Tuesday, October 10, 2006

 

Kharma Yoga

Karma Yoga
Os Fundamentos do Sadhana

Pergunta: O Karma Yoga deve ter prioridade sobre pranayama e asanas?

Swamiji: De repente, enquanto fazia meus pranayamas, ouvi um grito. Eu fazia um pranayama muito intenso enquanto meditava. Subitamente fui despertado por um grito desesperado de “Socorro! Socorro! Socorro!” [Swamiji faz kapalabhati, respirações bem fortes.] Deus os ajude. [Risadas.] Eu não ouvi, não é meu problema. [Swamiji ri.]
Isso não é pranayama. Qual é o propósito do pranayama? Qual o propósito da meditação? Não importa qual sadhana focê faz: asana, pranayama, meditação, japa, etc. Qual é o propósito de todos eles?…

[As respostas da platéia estão entre aspas.]

“Para lhe dar a energia que você precisa para servir. E utilizar essa energia para necessários e apropriados fins.”
“Para alcançar Yoga.” Essa resposta é melhor.
“Para se aproximar de Deus.” “Para se tornar iluminado.” “Para purificar a mente para que se alcance o objetivo.” Preciso de uma resposta melhor.
“Para poder fazer boas ações.” Quem liga para a necessidade dos outros, estou contente apenas fazendo pranayama.
“Para destruir o ego.” Um pouco melhor.
“Aprender a doar.” Yoga é a união de tudo isto. Não há vários indivíduos. Existe apenas um Ser, om Deus. Eu e meu Pai somos um. Eu estou em você. Você está em mim. Eu sou Ele. Quem disse isto?
“Jesus.” Sim, Jesus ensinou a mesma filosofia oriental. No lugar de dizer: “eu e o Pai somos um”, nós dizemos “Aham Brahmasmi.”
O homem que pede socorro sou eu mesmo. Então, se eu apenas continuar meu pranayama, não estou me identificando com essa pessoa necessitada.Se você ainda não entendeu…
Eu tenho duas mãos e dez dedos. Que mão eu uso mais? Direita ou esquerda? Sou destro. Então qual mão eu uso mais? A direita, não é? Você sabe que eu gosto mais da minha mão direita do que da equerda. Não apenas isto, mas minha mão direita está sempre zangada com a esquerda. Ela diz: “sua preguiçosa, eu faço todo o trabalho e você é preguiçosa. Você não faz quase nada.” A mão direita está sempre brigando com a esquerda porque esta é preguiçosa. Entretanto, a direita se machuca. A esquerda fica feliz. Ela pensa: “Ah, sua tola. Viu, você sempre me critica. Bem feito.” Isto é o que a mão esquerda diria? O que ela fará agora que a direita está machucada? Ela vai ajudar a fazer um curativo, e passar a fazer todo o trabalho da direita. E fará isto porque a direita mandou? Como aconteceu essa transformação? Antes era ela a preguiçosa? Agora que a mão direita não pode trabalhar, automaticamente a esquerda assume o seu lugar para ajudar o corpo. Mesmo que não seja tão eficiente quando a direita, ela vai fazê-lo, não vai? Ou ficará quieta como antes dizendo que não é trabalho seu?
“Vai trabalhar sim, pois tem que sobreviver.” Certo, a sobrevivência da mão esquerda depende da sobrevivência do corpo todo. Então, na realidade, não existe diferença entre direita e esquerda. Nenhuma mão merece elogios por fazer um ótimo trabalho. A direita não diz: “Obrigada mão esquerda, você está me ajudando muito.” Elas não enviam cartões de agradecimento ou estimam as melhoras uma da outra.
O propósito da vida é a união. Preconceitos como: “Somos diferentes, você é ingles e eu indiano; ou, você é católico e eu protestante; ou, você é muçulmano e eu judeu; ou, você é branco e eu preto”, são diferenças que existem apenas na nossa cabeça. Até que se apague essas diferenças não haverá união. Cultivar a união é Yoga.
A pergunta é: Qual é mais importante? Deve o karma yoga ter precedência? Estou fazendo pranayama com a mão direita. [Swamiji demonstra o anuloma viloma.] A mão esquerda é inútil. Qual é a mais importante agora? Continuo com meu pranayama, ou devo me preocupar com a mão esquerda? A prioridade não é o pranayama? [Swamiji ri.] Você pode imaginar a mão direita dizendo: “ Este pranayama é meu”, e deixando a mão esquerda se danar. Quem tomará conta do corpo? Vocês estão vendo? Pensem nestes termos.
Karma yoga não é apenas trabalho. Trabalho é devoção. Dedique-o a Deus. Isto não quer dizer que você deve trabalhar o tempo todo. Uma escavadeira produz mais em menos tempo e não espera nada em troca. É um ótimo karma yoga, nao é? No entando, o que ela ganha com seu trabalho? Óleo, lubificação, e um pouco de gasolina; só isso. Não ganha a liberação / liberdade. Assim como um burro. Um burro serve. Uma lavadeira na Índia carrega roupas sujas para lavar no rio nas costas de um burro de manhã e volta à tardinha. O que ganha o burro? [Platéia] “Comida.” Ele ganhará uma cenoura e algumas castanhas talvez uma vez por ano. No resto, apenas feno e aveia. Ou, se não houver feno e aveia, ele terá que ir procurar comida por si próprio. Mesmo comendo grama na beira da estrada ele ainda terá que server ao seu dono. Ele portanto ganhará liberação?
Karma yoga não é apenas uma ação. É quando se apaga a idéia de agente, o pensamento “eu estou doando”. Isto não pode existir. Você não é um doador. Nós não somos doadores. Em toda ação há um poder infinito, o poder de Deus. Entendem? Este poder faz com que meu corpo se mova. Karma yoga retira todo o egoísmo, “eu sou o doador”. Alguém acaba de gritar “Socorro, Socorro, Socorro”. Então, quem está chamando? Deus chama para testá-lo. Conto agora uma outra história do Mestre.
O Mestre estava meditando como os outros swamis do outro lado do Ganges quando ele veio a primeira vez a Swargashram. Naquele tempo, o lugar tinha apenas alguns swamis que recebiam comida gratuita de uma cozinha pública. Havia uma cozinha pública que servia chappati e lentilhas aguadas aos swamis. Esta era a dieta básica. Quando o sino tocava, o Mestre percorria o pequeno caminho até a cozinha em busca de comida. Um dia ele não viu nenhum dos outrso swamis indo comer. Ele estava sozinho. Os outros swamis eram seus colegas. Eles também tinham vindo meditar como ele. Mas quando ele se dirigia à cozinha ao meio-dia, não viu os outros no caminho. Se perguntou o porquê. Foi aí que os viu indo em direção à cozinha por um caminho tortuoso por sobre a colina. Eles chamavam a cozinha do ashram de kshetra. Quando eles chegaram, ele perguntou: “Por que vocês tomaram um caminho tão difícil para a kshetra? Por que não vieram pelo caminho de sempre?” Imediatamente, os swamis o avisaram: “Oh, Sivananda, não passe por ali. Naquele caminho, em uma das cabanas, há um swami com cólera, que é muito contagioso. Não passe por ali. Por favor dê a volta.”
O Mestre os repreendeu: “Voce vêm aqui para encontrar Deus. Deus estava no seu caminho, e vocês o evitaram.” Dizendo isto, ele correu ao encontro do velho swami doente e tomou conta dele como pode. Ele estava deitado, sem poder se mover, vomitando com cólera. O Mestre não o deixou para meditar. Ele viu que Deus chega na forma de um doente. Deus aparece na forma que Ele quiser. Ou pode pensar que Deus tem apenas a forma de um Siva bailarino. Ele também pode vir com um machado em Sua mão. Não vem apenas carregando frutas. Pode também vir com uma espada. Você pode ver Deus? Ele pode ser um ladrão. Ele pode ser um doente. Ele pode ser um velho. Ele pode aparecer de várias formas para testá-lo. Você o vê em todas as coisas ou apenas naquelas em que quer vê-Lo? Assim você não o enxergará. É assim o karma yoga.
Karma não é apenas trabalho. Você deve pensar, “Oh Deus, me deste a oportunidade de servi-Lo através deste doente, ou desta enfermidade.” Agradeça a Ele pela oportunidade. Assim você desenvolverá a capacidade de reconhecer Sua presença em todas as coisas. O propósito da yoga é ver a presença de Deus em tudo, bom ou ruim. O Senhor Krishna diz, no Gita: “Vidyaavainaya sapanne braahmane gavi hastini; Shuni chaiva shvapaake cha panditaah samadarshinah.” “Em um intocável, em um cão, um espertalhão, um sábio e em um santo você vê a mesma alma.” Não há diferença entre um intocável ou um analfabeto, um ignorante, um ladrão ou um grande sábio. O mesmo Deus brilha quando há união. Sem servir à humanidade através do karma yoga, você nunca reconhecerá Deus em todas as coisas. Somente praticando asana e pranayama você apenas fortalecerá seu ego. Contarei ainda outra história.
Um jovem passou 20 anos praticando pranayama na floresta. Seu kundalini estava sendo elevado, e ele tinha grandes poderes psíquicos. Um dia ele estava praticando e elevando seu kundalini. [Swamiji faz algumas respirações em kapalabhati para demonstrar.] De repente, um pássaro pousa na árvore acima dele e urina bem em cima do sahasrara do yogi. [Risos.] O jovem voltou-se para cima, olhando para o “pássaro idiota que não respeita um grande yogi que vem elevando seu kundalini por 20 anos.” Enquanto ele pensava assim, olhando para o pássaro, a força de sua energia literalmente queimou o animal o transformando em cinzas. Ficou surpreso com seus poderes. “Da próxima você não fará isso!”, pensou com raiva. Subitamente o jovem se deu conta de seus poderes de yogui e de como eles funcionam.
Naturalmente, quando a fome bateu, ele precisou sair mendigando comida. Na Índia, é legalmente permitido que swamis mendiguem. Claro que existem mendigos de verdade também. Você nunca sabe quem é mendigo e quem é swami. Todos pedem. Mas não importa. Você só precisa de uma roupa cor de laranja e de um pote. “Om Narayana Hari.” Ele repetia este mantra, Narayana Hari. Quando você escuta isto, Narayana Hari, significa que alguém está faminto, que algum santo está esperando. Um morador está sendo chamado para trazer comida. Àz vezes você ganha, àz vezes é escurraçado, depende do morador.
O yogui, então, chegou a uma vila e se dirigiu a uma casa. Ele acabara de queimar o pássaro e agora tinha fome. Ele era um grande yogui, que já praticava há 20 anos. Ele gritou: “Narayana Hari, Narayana Hari.” Nos fundos estava uma dona de casa que tomava conta de seu marido inválido, dando-lhe banho. Apesar de ser obrigação da dona de casa alimentar o santo, ela gritou lá de dentro: “Oh santo homem, por favor espere, irei até o senhor assim que acabar de cuidar do meu marido.” Ela não queria ofendê-lo, mas não podia deixar seu marido sem ajuda.
O yogui ficou um pouco zangado. “Como ela se atreve a fazer um santo como eu esperar?”, ele pensou. “Acabei de queimar um pássaro com meus poderes. Ela não compreende o quanto eu sou especial.” Enquanto ele bufava do lado de for a, ela gritou novamente: “Oh santo homem, não sou o pássaro que você queimou na floresta. Não pense que pode me queimar também.” O yogui teve um grande choque. “Meu Deus, como ela sabe do que fiz na floresta?”, se perguntou. Era seu ego que estava chamuscado agora. Quando ele finalmente se acalmou, ele percebeu que acabara de encontrar um grande yogui que podia ler seus pensamentos. Que tipo de yoga ela praticava? Como ela adivinhava o que ele fizera e o que pensava? Enquanto esperava pacientemente, ela acabou os cuidados com o marido e o colocou na cama. Quando a senhora apareceu com comida para ele, o santo perguntou: “Como a senhora sabia que queimei um pássaro na floresta? Ninguém pode ter visto. Aconteceu há cerca de meia hora. Como pode saber?”
Respondendo ao yogui, a dona de casa disse: “Não sei. Vá até a próxima vila pois há um açogueiro a sua espera, vá e pergunte. Por favor, pergunte a ele. Ele responderá.”
Como um açogueiro poderia saber disso? [Swamiji ri.] Ele foi até a vila vizinha para descobrir e, tão logo chegou, viu que o açogueiro era apenas um jovem, que estava cuidando de seu velho pai. Apesar disso, o yogui chamou por ele: “Narayana Hari.” O homem respondeu: “Santo homem, espere uns minutos e já estarei com o senhor. Sei que a dona de casa o mandou. Ela disse que me procurasse, não foi?” Claro, nesse tempo não havia telephone.
“Oh meu Deus, como você sabia? Como se comunicaram tão rápido? Acabo de deixá-la e vim direto para aqui, e você já recebeu a mensagem. Como adivinhou? Aquela senhora sabia tudo sobre mim e você também sabe. Que tipo de yoga você pratica?”
“Não pratico nada. Apenas faço meu trabalho. Cuido de meu pai. Sou a única pessoa que cuida dele. Ele é inválido. Então cuido dele antes de fazer meu trabalho de açogueiro. À tardinha, volto para casa para cuidar dele. A muher que o senhor encontrou é apenas uma dona de casa. Ela precisa cuidar do marido com a mesma devoção com que cuido de meu pai. O senhor também devota-se ao seu pranayama. A mesma devoção que o senhor dedica ao pranayama, eu ofereço ao meu pai, e ela a seu marido. Assim, purificamos nossos corações. Ela não vê apenas um homem com feridas e doenças. No corpo doente, machucado, a mesma divindade brilha, e ela o serve com todo seu amor. Do mesmo modo, não vejo meu pai apenas como um ser humano. O mesmo ser brilha nele, então sirvo a Ele, que veio a mim através de meu pai. Assim nossos corações se purificam, e podemos ver o que acontece sem fazer asana ou pranayama.”
Qual foi a lição que o yogui aprendeu? Asana e pranayama sozinhos não eliminam o ego e a ira. Apesar dele ter controle sobre certas forças psicológicas, ele não controlava sua própria raiva. Entendem? Pois quando se serve, a devoção tem que ser completa, a todo tipo de pessoa. Só assim você saberá se está evoluindo ou não. Pode testar-se. Quando fiz pranayama por vários anos [em Uttarkashi], meu vizinho de porta era um outro swami morando em cavernas. Se alguém pegava um mísero pote de barro ele ficava furioso. Esbravejava a torto e a direito. Isto acontece porque depois de anos de solidão e pranayama, você não tem como saber se sua mente está purificada. Apenas quando for testado você saberá. No karma yoga, você tem que trabalhar e servir a todo tipo de pessoas, boas e más, e até pessoas que não gostam de você. Se elas o evitarem ainda assim você deve ver o mesmo Deus nelas. Imaginem a força que a mente precisa fazer nesses momentos. Não é fácil. Todos os dias você é jogado na fogueira e sai dizendo: “Oh Deus, obrigada, passei por mais um teste.”
Assim, a prática do karma yoga é essencial para o seu progresso. Entretanto, apenas o trabalho não é suficiente para realizar a união com o Ser Superior. Se uma emergência acontece ou você tem obrigações importantes, mesmo assim você ainda tem que achar tempo para o seu sadhana [prática espiritual ou yoga] sem interrupções. Quando eu fazia meu karma yoga no ashram [em Rishikesh], praticava pranayama quarto vezes por dia – pela manhã, ao meio-dia, ao anoitecer e à meia-noite. Às vezes não tinha tempo de praticar por causa das minhas obrigações com karma yoga. Assim, quando todos iam dormir eu fazia meus asanas e pranayamas tarde da noite. Quando eu era um garoto no exército eu já havia começado a praticar yoga. Estive no exército durante a Segunda Guerra Mundial e todos acordavam ao raiar do dia para a chamada, exercícios físicos e a parada. Eu acordava duas horas antes de todos para fazer meus asanas, pranayama e meditação. Fiz até mesmo um pequeno altar na minha cama, sob o cortinado contra mosquitos. Abria meu altar e fazia meu puja e arati sem acordar ninguém. Também praticava pranayama no escuro sem que niguém ouvisse. Eu fazia isso pois se descobrissem o que eu fazia me mandariam para ser examinado no hospital pensando que eu estava louco. Os militares não entendem nada disso.
Deus o coloca em várias situações para o seu próprio bem – para testá-lo. Por exemplo, o Mestre Sivananda e os swamis que vieram para Swargashram em Riskikesh para meditar. Mas o mestre viu o doente não como um doente, mas como Deus. Se você compreende isto, então você entenderá. Entenderam? Agora mais uma história. É bom contar histórias. Eu tenho centenas de histórias para contar, mas não tenho tanto tempo.
Um jovem e brilhante estudante procurou um grande mestre e perguntou: “Oh Mestre, não quero nada deste mundo. Estou cansado deste mundo. Quero encontrar Deus. Por favor, instrua-me. O senhor é um grande mestre e sua instrução renderá frutos imediatos.” Ao que o mestre respondeu: “Meu jovem, amanhã às 4 da manhã eu lhe iniciarei. Prepare-se. Tome um banho e exatamente às 4 da manhã, venha. Não se atrase. Essa será a hora auspiciosa em que a lua e as estrelas estarão na posição ideal. Então não se atrase.”
“Oh Gurudev, eu virei”, prometeu o estudante. Ele não dormiu à noite. Às 3:30 ele banhou-se no Ganges gelado. Tomou banho e trocou de roupa.
Ele era um jovem Brahmin. Por ser Brahmin, foi criado como religioso. Naquele tempo, um intocável não podia se aproximar da sua casa. Tinham que ficar distantes e gritar, mas não podiam entrar. Nem ele podia se aproximar deles. Se chegasse perto de um intocável, teria que se banhar por ter se “poluído”. Se seu pai ou sua mãe soubessem que ele se aproximara de um intocável, não o deixariam entrar novamente em casa. Se sentiria poluído e teria que banhar-se. Tendo sido criado por uma família tão ortodoxa e com regras tão rígidas, o jovem Brahmin se preparou para sua iniciação. Carregando flores e frutos, ele se dirigiu ao mestre para receber suas instruções.
Na noite anterior, o mestre chamou um faxineiro intocável. Todos os trabalhos braçais eram feitos por intocáveis das classes mais baixas. Limpavam as latrinas e as casas com suas vassouras e estavam sempre sujos. O mestre chamou o faxineiro e instruiu-lhe: “Às 4 da manhã o jovem Brahmin terá que se banhar no Ganges e vir para sua iniciação comigo. Quando ele chegar na escuridão, apenas o toque com sua vassoura.” Que instrução de um grande mestre! Um faxineiro nunca faria uma coisas dessas, pois é um sacrilégio tocar um jovem Brahmin, especialmente com uma vassoura.
Obedecendo às instruções do mestre, o faxineiro fingiu estar varrendo a rua que o jovem e nobre Brahmin percorria ao voltar de seu banho no Ganges, com novas roupas, cinzas abençoadas por toda parte, uma nova coroa de flores e toda sua devoção ao mestre. Quando ele passou, o faxineiro tocou-o “acidentalmente” com sua vassoura. Isto faria com que ficasse poluído e não pudesse ir à sua iniciação. Mas que nada. O Brahmin ficou horrorizado. Ele virou-se para o faxineiro e disse: “Seu idiota, cretino. Como se atreve a me tocar com sua vassoura imunda. Não sabe que sou um jovem Brahmin. Estava indo à minha iniciação e você me sujou. Agora devo tomar outro banho e fazer vários pranayamas para me purificar. Me tomará pelo menos 15 minutos para estar purificado!” Ele ficou muito irritado. Esbrajevou contra o faxineiro a torto e a direito. Entoou o canto da purificação furiosamente. “Om Bhur Bhuvah Swah…” Repetiu todos os mantras que sabia. Imagine o trabalhão que teve para remover todas as impurezas por ter sido tocado por um intocável. Apesar de todo seu esforço, o jovem chegou 15 minutos atrasado. O mestre havia dito que chegasse às 4 horas. Mas já eram 4:15. O mestre engendrou tudo isso, mas disse calmamente: “Filho, você está 15 minutos atrasado. Devia estar aqui às 4 horas. Agora já passou. Não posso lhe dar a iniciação até o ano que vem.
“Ah, mais um ano! Mas mestre, não foi culpa minha. Aquele estúpido e cretino intocável, que não respeita os Brahmins, acercou-se e me tocou com sua vassoura. Tive que banhar-me para purificar-me, entoar o Gayatri antes de vir para a iniciação. Não podia vir ao mestre com todas as impurezas do cretino intocável. Tive que purificar-me novamente. Por isso me atrasei. Não foi minha culpa.”
“Filho, apesar de ter agido corretamente, não o iniciarei agora. Não é a hora certa. Você terá que esperar um ano inteiro.”
“Oh Deus, o que foi me acontecer”, pensou. Assim, fez karma yoga por mais um ano…
No ano seguinte, o mestre disse ao mesmo faxineiro: “Desta vez, não só o toque com sua vassoura, na verdade esbarre nele, ‘acidentalmente’, claro.” O Brahmin preparou-se mais uma vez para sua iniciação. Quando vinha do seu banho para encontrar o guru, novamente cruzou com o intocável. Como for a orientado, o faxineiro jogou sua vassoura contra o rapaz, com toda sua sujeira e etc, e o jovem ficou novamente impuro. “Meu Deus, você fez isto de novo. Como pode?” O rapaz novamente o escorraçou, mas não tanto quanto no ano anterior. Correu pois não queria atrasar-se. Jogou-se no Ganges rapidamente, mas ainda assim chegou 3 minutos atrasado. “Você sabe que está novamente atrasado. Não é meu problema, terá que esperar outro ano.”
Ano após ano isto se repetiu. O jovem nunca consegiu sua iniciação, mas continuou com o karma yoga. Então, um ano ele não veio pedir iniciação ao mestre pois sabia que algo ia acontecer novamente. Mas o mestre o chamou de todo modo. “Amanhã é o dia da iniciação. Seja pontual.”
“Sim, mestre, se o senhor o quiser”, respondeu o jovem. Assim ele foi banhar-se de manhã bem cedo. Desta vez o mestre disse ao intocável: “Pegue um balde bem cheio de terra.” Você sabe, pegue a “boa” terra da latrina. “Despeje tudo nele.” Assim o faxineiro jogou no javem rapaz todo o balde com terra. Mas o rapaz nao o escorraçou. Disse apenas: “Obrigado.” Sem tomar banho ou dizer outra palavra, apenas “obrigado”, o jovem veio ao mestre coberto de sujeira, no mesmo estado de espírito em que estava quando acabara de se purificar… e pontualmente. O mestre viu que apesar de sujo, ele não reagiu ao insulto. Nem sequer notara o faxineiro intocável.
O mestre disse: “Agora você está preparado para a iniciação. Agora você está pronto pois dominou a ira, dominou a idéia de ser um Brahmin superior, e que ele é um faxineiro estúpido e analfabeto.” Ele já não via a diferença. Sua mente estava purificada pelos anos a fio de karma yoga. Como o outro que é posto ao fogo repetidamente, sovado e novamente posto ao fogo, as impurezas foram removidas.
A mente do jovem estava aberta, e agora ao repetir o mantra dado pelo mestre, não havia obstrução. Assim que repetia “A”, a energia do kundalini se elevava. Com o som “U” a energia já tinha atingido o ajna chakra entre as sobrancelhas. Quando chegou ao “M”, já havia chegado ao estado transcendental. Como uma única chama é suficiente para inflamar a madeira seca e o feno instantaneamente pega fogo, ele imediatamente entrou em estado de Samadhi.
Estas histórias ilustram o quão necessária é a purificação. O Ego não deve existir. Mesmo os melhores professores não podem fazer nada por nós enquanto temos o ego. Quando cheguei pela primeira vez [a Sivanandashram], queria fazer mais pranayama e meditação. O mestre me disse: “Vá lavar a roupa das pessoas no Ganges.”
Deus, eu nem mesmo lavava minhas roupas. Esse é um trabalho menor. Nunca fiz isso.Vim aqui para elevar meu kundalini, não para lavar roupas. Bem, esse ego deve ir embora e só aí a energia surgirá. Este é o significado do karma yoga. OK? Posso contar mais, mas isto é suficiente.

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