liberty, that I dream of the living emancipation kindled from a preserving fire of which the surpassing conflagration is the permanent, generating agent.

From ARSENAL: SURREALIST SUBVERSION 4 (1989)

Sunday, October 22, 2006

 

Nome de Guerra

Como medir o desenvolvimento educacional de uma nação? Muito fácil. Uma hipótese me veio à cabeça de forma forte e peculiar, como que psicografada. Basta ver o registro de nomes das pessoas. Se Pedro, João, Maria e Rita – e nomes afins, estiverem ganhando de Maílson (serei doravante “persona non grata” na Tendências), Gedimar, Valdebran e correlatos, é sinal de que estamos no caminho certo. A redução de bizarrice é sinal de maturidade e maior nível educacional. Não conheço os nomes bizarros da Noruega, Tanzânia ou da Indonésia. Mas devem ser parecidos. Só podem ser. Aceita-se até nomes de origem estrangeira, como Nicolau e Olga. Até nada tenho contra os ingleses. Mas por favor, batize o menino de Michael, assim mesmo, com essa grafia, e não de Maicon. Nos EUA já tinham começado com nomes de lugares como Brooklyn e Paris. Agora o capitalismo pirou de vez pois já tem gente chamada ESPN, Timberland e Chevrolet.

Como no exemplo tirado do site “Behind the Name” os afro-americanos gostam de usar prefixos ao combinar nomes: DeAndre, DeJuan, DeShawn, JuMichael, Keyshawn, Latonya, Lashonda, Lashawn, T’Keyah e YaSheema são alguns exemplos. Ou então usam substantivos ou adjetivos como Ebony, Precious, Justice ou Unique, que deve ser irmã de Monique. Fala-se até de variações como Kimothy e Natthew, que trata-se de "spoonerism", brincando com os nomes Timothy e Matthew.

Eles têm suas razões para dar tal apodo aos seus rebentos. Mas isso gera discriminação racial quando o postulante ao cargo manda um currículo com o nome Aundray. Já de antemão a pessoa se auto-discrimina, no sentido original do termo. De todo modo, há uma certa coerência com a nomenclatura dos norte-americanos de forma geral.

No Brasil temos um verdadeiro, literal e insolúvel samba do crioulo doido. Fora os nomes exóticos, temos a banalidade da violência nominal “tipo” Hannah Arendt, como no caso de Adolpho (sic) Hitler de Oliveira ou daquelas brincadeiras de infância quando foi provada a existência de Um Dois Três de Oliveira Quatro. Ou de outros mais peculiares e bizarros, em que se cria uma identidade através do nome de guerra eleitoral, como Jorginho Banerj ou Suely Country. Até aí nada demais. Alguns são pleonasticamente engraçados até, como no caso de Antônio Manso Pacífico de Oliveira Sossegado.

Agora outros nomes são, literalmente, impronunciáveis. Fui no site de acasos do humor, que para mim é uma coisa muito, muito séria. E constatei que isso tudo é uma grande sacanagem com as crianças, alguns já adultos ou mortos, talvez. Tal como Última Delícia do Casal Carvalho. Agora Soraiadite, Radigunda, Mijardina, Finólila, Piaubilina, Kêmula Katrine, Lynildes, Guelery, Eulâmpio, Horinando, Fridundino e Gravitolina é realmente um ato incompreensível de escolha de nomes por parte da mãe que lhes pariu. Eu acho que isso deveria ser um sub-ítem importante (e agora vocês percebem a gravidade do problema) na grande cruzada educacional preconizada por Cristóvão, perdão, Cristovam Buarque. E os políticos, sob a tutela do defensor do Saci Pererê, deveriam dar o exemplo. Pauderney na terra do Ancelmo quer dizer... deixa pra lá....

Homenagens podem e devem ser prestadas, mas os agentes de cartório e os tabeliões precisam ficar atentos. Hericlapiton da Silva não deveria existir. Não com esse nome. Tampouco Tospericagerja (em homenagem à seleção do tri: Tostão, Pelé, Rivelino, Carlos Alberto, Gerson e Jairzinho). Tampouco é aceitável Sudene Fátima. Eu no outro dia fui aferir e testar pessoalmente a gravidade do problema ao entrar no Estrela da Lapa. Ao receber minha comanda, indiquei que meu nome era Hermógenes com agá. Foi muito bom, pois surtiu um efeito de choque. Como alguém pode ter esse nome? Isso é um grande sinal. Apesar do nome em questão ser absolutamente aceitável.

Eu acho isso um barômetro confiável e deveria ser utilizado pelo Marcelo Néri na FGV, ou pelos estudiosos do IPEA. Como sou pluralista e democrático, acho que esse fenômeno tem que morrer de morte morrida e não por decreto.

Caso não tenha jeito, vou apelar para um de meus patrícios chamado Padre Filho do Espírito Santo Amém.

Friday, October 13, 2006

 

A Noite de Hermógenes...

Trucco tocando no Estrela da Lapa. Não sabia que era do dono do Mistura Fina. Vozes diziam ser um tal de Zé Galinha. A banda basicamente toca rock e prog rock. O lugar é a nova papa fina, localizado na diagonal do Teatro Odisséia no começo da Mem de Sá. Os alternativos talvez devem crer que se trata de um local burguês. Mas camponeses e operários eles tampouco são. Então sempre é mais agradável um ambiente limpo e bonito, por que não?

A banda em si toca covers mas o repertório era até um pouco obscuro para os incautos que pediam Led Zeppelin, Stones e essas coisas. Apesar do obrigatório Deep Purple, Pink Floyd e quejandos aqui e ali, teve muito Uriah Heep com faixas só para os PhDs da banda. Na mesa com um exímio guitarrista que havia tocado com alguns deles e o Lanzarini, grão-vizir do prog nacional. Como eu amante do Yes. Gostei do fato de que fugiram das faixas de trabalho. Do Yes tocaram Starship Trooper e só dois pares de lábios se moviam com a cadência bonita do não-samba.

O som deixou a desejar, faltando agudos, a guitarra mal equalizada, sem peso, mas não se pode criticar detalhes. No que um companheiro falou que era uma pena pois faltava uma formação com duas guitarras. No que o outro casmurro retrucou que faltava até uma.

Eu pedi minha comanda com o nome Hermógenes com agá por favor para o olhar incrédulo da funcionária da casa, e assim incorporei. Fui com minha camisa do Peter Gabriel. E todos estavam a meia bomba. Até que finalmente chegou o primeiro Genesis com “I Know What I Like” e puxei o cântico e palmas de balbúrdia se alstraram pelo salão como “yellow fever climbing up the bathroom walls...” como diria o bardo escocês. E beijei a parte esquerda da camisa agradecendo os deuses, num gesto que nos remete ao que fazem jogadores de futebol ao marcar um gol.

Interlúdios e silêncios entre canções e gritos sincopados ou isolados pedindo isto ou aquilo. Geralmente bandas famosas, e principalmente Led Zeppelin. Cada um com seu. Minha mesa pediu Marillion, Fish, mais Genesis. Não íamos entrar em Van Der Graaf... Aí Hermógenes urrou: GILSON DE SOUZA!!!!

Mas não é que me vieram com Robert Fripp instrumental do King Crimson? Teve Cream, Queensryche para a turma da mamadeira (Nos anos oitenta tinha que se ouvir Clash e não rock pompadour de agadir), Kansas, Rush (as duas faixas de trabalho e não baixou nem o Neil Peart nem o Steve deu seu sinal de Morse)

Aí consumiu-se o esbulho. Os elementos embriagados de idade avantajada puseram-se a se embalar num St. Vitus Dance, não do Black Sabbath, mas da doença mesmo, pois estava engraçada a falta de jeito de corpo e ninguém acompanhou. Eu era Renato Aragão e Zacarias carinho, pássaro no ninho....

Veio Focus com “Sylvia”.... Veio Jethro...

Veio Gentle Giant, coisas totalmente inesperadas. De Floyd tocaram até Dogs... Muito boa escolha. Banda divertidíssima na heterodoxia de meter lado b. A mesa era mefemeira faltando dois integrante impedidos geograficamente de comparecer. Mas ela deu seus passos enquanto harmonizávamos e cantávamos mais alto do que a banda, enquanto os cidadãos ao redor olhavam curiosos. Lá fora chovia. Cotovias dormindo nas moitas concretas. Pardais arrecadando divisas para o governo estadual.

Constat-ei que estamos ficando velhos. Falamos de George Michael e do seu excepcional Older.... Fizemos enquetes em que vários foram eleitos os melhores de todos os tempos. Na guitarra o rei foi deposto vinte vezes. Acho que terminou ganhando o Richie Blackmore. A melhor banda do mundo foi deposta setecentas vezes, mas nessa é fácil pois o Genesis antigo sempre ganha de goleada. E no telão uma foto de Peter Gabriel em “still” misturada com desenhos de Roger Dean. Mas Peter, jovem, ficou lá conclamando o povo, dizendo que o jantar estava pronto. Mas a banda não chamou ninguém....

Eu vou ver esses caras de novo no Sabadoyle lá na casa em frente ao bondinho do Corcovado.... Não levem relógios Movado... Talvez baixe o Syd Barrett...

Tuesday, October 10, 2006

 

Kharma Yoga

Karma Yoga
Os Fundamentos do Sadhana

Pergunta: O Karma Yoga deve ter prioridade sobre pranayama e asanas?

Swamiji: De repente, enquanto fazia meus pranayamas, ouvi um grito. Eu fazia um pranayama muito intenso enquanto meditava. Subitamente fui despertado por um grito desesperado de “Socorro! Socorro! Socorro!” [Swamiji faz kapalabhati, respirações bem fortes.] Deus os ajude. [Risadas.] Eu não ouvi, não é meu problema. [Swamiji ri.]
Isso não é pranayama. Qual é o propósito do pranayama? Qual o propósito da meditação? Não importa qual sadhana focê faz: asana, pranayama, meditação, japa, etc. Qual é o propósito de todos eles?…

[As respostas da platéia estão entre aspas.]

“Para lhe dar a energia que você precisa para servir. E utilizar essa energia para necessários e apropriados fins.”
“Para alcançar Yoga.” Essa resposta é melhor.
“Para se aproximar de Deus.” “Para se tornar iluminado.” “Para purificar a mente para que se alcance o objetivo.” Preciso de uma resposta melhor.
“Para poder fazer boas ações.” Quem liga para a necessidade dos outros, estou contente apenas fazendo pranayama.
“Para destruir o ego.” Um pouco melhor.
“Aprender a doar.” Yoga é a união de tudo isto. Não há vários indivíduos. Existe apenas um Ser, om Deus. Eu e meu Pai somos um. Eu estou em você. Você está em mim. Eu sou Ele. Quem disse isto?
“Jesus.” Sim, Jesus ensinou a mesma filosofia oriental. No lugar de dizer: “eu e o Pai somos um”, nós dizemos “Aham Brahmasmi.”
O homem que pede socorro sou eu mesmo. Então, se eu apenas continuar meu pranayama, não estou me identificando com essa pessoa necessitada.Se você ainda não entendeu…
Eu tenho duas mãos e dez dedos. Que mão eu uso mais? Direita ou esquerda? Sou destro. Então qual mão eu uso mais? A direita, não é? Você sabe que eu gosto mais da minha mão direita do que da equerda. Não apenas isto, mas minha mão direita está sempre zangada com a esquerda. Ela diz: “sua preguiçosa, eu faço todo o trabalho e você é preguiçosa. Você não faz quase nada.” A mão direita está sempre brigando com a esquerda porque esta é preguiçosa. Entretanto, a direita se machuca. A esquerda fica feliz. Ela pensa: “Ah, sua tola. Viu, você sempre me critica. Bem feito.” Isto é o que a mão esquerda diria? O que ela fará agora que a direita está machucada? Ela vai ajudar a fazer um curativo, e passar a fazer todo o trabalho da direita. E fará isto porque a direita mandou? Como aconteceu essa transformação? Antes era ela a preguiçosa? Agora que a mão direita não pode trabalhar, automaticamente a esquerda assume o seu lugar para ajudar o corpo. Mesmo que não seja tão eficiente quando a direita, ela vai fazê-lo, não vai? Ou ficará quieta como antes dizendo que não é trabalho seu?
“Vai trabalhar sim, pois tem que sobreviver.” Certo, a sobrevivência da mão esquerda depende da sobrevivência do corpo todo. Então, na realidade, não existe diferença entre direita e esquerda. Nenhuma mão merece elogios por fazer um ótimo trabalho. A direita não diz: “Obrigada mão esquerda, você está me ajudando muito.” Elas não enviam cartões de agradecimento ou estimam as melhoras uma da outra.
O propósito da vida é a união. Preconceitos como: “Somos diferentes, você é ingles e eu indiano; ou, você é católico e eu protestante; ou, você é muçulmano e eu judeu; ou, você é branco e eu preto”, são diferenças que existem apenas na nossa cabeça. Até que se apague essas diferenças não haverá união. Cultivar a união é Yoga.
A pergunta é: Qual é mais importante? Deve o karma yoga ter precedência? Estou fazendo pranayama com a mão direita. [Swamiji demonstra o anuloma viloma.] A mão esquerda é inútil. Qual é a mais importante agora? Continuo com meu pranayama, ou devo me preocupar com a mão esquerda? A prioridade não é o pranayama? [Swamiji ri.] Você pode imaginar a mão direita dizendo: “ Este pranayama é meu”, e deixando a mão esquerda se danar. Quem tomará conta do corpo? Vocês estão vendo? Pensem nestes termos.
Karma yoga não é apenas trabalho. Trabalho é devoção. Dedique-o a Deus. Isto não quer dizer que você deve trabalhar o tempo todo. Uma escavadeira produz mais em menos tempo e não espera nada em troca. É um ótimo karma yoga, nao é? No entando, o que ela ganha com seu trabalho? Óleo, lubificação, e um pouco de gasolina; só isso. Não ganha a liberação / liberdade. Assim como um burro. Um burro serve. Uma lavadeira na Índia carrega roupas sujas para lavar no rio nas costas de um burro de manhã e volta à tardinha. O que ganha o burro? [Platéia] “Comida.” Ele ganhará uma cenoura e algumas castanhas talvez uma vez por ano. No resto, apenas feno e aveia. Ou, se não houver feno e aveia, ele terá que ir procurar comida por si próprio. Mesmo comendo grama na beira da estrada ele ainda terá que server ao seu dono. Ele portanto ganhará liberação?
Karma yoga não é apenas uma ação. É quando se apaga a idéia de agente, o pensamento “eu estou doando”. Isto não pode existir. Você não é um doador. Nós não somos doadores. Em toda ação há um poder infinito, o poder de Deus. Entendem? Este poder faz com que meu corpo se mova. Karma yoga retira todo o egoísmo, “eu sou o doador”. Alguém acaba de gritar “Socorro, Socorro, Socorro”. Então, quem está chamando? Deus chama para testá-lo. Conto agora uma outra história do Mestre.
O Mestre estava meditando como os outros swamis do outro lado do Ganges quando ele veio a primeira vez a Swargashram. Naquele tempo, o lugar tinha apenas alguns swamis que recebiam comida gratuita de uma cozinha pública. Havia uma cozinha pública que servia chappati e lentilhas aguadas aos swamis. Esta era a dieta básica. Quando o sino tocava, o Mestre percorria o pequeno caminho até a cozinha em busca de comida. Um dia ele não viu nenhum dos outrso swamis indo comer. Ele estava sozinho. Os outros swamis eram seus colegas. Eles também tinham vindo meditar como ele. Mas quando ele se dirigia à cozinha ao meio-dia, não viu os outros no caminho. Se perguntou o porquê. Foi aí que os viu indo em direção à cozinha por um caminho tortuoso por sobre a colina. Eles chamavam a cozinha do ashram de kshetra. Quando eles chegaram, ele perguntou: “Por que vocês tomaram um caminho tão difícil para a kshetra? Por que não vieram pelo caminho de sempre?” Imediatamente, os swamis o avisaram: “Oh, Sivananda, não passe por ali. Naquele caminho, em uma das cabanas, há um swami com cólera, que é muito contagioso. Não passe por ali. Por favor dê a volta.”
O Mestre os repreendeu: “Voce vêm aqui para encontrar Deus. Deus estava no seu caminho, e vocês o evitaram.” Dizendo isto, ele correu ao encontro do velho swami doente e tomou conta dele como pode. Ele estava deitado, sem poder se mover, vomitando com cólera. O Mestre não o deixou para meditar. Ele viu que Deus chega na forma de um doente. Deus aparece na forma que Ele quiser. Ou pode pensar que Deus tem apenas a forma de um Siva bailarino. Ele também pode vir com um machado em Sua mão. Não vem apenas carregando frutas. Pode também vir com uma espada. Você pode ver Deus? Ele pode ser um ladrão. Ele pode ser um doente. Ele pode ser um velho. Ele pode aparecer de várias formas para testá-lo. Você o vê em todas as coisas ou apenas naquelas em que quer vê-Lo? Assim você não o enxergará. É assim o karma yoga.
Karma não é apenas trabalho. Você deve pensar, “Oh Deus, me deste a oportunidade de servi-Lo através deste doente, ou desta enfermidade.” Agradeça a Ele pela oportunidade. Assim você desenvolverá a capacidade de reconhecer Sua presença em todas as coisas. O propósito da yoga é ver a presença de Deus em tudo, bom ou ruim. O Senhor Krishna diz, no Gita: “Vidyaavainaya sapanne braahmane gavi hastini; Shuni chaiva shvapaake cha panditaah samadarshinah.” “Em um intocável, em um cão, um espertalhão, um sábio e em um santo você vê a mesma alma.” Não há diferença entre um intocável ou um analfabeto, um ignorante, um ladrão ou um grande sábio. O mesmo Deus brilha quando há união. Sem servir à humanidade através do karma yoga, você nunca reconhecerá Deus em todas as coisas. Somente praticando asana e pranayama você apenas fortalecerá seu ego. Contarei ainda outra história.
Um jovem passou 20 anos praticando pranayama na floresta. Seu kundalini estava sendo elevado, e ele tinha grandes poderes psíquicos. Um dia ele estava praticando e elevando seu kundalini. [Swamiji faz algumas respirações em kapalabhati para demonstrar.] De repente, um pássaro pousa na árvore acima dele e urina bem em cima do sahasrara do yogi. [Risos.] O jovem voltou-se para cima, olhando para o “pássaro idiota que não respeita um grande yogi que vem elevando seu kundalini por 20 anos.” Enquanto ele pensava assim, olhando para o pássaro, a força de sua energia literalmente queimou o animal o transformando em cinzas. Ficou surpreso com seus poderes. “Da próxima você não fará isso!”, pensou com raiva. Subitamente o jovem se deu conta de seus poderes de yogui e de como eles funcionam.
Naturalmente, quando a fome bateu, ele precisou sair mendigando comida. Na Índia, é legalmente permitido que swamis mendiguem. Claro que existem mendigos de verdade também. Você nunca sabe quem é mendigo e quem é swami. Todos pedem. Mas não importa. Você só precisa de uma roupa cor de laranja e de um pote. “Om Narayana Hari.” Ele repetia este mantra, Narayana Hari. Quando você escuta isto, Narayana Hari, significa que alguém está faminto, que algum santo está esperando. Um morador está sendo chamado para trazer comida. Àz vezes você ganha, àz vezes é escurraçado, depende do morador.
O yogui, então, chegou a uma vila e se dirigiu a uma casa. Ele acabara de queimar o pássaro e agora tinha fome. Ele era um grande yogui, que já praticava há 20 anos. Ele gritou: “Narayana Hari, Narayana Hari.” Nos fundos estava uma dona de casa que tomava conta de seu marido inválido, dando-lhe banho. Apesar de ser obrigação da dona de casa alimentar o santo, ela gritou lá de dentro: “Oh santo homem, por favor espere, irei até o senhor assim que acabar de cuidar do meu marido.” Ela não queria ofendê-lo, mas não podia deixar seu marido sem ajuda.
O yogui ficou um pouco zangado. “Como ela se atreve a fazer um santo como eu esperar?”, ele pensou. “Acabei de queimar um pássaro com meus poderes. Ela não compreende o quanto eu sou especial.” Enquanto ele bufava do lado de for a, ela gritou novamente: “Oh santo homem, não sou o pássaro que você queimou na floresta. Não pense que pode me queimar também.” O yogui teve um grande choque. “Meu Deus, como ela sabe do que fiz na floresta?”, se perguntou. Era seu ego que estava chamuscado agora. Quando ele finalmente se acalmou, ele percebeu que acabara de encontrar um grande yogui que podia ler seus pensamentos. Que tipo de yoga ela praticava? Como ela adivinhava o que ele fizera e o que pensava? Enquanto esperava pacientemente, ela acabou os cuidados com o marido e o colocou na cama. Quando a senhora apareceu com comida para ele, o santo perguntou: “Como a senhora sabia que queimei um pássaro na floresta? Ninguém pode ter visto. Aconteceu há cerca de meia hora. Como pode saber?”
Respondendo ao yogui, a dona de casa disse: “Não sei. Vá até a próxima vila pois há um açogueiro a sua espera, vá e pergunte. Por favor, pergunte a ele. Ele responderá.”
Como um açogueiro poderia saber disso? [Swamiji ri.] Ele foi até a vila vizinha para descobrir e, tão logo chegou, viu que o açogueiro era apenas um jovem, que estava cuidando de seu velho pai. Apesar disso, o yogui chamou por ele: “Narayana Hari.” O homem respondeu: “Santo homem, espere uns minutos e já estarei com o senhor. Sei que a dona de casa o mandou. Ela disse que me procurasse, não foi?” Claro, nesse tempo não havia telephone.
“Oh meu Deus, como você sabia? Como se comunicaram tão rápido? Acabo de deixá-la e vim direto para aqui, e você já recebeu a mensagem. Como adivinhou? Aquela senhora sabia tudo sobre mim e você também sabe. Que tipo de yoga você pratica?”
“Não pratico nada. Apenas faço meu trabalho. Cuido de meu pai. Sou a única pessoa que cuida dele. Ele é inválido. Então cuido dele antes de fazer meu trabalho de açogueiro. À tardinha, volto para casa para cuidar dele. A muher que o senhor encontrou é apenas uma dona de casa. Ela precisa cuidar do marido com a mesma devoção com que cuido de meu pai. O senhor também devota-se ao seu pranayama. A mesma devoção que o senhor dedica ao pranayama, eu ofereço ao meu pai, e ela a seu marido. Assim, purificamos nossos corações. Ela não vê apenas um homem com feridas e doenças. No corpo doente, machucado, a mesma divindade brilha, e ela o serve com todo seu amor. Do mesmo modo, não vejo meu pai apenas como um ser humano. O mesmo ser brilha nele, então sirvo a Ele, que veio a mim através de meu pai. Assim nossos corações se purificam, e podemos ver o que acontece sem fazer asana ou pranayama.”
Qual foi a lição que o yogui aprendeu? Asana e pranayama sozinhos não eliminam o ego e a ira. Apesar dele ter controle sobre certas forças psicológicas, ele não controlava sua própria raiva. Entendem? Pois quando se serve, a devoção tem que ser completa, a todo tipo de pessoa. Só assim você saberá se está evoluindo ou não. Pode testar-se. Quando fiz pranayama por vários anos [em Uttarkashi], meu vizinho de porta era um outro swami morando em cavernas. Se alguém pegava um mísero pote de barro ele ficava furioso. Esbravejava a torto e a direito. Isto acontece porque depois de anos de solidão e pranayama, você não tem como saber se sua mente está purificada. Apenas quando for testado você saberá. No karma yoga, você tem que trabalhar e servir a todo tipo de pessoas, boas e más, e até pessoas que não gostam de você. Se elas o evitarem ainda assim você deve ver o mesmo Deus nelas. Imaginem a força que a mente precisa fazer nesses momentos. Não é fácil. Todos os dias você é jogado na fogueira e sai dizendo: “Oh Deus, obrigada, passei por mais um teste.”
Assim, a prática do karma yoga é essencial para o seu progresso. Entretanto, apenas o trabalho não é suficiente para realizar a união com o Ser Superior. Se uma emergência acontece ou você tem obrigações importantes, mesmo assim você ainda tem que achar tempo para o seu sadhana [prática espiritual ou yoga] sem interrupções. Quando eu fazia meu karma yoga no ashram [em Rishikesh], praticava pranayama quarto vezes por dia – pela manhã, ao meio-dia, ao anoitecer e à meia-noite. Às vezes não tinha tempo de praticar por causa das minhas obrigações com karma yoga. Assim, quando todos iam dormir eu fazia meus asanas e pranayamas tarde da noite. Quando eu era um garoto no exército eu já havia começado a praticar yoga. Estive no exército durante a Segunda Guerra Mundial e todos acordavam ao raiar do dia para a chamada, exercícios físicos e a parada. Eu acordava duas horas antes de todos para fazer meus asanas, pranayama e meditação. Fiz até mesmo um pequeno altar na minha cama, sob o cortinado contra mosquitos. Abria meu altar e fazia meu puja e arati sem acordar ninguém. Também praticava pranayama no escuro sem que niguém ouvisse. Eu fazia isso pois se descobrissem o que eu fazia me mandariam para ser examinado no hospital pensando que eu estava louco. Os militares não entendem nada disso.
Deus o coloca em várias situações para o seu próprio bem – para testá-lo. Por exemplo, o Mestre Sivananda e os swamis que vieram para Swargashram em Riskikesh para meditar. Mas o mestre viu o doente não como um doente, mas como Deus. Se você compreende isto, então você entenderá. Entenderam? Agora mais uma história. É bom contar histórias. Eu tenho centenas de histórias para contar, mas não tenho tanto tempo.
Um jovem e brilhante estudante procurou um grande mestre e perguntou: “Oh Mestre, não quero nada deste mundo. Estou cansado deste mundo. Quero encontrar Deus. Por favor, instrua-me. O senhor é um grande mestre e sua instrução renderá frutos imediatos.” Ao que o mestre respondeu: “Meu jovem, amanhã às 4 da manhã eu lhe iniciarei. Prepare-se. Tome um banho e exatamente às 4 da manhã, venha. Não se atrase. Essa será a hora auspiciosa em que a lua e as estrelas estarão na posição ideal. Então não se atrase.”
“Oh Gurudev, eu virei”, prometeu o estudante. Ele não dormiu à noite. Às 3:30 ele banhou-se no Ganges gelado. Tomou banho e trocou de roupa.
Ele era um jovem Brahmin. Por ser Brahmin, foi criado como religioso. Naquele tempo, um intocável não podia se aproximar da sua casa. Tinham que ficar distantes e gritar, mas não podiam entrar. Nem ele podia se aproximar deles. Se chegasse perto de um intocável, teria que se banhar por ter se “poluído”. Se seu pai ou sua mãe soubessem que ele se aproximara de um intocável, não o deixariam entrar novamente em casa. Se sentiria poluído e teria que banhar-se. Tendo sido criado por uma família tão ortodoxa e com regras tão rígidas, o jovem Brahmin se preparou para sua iniciação. Carregando flores e frutos, ele se dirigiu ao mestre para receber suas instruções.
Na noite anterior, o mestre chamou um faxineiro intocável. Todos os trabalhos braçais eram feitos por intocáveis das classes mais baixas. Limpavam as latrinas e as casas com suas vassouras e estavam sempre sujos. O mestre chamou o faxineiro e instruiu-lhe: “Às 4 da manhã o jovem Brahmin terá que se banhar no Ganges e vir para sua iniciação comigo. Quando ele chegar na escuridão, apenas o toque com sua vassoura.” Que instrução de um grande mestre! Um faxineiro nunca faria uma coisas dessas, pois é um sacrilégio tocar um jovem Brahmin, especialmente com uma vassoura.
Obedecendo às instruções do mestre, o faxineiro fingiu estar varrendo a rua que o jovem e nobre Brahmin percorria ao voltar de seu banho no Ganges, com novas roupas, cinzas abençoadas por toda parte, uma nova coroa de flores e toda sua devoção ao mestre. Quando ele passou, o faxineiro tocou-o “acidentalmente” com sua vassoura. Isto faria com que ficasse poluído e não pudesse ir à sua iniciação. Mas que nada. O Brahmin ficou horrorizado. Ele virou-se para o faxineiro e disse: “Seu idiota, cretino. Como se atreve a me tocar com sua vassoura imunda. Não sabe que sou um jovem Brahmin. Estava indo à minha iniciação e você me sujou. Agora devo tomar outro banho e fazer vários pranayamas para me purificar. Me tomará pelo menos 15 minutos para estar purificado!” Ele ficou muito irritado. Esbrajevou contra o faxineiro a torto e a direito. Entoou o canto da purificação furiosamente. “Om Bhur Bhuvah Swah…” Repetiu todos os mantras que sabia. Imagine o trabalhão que teve para remover todas as impurezas por ter sido tocado por um intocável. Apesar de todo seu esforço, o jovem chegou 15 minutos atrasado. O mestre havia dito que chegasse às 4 horas. Mas já eram 4:15. O mestre engendrou tudo isso, mas disse calmamente: “Filho, você está 15 minutos atrasado. Devia estar aqui às 4 horas. Agora já passou. Não posso lhe dar a iniciação até o ano que vem.
“Ah, mais um ano! Mas mestre, não foi culpa minha. Aquele estúpido e cretino intocável, que não respeita os Brahmins, acercou-se e me tocou com sua vassoura. Tive que banhar-me para purificar-me, entoar o Gayatri antes de vir para a iniciação. Não podia vir ao mestre com todas as impurezas do cretino intocável. Tive que purificar-me novamente. Por isso me atrasei. Não foi minha culpa.”
“Filho, apesar de ter agido corretamente, não o iniciarei agora. Não é a hora certa. Você terá que esperar um ano inteiro.”
“Oh Deus, o que foi me acontecer”, pensou. Assim, fez karma yoga por mais um ano…
No ano seguinte, o mestre disse ao mesmo faxineiro: “Desta vez, não só o toque com sua vassoura, na verdade esbarre nele, ‘acidentalmente’, claro.” O Brahmin preparou-se mais uma vez para sua iniciação. Quando vinha do seu banho para encontrar o guru, novamente cruzou com o intocável. Como for a orientado, o faxineiro jogou sua vassoura contra o rapaz, com toda sua sujeira e etc, e o jovem ficou novamente impuro. “Meu Deus, você fez isto de novo. Como pode?” O rapaz novamente o escorraçou, mas não tanto quanto no ano anterior. Correu pois não queria atrasar-se. Jogou-se no Ganges rapidamente, mas ainda assim chegou 3 minutos atrasado. “Você sabe que está novamente atrasado. Não é meu problema, terá que esperar outro ano.”
Ano após ano isto se repetiu. O jovem nunca consegiu sua iniciação, mas continuou com o karma yoga. Então, um ano ele não veio pedir iniciação ao mestre pois sabia que algo ia acontecer novamente. Mas o mestre o chamou de todo modo. “Amanhã é o dia da iniciação. Seja pontual.”
“Sim, mestre, se o senhor o quiser”, respondeu o jovem. Assim ele foi banhar-se de manhã bem cedo. Desta vez o mestre disse ao intocável: “Pegue um balde bem cheio de terra.” Você sabe, pegue a “boa” terra da latrina. “Despeje tudo nele.” Assim o faxineiro jogou no javem rapaz todo o balde com terra. Mas o rapaz nao o escorraçou. Disse apenas: “Obrigado.” Sem tomar banho ou dizer outra palavra, apenas “obrigado”, o jovem veio ao mestre coberto de sujeira, no mesmo estado de espírito em que estava quando acabara de se purificar… e pontualmente. O mestre viu que apesar de sujo, ele não reagiu ao insulto. Nem sequer notara o faxineiro intocável.
O mestre disse: “Agora você está preparado para a iniciação. Agora você está pronto pois dominou a ira, dominou a idéia de ser um Brahmin superior, e que ele é um faxineiro estúpido e analfabeto.” Ele já não via a diferença. Sua mente estava purificada pelos anos a fio de karma yoga. Como o outro que é posto ao fogo repetidamente, sovado e novamente posto ao fogo, as impurezas foram removidas.
A mente do jovem estava aberta, e agora ao repetir o mantra dado pelo mestre, não havia obstrução. Assim que repetia “A”, a energia do kundalini se elevava. Com o som “U” a energia já tinha atingido o ajna chakra entre as sobrancelhas. Quando chegou ao “M”, já havia chegado ao estado transcendental. Como uma única chama é suficiente para inflamar a madeira seca e o feno instantaneamente pega fogo, ele imediatamente entrou em estado de Samadhi.
Estas histórias ilustram o quão necessária é a purificação. O Ego não deve existir. Mesmo os melhores professores não podem fazer nada por nós enquanto temos o ego. Quando cheguei pela primeira vez [a Sivanandashram], queria fazer mais pranayama e meditação. O mestre me disse: “Vá lavar a roupa das pessoas no Ganges.”
Deus, eu nem mesmo lavava minhas roupas. Esse é um trabalho menor. Nunca fiz isso.Vim aqui para elevar meu kundalini, não para lavar roupas. Bem, esse ego deve ir embora e só aí a energia surgirá. Este é o significado do karma yoga. OK? Posso contar mais, mas isto é suficiente.

Monday, October 09, 2006

 

BSB

Ora, escolhi e levei na bagagem de mão “Bellini e os Espíritos” do Tony Bellotto, o rapaz músico, e o último do Ivan Sant’Anna sobre o fatídico 11 de Setembro. O último de propósito para não ver a versão “Larry King” dos eventos e sim aquela com um pouco de dendê e malagueta mesmo. O anterior dele é o Caixa Preta sobre os três maiores desastres aéreos da história da aviação brasileira.

Dois dias depois cai o avião da Gol na Serra do Cachimbo e familiares esperavam por notícias precisamente em BSB. No aeroporto de BSB já tem cyber café com audiofones para se falar em Skype, com o programa instalado nos terminais. O Bob’s tem seu “shake” de ovomaltine. Não tinha percebido. Sou aéreo.

Irei agora com certa assiduidade. As coisas tem mudado um pouco. Aquele abandono da W-3 deu um pouco de charme ao lugar. As quadras dentro do avião estão bonitas. As árvores crescem. Falam de um sotaque local que não consigo identificar. Faz-se o tradicional loop passando pela ponte nova do Paranoá e voltando pelo “pontal” deles, tudo muito Ohio, muito Missouri por ali. E a periferia cresce. Se o homem não vai mais a Plutão, este vem a seu encontro. Taguatinga já é Bruxelas e a brucelose de goianos é coisa que se foi. Cruzeiro Novo, Águas Claras, araruta tem seu dia de mingau e Guará de Alphaville. Casa Park, home design. Mais restaurantes novos. O motorista de táxi não entendia como Lula tinha tanto voto já que ele rodava a capital inteira e nunca tinha encontrado um simpatizante no banco de trás. O governador eleito, Arruda, pianista de painel e gente até que decente, dizem, vejo, talvez, quer desafogar o avião. Ou melhor, o plano piloto. O que é de direito do distrito que vá para o além. O avião é capital do Brasil, símbolo nacional. Comovente as palavras. Interessante.

Mas o bom mesmo é pegar a saída sul e bater bota no barro avermelhado. Na feira dos importados, paraguaia. Ou ir além... E ir para os anéis de saturno, lá de onde vieram Kaká e Lúcio. De ver que o Beirute já fez 40 anos há um tempo. De ver que no avião tem engarrafamento nas tesourinhas. O comércio intra-quadras está se sofisticando. E os satélites estão antenados. E como.

Mas é lá. Onde figuras do alto escalão pedem benesses aos santos. Onde histórias indescritíveis são contadas num ritmo lento, e que não tem nada que ver com os figurões federais planaltinos. Tem a ver com a polícia civil local. Onde a ascenção social é mais plausível e possível, onde há latrocínio e as latrinas são sujas e limpas ao tempo. A região é a contradição ambulante. A cultura é única, pois na geografia topográfica os espécimes travam um duelo entre cerrado e mata atlântica somente mundo abaixo, pelo que me dizem na Serra do Cipó mesmo na terra de Aécio. Mas lá se mora a 220v ou a 110v, a escolha é sua. Há muitas escolhas. A grana fala, articula palavras, nem sempre concordando com a gramática vigente, mas segue a falar pelos cotovelos...

O projeto já acabou e já temos uma organi-cidade. Já que vão continuar a gastação de qualquer maneira, podemos centrar uma nova capital um pouco mais à esquerda, sem dupla intenção. Uma Nova Brasiléia, com Banco Central independente. Se minhas coordenadas mentais estiverem certas ficaria já na Amazônia mesmo, no Mato Grosso, formando a terceira ponta de um triângulo reto com Cuiabá e Goiânia. Desbravando fronteiras.

BSB já é maior de idade. Adquiriu seu ritmo. Um pouco lesada no serviço dos garçons, mas o frescor da brisa nos faz esquecer. O magneto atraindo gente de todos os cantos com seus cânticos. Onde é até vergonhoso ser carioca com o sotaque demodé. Onde de fome não se morre, pois pipocam mangas e amoras nos passeios públicos. Vamos mudar. Levar o povo para as jaqueiras. Ou para o cupuaçú. A polícia de BSB já senta o cacete, o BRock lá nasceu também, não nos esqueçamos e antes do Eto’o rubro-negro a melange de estrangeiros de embaixada tinha criado o Obina Choque, não sei se com a grafia nacional. Mas isso tampouco importa. Lá tudo importa. Nada se exporta. Creio.

 

Shady is Back... Barrie...

There was a Barrie that came to Rio, not the straw but the blue...
Took him to the sea... Of red and black... He saw the (orange) light...
Incadescent and indecent.... He saw much more but I was not here...
I had to take him up the hill to see it all from up above...
Soaring under the searing sun, but it only rained.... I did not...
Now Barrie should come... Out of the blue... And into the black...
He is back in San Fran... She is back home... A terp like the rest of us...
Slowly and gingerly stepping out... Barrie, do come...

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Free Web Site Counter
Free Counter