Saturday, November 29, 2008

 

Beato Salu e Match Point

(Assim é o Beato que andava sumido, com suas notas de rodapé. Agora com o novo filme de Woody Allen preferiu falar sobre o que viu na Globo, reprise do Match Point. Ele é como pedal de guitarra, efeito “delay” o que é bom pois as idéias ficam fermentadas e destiladas)


REFLEXÕES DESENCADEADAS PELA EXIBIÇÃO TELEVISIVA DE
MATCH POINT, DE WOODY ALLEN (TV GLOBO, 27.11.08)

Nas mésalliances[1], os ricos compram aos pobres (força de expressão: na realidade, classe média em suas diferentes subdivisões, a única com acesso aos escalões mais altos e esperanças realistas de união matrimonial, já que os verdadeiramente pobres, embora sempre conosco, estão fora da his/estória) a alegria, que esperam permanente, de sua gratidão, as famílias felizes que os mais humildes têm (ou que eles imaginam que tenham), porque unidas só pelo amor e não corrompidas pelo poder e pelo dinheiro, como as suas. do mesmo modo, os playboys ricos compram a beleza das modelos que namoram, nessa troca de ego por anatomia (que, dizia o saudoso cronista[2], é sinônimo de destino), de orgulho por dinheiro, em que tudo é vaidade. Prostituição voluntária, ou todo mundo é o lenão[3] inconsciente de si próprio, pelo menos até quando, enriquecido por anos de bem-sucedido tráfico, arrivistas finalmente arrivés, completam sua ascensão social e caem, ao fim, na fatal infelicidade dos que aparentemente podem comprar a felicidade — afinal de contas, como dizia o sábio da Aldeia Campista[4], “o dinheiro compra até amor verdadeiro”.

Scarlet Johansson representa um alter ego de si própria, uma atriz resgatada da mediocridade do esmaecido Colorado pela beleza, os lábios carnudos, negróides, leitmotiv de Allen, em desnorteante contraste com o rosto escandinavo, pura sorte genética, que atraem fatalmente seu amante, também ele egresso de uma pátria de derrotados (a Irlanda, rural, celta e católica, sinônimo de fracasso e derrisão para os nativos da Londres anglicana, cosmopolitamente anglo-saxã e financeirizada). Imagem em celulóide da Beleza, mercadoria sempre em alta, ativo acidental mais importante dos que não são filhos do privilégio econômico-social, fugaz, sim, mas a salvo, em sua breve existência, das oscilações do mercado.

No fecho, o filme lembra contos judaicos, Bashevis Singer, o problema moral reduzido à sua expressão mais essencial, o crime perfeito, a condenação unicamente na consciência, mas por toda esta vida (e mais outras, se houverem, pensariam os budistas). No caso, o puto é o homem, ambicioso e devasso, que primeiro perde sua racionalidade econômica pela volúpia do sexo, mas, ao final, recupera o juízo, mata o amor, fica com o dinheiro e vai ao teatro, ao contrário da amante que, ingenuamente, deixa um pelo outro e perde a ambos e a vida, enquanto ele fica com a bolsa e a culpa — para qual, porém, existem os ansiolíticos, ainda que pelo resto da existência, mas a preço (para ele, agora) módico. Crime sem castigo, e os ectoplasmas das duas vítimas, à diferença do colega pai de hamlet, são fantasmas inúteis nessa Dinamáquina, nessa Dinaimundo a girar eternamente podre, no qual, vaticina (citando Sófocles) o assassino agora culto, é melhor não ter nascido. No esplendor da City, só o que é ouro reluz, só o dinheiro gera o dinheiro, reprodução do capital ou do homem-Midas convertido em capital, e mesmo o emprego real do empregado relapso é ilusório em relação à verdadeira ocupação de marido charmoso da inglesa pleonasticamente sem graça, reprodutor cujo filho rico vive porque é o passaporte para sua nova vida, e cujo filho pobre não é sequer abortado, mas sacrificado no ventre de pobre mãe pobre, e por tabela. Permuta perfeita, pois, já que com ela se transfere não só renda, mas o karma da riqueza e do que se precisa fazer para conquistá-la ao longo de gerações, lavando-se assim dinheiro e pecados no sangue e no sêmen ávidos da ambição e da inveja, tão intensas que submetem até a luxúria, pecado aparentemente mais voraz. Não é bom estar aí, mas ficar aqui também não vale a pena, e a lição oculta e terrível dos mais aquinhoados aos wannabes. Tudo certo como dois e dois são cinco, pois, afinal, o livre-arbítrio é inútil, tudo já está escrito, e um lance de dedos e algo más jamais abolirá o acaso, não há alternativa à condição humana e sua existência em sociedade, Civilization (?) and its Discontents.

[1] Assim gaulesamente chamadas em indicação da origem social da expressão (nota do autocrítico, não necessariamente comunista).

[2] Paulo Francis.

[3] Afinal, como se chama o sujeito ativo do crime de lenocínio? Substituir por “cafetão”.

[4] Nélson Rodrigues, para quem não se lembra. Compreensível, pois o bairro, como o time do Andaraí, desapareceu.

Friday, November 28, 2008

 

Krugman e o Traveco Requentado...

KRUGMAN E O TRAVECO...

Paul Krugman é hoje quase uma unanimidade. Quase. Ninguém lhe nega o brilhantismo e um caráter inovador ao abordar os temas mais complexos da economia mundial. Sua principal arma é o bom domínio da retórica. Entretanto, como podemos observar ao longo de artigos de sua autoria, ninguém se insurgiu visando desafiar suas idéias como deveriam. Talvez um ou outro tenha medo de sair chamuscado do debate. Vamos dar uma passada em algumas coisas que Krugman disse e ver se seus proverbiais 15 minutos de fama (que já duram anos e lhe renderam um Nobel recente) estão prestes a se esgotar. Nada de livro e econometria, só as opiniões curtas, rápidas e rasteiras.

Ele nunca saiu da academia. Mas antes de vociferar e vituperar em jornalão foi para a revista on-line da Microsoft, Slate. Bill Gates não é bobo. Quando “fundou” a revista chamou Jack Shaffer, (então editor do alternativíssimo City Paper - da outra Washington, a capital) para se mudar para o estado homônimo, na Costa Oeste. Uma escolha peculiar, assim como a de Krugman, que se manifestava volta e meia, mas lá ganhou coluna regular. Depois foram escrever para Gates todo tipo de gente, até o Cristopher Hitchens. Saúde!

Os artigos eram saudados por todos com adjetivos como “brilhantes”, “magníficos”, de uma lucidez sem par. Mas, apesar da unanimidade em relação a esse bad boy da economia, ele não vem (re)inventando novas rodas e suas análises às vezes são rasteiras.
Trata-se de um economista interessante, com bom domínio da retórica, mas que peca pelo que mais critica: Krugman sempre afirmava que os economistas não vêm contribuindo em nada para melhorar a crise mundial, por falta de criatividade e de soluções. Pois ele tampouco propõe algo de radical e inovador. Como diria Ivan Lessa, gozado.

Talvez Krugman tivesse que ler Donald McCloskey, da Universidade de Chicago,
em seu produtivo e excepcional livro sobre a retórica econômica intitulado If You Are so Smart: The Narrative of Economic Expertise. McCloskey fala da arte de narrar
histórias e estórias econômicas. E questiona: se economista é tão esperto sobre dinheiro e finanças, todos deveriam ser ricos.

Mas Donald, conceituadíssimo, não gostava de ser homem e, após cirurgia, tornou-se Deirdre. Esteve até há uns anos no Brasil parolando. Se alguém acha que estou de brincadeira pode catar cavaco que ali tem. Ou melhor, tinha. Não mais. (Deirdre é importante e vai dar um nó tático no Nobel, adiante)

Nesse particular, quer dizer, no outro, o de narrar histórias e estórias econômicas, Paul Krugman é bom. Passa com louvor em parte do Teste McCloskey. Com ele, não existe o jargão “economês”, carregado de observações obscuras e “ineficientes” (sic). Afinal, na prática, um superávit comercial pode ser sinal de fraqueza, enquanto, para keynesianos, um déficit pode ser sinal de solidez estrutural.

Krugman questionava assuntos como o diferencial de salários entre os setores de serviços e de manufaturados, levantado por seu colega de escola Lester Thurow como sendo decorrente da jornada de trabalho, nada mais. Ele questionou Thurow na aritmética, um instrumental simples e eficaz, mas pouco utilizado por economistas hoje em dia.

Torna-se preferível manipular dúbias estatísticas. Um exemplo claro: um casal que ganha US$40 mil por ano. Com uma separação, a renda familiar cai pela metade, mas a renda individual permanece inalterada. E as manchetes do jornal já cantarolam no dia seguinte: “Cai a Renda Familiar...”

Não necessariamente.

Enfim, ele enxergou o óbvio. Seria gênio por isso? Ou se aproveitou da mídia para apenas “descrever sem prescrever”, sem dar uma antítese a várias teses? Aí está o problema com as teorias de Krugman. Ele é apenas um iconoclasta que derruba nem tanto os argumentos primários de um proponente, mas sim os desdobramentos de tal argumento levado a extremos. A frase mais bombástica de suas idéias sobre a competitividade é que seus defensores eram ineptos ao lidar com números.

E daí?

Mas justiça seja feita, Krugman descamba para a metáfora, para a visão lúdica e poética da arte (sim, a arte) de descrever argumentos econômicos, que escapam à compreensão mais genérica.

O Início

Foi como integrante do corpo de professores do MIT que Krugman escreveu o artigo que o catapultou para o estrelato, em 1994, na Foreign Affairs, intitulado “Competitiveness, a Dangerous Obsession”. O título escolhido então já denota uma certa jogada de marketing.

A competitividade era a grande panacéia no início dos anos 90 e ele se insurgiu contra a maré. Mas Krugman tratava, e ainda trata, apenas de (como disse acima) demonstrar o absurdo que é levar qualquer proposição ao extremo. Nesse artigo sobre a competitividade, ele demonstra que é inimaginável considerar que os Estados Unidos e o Japão – na época - (ou quaisquer países) seriam competidores, assim como a Ford e a GM. Houve até tubos de ensaio visando criar escolas de geoeconomistas e coisas afins, dada a obsessão com a competitividade. Coisa que vem desde Ricardo com a vantagem comparativa a Michael Porter com a vantagem competitiva. Mas foi a gênese paradigmática de Krugman que enfiou grãos de areia nos motores de teóricos mais apressados na economia (não na turma do MBA).

Sobre a competitividade, ele resumiu o problema em três vertentes. Segundo ele, como fator empírico, era um argumento infundado. Depois, definir problemas econômicos como decorrentes de competições internacionais é pouco atraente e contraprodutivo, não levando aos objetivos desejados em termos de política interna. Finalmente, a preocupação com a competitividade é tão perigosa que poderia gerar desvios na condução dessas mesmas políticas econômicas internas, tipo déficits visando financiar exportadores e proteger setores da excitação do embate, da partida, da competição, em que há um vencedor e um perdedor. Segundo ele, tal idéia vende bem. Nada mais. Aí está a ironia. Vende tão bem que ele entra no embate que critica. Ele compete com e contra a própria competição.

Voltemos ao meu traveco favorito. Aqui, vale a pena citar Deirdre McCloskey outra vez: “Como outras artes e ciências, a economia se utilizada tétrada retórica: fato, lógica, metáfora e estória. Portanto, quem deixa de usar parte da tétrada vai estragar sua ciência”. Aí é que Krugman escorrega.

Depois disso, já famoso, citado por todos os economistas modernos, Krugman mandou outro petardo controverso. Trata-se de um artigo, outra vez publicado na Foreign Affairs, intitulado “O capitalismo é produtivo demais?”.

Já de antemão, como se diz nos Estados Unidos, vê-se o sarcasmo no título escorrendo de sua boca. O primeiro parágrafo fala na eleição de Lionel Jospin na França, que marcou, a partir de 1997, uma volta dos socialistas ao poder na Europa desde a queda do Muro de Berlim, culminando nas eleições alemãs no final de 1998. Tendência já revertida. Segundo Krugman, há uma crença na “superabundância global, de que o capitalismo é produtivo demais para seu próprio bem e de que, graças ao acelerado progresso tecnológico e à difusão da industrialização nas economias emergentes, a capacidade de produção aumentou com mais rapidez que o volume necessário de produção”. Ou seja, a resposta dele ao concluir o artigo é de que o capitalismo não produz demais para seu próprio bem. Produção pouca é bobagem. Nesse artigo, ele passa um rolo compressor na esquerda. Que agora tantos afagos lhe faz...

A parte descritiva do artigo é boa e derruba alguns mitos. O que se esperava, após a crise da dívida do Terceiro Mundo, mitigada pela securitização da mesma através de Tesobonos e depois Brady Bonds? Esperava-se que o Terceiro Mundo fosse uma máquina mortífera de exportadores que, ao acumular um caixa respeitável de hard currency, pudesse assim começar a reduzir suas mazelas socioeconômicas. Qual nada. Conseguimos parte disso.

A economia mundial se transformara. Para poder exportar, é necessário importar mais e mais bens de capital. Como diria Krugman, suponha o encontro com “um economista de 1840 — quando a maioria se dedicava à agricultura e os têxteis ainda dominavam o incipiente setor manufatureiro — e que disséssemos a ele que, dali a 150 anos, cerca de 2% da força de trabalho cultivariam todos os alimentos e menos de 1% produziria todos os tecidos; e suponha que pedíssemos a ele que explicasse o que o resto das pessoas faria para viver”. Evidentemente, a resposta do economista, como diz Krugman, não seria satisfatória. E fica claro perceber que os franceses socialistas que pediam o fim do self-service no posto de gasolina – sob(re) Jospin - como forma de diminuir o desemprego, eram pessoas carentes de oração e piedade.

Krugman escreveu um artigo que repercutiu muito após a eclosão da crise tailandesa, quando o baht foi desvalorizado e ele, utilizando sua conhecida ironia retórica, disse que havia perigo de “bahtulismo” na região. Esse foi o artigo que Pedro Malan recomendou como leitura aos oficiais da corte então. O artigo critica a dependência do capital estrangeiro sem contrapartidas que assegurassem ao país em questão menor volatilidade no fluxo. Aqui ele consolidava sinais de sua pós-modernidade.

Outra vez, McCloskey: “Na filosofia, após o modernismo, conhecemos mais idiomas carecendo de seres humanos que os falem. Na arquitetura, conhecemos mais construções sem teto. Na pintura, mais quadros sem profundidade de campo. Na economia, passamos a conhecer mais modelos sem contato com o mundo real.”

A narrativa de Krugman é rica e fecunda. Mas uma maior supervisão oficial ao fluxo de capitais esbarra na invisível burocracia global, que ele tanto critica. Se estivesse tudo regulado e sacramentado não estaríamos metidos na encrenca atual, assim parece crer a grande maioria. Controlar como?

Auto-crítica

Contudo, em maio de 1998, ele mais uma vez publicou outra longa boutade na
Foreign Affairs, intitulado “A Fanfarronice dos Estados Unidos”. Diga-se de passagem
que esse é, talvez, um de seus artigos menos proféticos – apesar do título. Discorrendo sobre a (então) boa fase econômica de seu país, Krugman questiona outra vez os problemas estruturais na utilização de estatísticas e seu impacto empírico na economia com um exemplo curioso: o do motorista que leva o carro à oficina, pois toda vez que este ultrapassa 60 km/h começa a trepidar de forma perigosa. Ocorre que o mecânico viu que o hodômetro estava desregulado e que o carro começava a trepidar quando estava
andando, na verdade, a 80km/h ou 90 km/h. Enfim, podemos deduzir aonde
Krugman quer chegar com essa argumentação.

Ele ainda discorre sobre a “euroesclerose” e problemas estruturais asiáticos, com atenção especial voltada para o Japão. A parte mais interessante da análise diz respeito a como essas oscilações mundiais poderiam afetar o castelo norte-americano. Há observações que alguns poderiam ver como proféticas e que outros criticariam como falta de compreensão da atual integração dos mercados financeiros. Diz Krugman: “Nada disso indica, é claro, que os Estados Unidos estejam à beira de uma crise; sua economia parece fundamentalmente sólida. Mas o atual sentimento de que o país está no topo do mundo se baseia em um enorme exagero das implicações de alguns outros poucos anos ruins em outras regiões.”

Não é que outras regiões estivessem passando por momentos ruins, e sim a própria
implicação do que a crise — caso se tornasse endêmica, eclodindo de forma contundente
e decisiva — teria nos Estados Unidos. No auge das crises tailandesa e russa , o índice Dow Jones deu apenas uma tossida, caindo nos três casos não mais do que 2%. Ainda assim, recuperando-se no fim da semana. Portanto, o pensamento mais catastrofista de que países emergentes podem pôr os Estados Unidos e a Europa de joelhos não parece ser
confiável. Os fatos estão aí como prova. A ordem dos fatores agora alterou o produto.

Krugman joga por água abaixo a velha teoria de que o economista executa melhor sua tarefa quando olha para o passado como um paleontólogo, um geólogo ou um historiador. Usar apenas fato e lógica — elementos da tétrada citada por Deirdre McCloskey - não é suficiente nem para o raciocínio humano. Na economia, muito menos, pois após os resultados teóricos e as observações empíricas, o embate ideológico prossegue. Ou como diria McCloskey, “um economista é um expert que pode te dizer amanhã porque o que ele previu para ontem não ocorreu hoje. Ou seja, no prognóstico pode-se esperar apenas estar afortunadamente correto ou inteligentemente errado.”

Krugman, em relação à nossa penúltima crise cambial, com a posse de Armínio Fraga no Banco Central, escreveu um artigo em que o essencial se resumia a dizer que a política de juros altos não era apropriada. Ora, o mercado determina as taxas de juros e ninguém, em sã consciência, é a favor de juros altos. Quando eles assim estão, os únicos remédios são o purgante fiscal ou a embriaguez monetária. Dá no mesmo, cada um que escolha de acordo, como time de futebol.

Krugman cai de pau nos “especuladores”. Ele diz que não é um grande fã da série televisiva Arquivo X e de teorias conspiratórias em geral. Entretanto, “às vezes, as conspirações ocorrem (...) Soros ‘especulou’ contra a libra em 1992 (...) e um grupo de fundos tentou provocar a queda da bolsa de Hong Kong”.

Hmmm... Prêmio Nobel?

Cadê o Ronaldo Fenômeno quando preciso de um centroavante?

A tão propalada teoria conspiratória poderia ter uma pitada de veracidade? Claro que ele falou com muito sarcasmo e alguns fundos hedge são gananciosos. Novidade? Gênio
é quem enxerga o óbvio? Krugman. Sua aposta tinha dado lucros de dar inveja aos fundos hedge. Até chegar a crise. Virou unanimidade. Por falar o que não disse.

De volta a McCloskey, seria esperar demais que economistas fossem experts em como ganhar dinheiro? Se ser expert é a pessoa que sabe cada vez mais e mais sobre cada vez menos, corretores de ações não ficariam ricos se não dessem assessoria financeira a órfãos e viúvas. Mas economistas ficam famosos ao dar munição a governantes.

E o nome de Krugman não é, nem nunca foi mencionado, para despachar e dar pitacos oficiais junto aos barnabés e à nobreza instalada no pântano próximo ao Potomac. Já McCloskey seria parte da simbólica coalizão do arco-íris. Da escola de Chicago, cidade eleitoral de Obama.

Gozado.

Tuesday, November 25, 2008

 

António Emílio Leite Couto


Foto do Mia quando fez o que fez e aprontou (duplo). Isto sendo apenas um micro-intróito descritivo para incautos. Quem não parar o que está fazendo agora e pegar um livro do (moçambicano) Mia Couto é mulher do padre. Ora, até estas também deveriam pegar um livro do Mia com presteza. “Venenos de Deus, Remédios do Diabo” é uma mini obra-prima. O “Terra Sonâmbula” foi considerado um dos dez melhores livros publicados no continente negro no século passado. Portanto, vamos enxugar tudo e deixar dois trechinhos para se ter o gosto da dicção. Boa obra pra se ler em machimbombos em dia de enchente, quando estamos parados no trânsito. Melhor que auto-ajuda pois nos faz compreender o lado bom do sofrer e como é se acabar – literalmente – na folia.

Sobre o fato de se estar fodido e perder tudo, dá-lhe:

“...Mesmo para nós que tínhamos bens, a vida se poentava, miserenta. Todos nos afundávamos, menos meu pai. Ele saudava a nossa condição, dizendo: a pobreza é a nossa maior defesa. A miséria faz conta era o novo patrão para quem trabalhávamos. Em paga recebíamos protecção contra más intenções dos bandidos. O velho exclamava, em satisfação: - É bom assim! Quem não tem nada não chama inveja de ninguém. Melhor sentinela é não ter portas.”

Sobre o pai de um personagem desgostoso com o desaparecimento do filho e que se entrega à sura, espécie de vinho de palma.

“...Meu velho se embebedava...O estado dele foi se reduzindo até ficar menos de uma lástima: carapinhoso, aguardendo nos bafos. A sura era seu único conteúdo. Um dia lhe encontramos, tão repleto, já nem falava. Borbulhava espuma vermelha pela boca, pelo nariz, pelos ouvidos. Foi vazando como um saco rompido e, quando já era só pele, tombou sobre o chão com educação de uma folha.”

Isso é Terra Sonâmbula, a história não conto.... Mia, filho de Maria de Jesus...

Monday, November 24, 2008

 

Mais Carneiro

No meu lado delirante
Tem sempre um anjo vadio
Andando de trás pra diante
Bêbado feito uma porta
Proclamando aos sete ventos
Que o mundo não tem saída
Dizendo que não suporta essa vida

No meu lado burocrata
Tem sempre um pobre diabo
De paletó e gravata
Em pleno verão carioca
Que às vezes perde a cabeça
E canta choroso e terno
Quero que você
Me aqueça nesse inverno

No meu lado delinquente
Tem sempre um tipo valente
Que tem o olhar muito louco
E desafia o futuro
Que ama o cheiro da rua
Costuma andar na avenida
Do lado escuro onde a vida continua...

Friday, November 21, 2008

 

Fim de Semana de Solenidade de Cristo Rei... O Maior Bode...

Nesse Fim de Semana mesmo de Zumbi do Mato... De Lois Lancaster... Olha só as leituras que loucura. Tudo blague mesmo do Divino e tudo ovino pra lá e pra cá... Calendário canônico oficial. Coincidência não existe.... Ferro na boneca mesmo...

Ezequiel

E veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza, e dize aos pastores: Assim diz o Senhor DEUS: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar as ovelhas? Comeis a gordura, e vos vestis da lã; matais o cevado; mas não apascentais as ovelhas. As fracas não fortalecestes, e a doente não curastes, e a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza. Assim se espalharam, por não haver pastor, e tornaram-se pasto para todas as feras do campo, porquanto se espalharam. As minhas ovelhas andaram desgarradas por todos os montes, e por todo o alto outeiro; sim, as minhas ovelhas andaram espalhadas por toda a face da terra, sem haver quem perguntasse por elas, nem quem as buscasse. Portanto, ó pastores, ouvi a palavra do SENHOR: Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que, porquanto as minhas ovelhas foram entregues à rapina, e as minhas ovelhas vieram a servir de pasto a todas as feras do campo, por falta de pastor, e os meus pastores não procuraram as minhas ovelhas; e os pastores apascentaram a si mesmos, e não apascentaram as minhas ovelhas; Portanto, ó pastores, ouvi a palavra do SENHOR: Assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu estou contra os pastores; das suas mãos demandarei as minhas ovelhas, e eles deixarão de apascentar as ovelhas; os pastores não se apascentarão mais a si mesmos; e livrarei as minhas ovelhas da sua boca, e não lhes servirão mais de pasto. Porque assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu, eu mesmo, procurarei pelas minhas ovelhas, e as buscarei. Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que está no meio das suas ovelhas dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas; e livrá-las-ei de todos os lugares por onde andam espalhadas, no dia nublado e de escuridão. E tirá-las-ei dos povos, e as congregarei dos países, e as trarei à sua própria terra, e as apascentarei nos montes de Israel, junto aos rios, e em todas as habitações da terra.
Em bons pastos as apascentarei, e nos altos montes de Israel será o seu aprisco; ali se deitarão num bom redil, e pastarão em pastos gordos nos montes de Israel. Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas, e eu as farei repousar, diz o Senhor DEUS. A perdida buscarei, e a desgarrada tornarei a trazer, e a quebrada ligarei, e a enferma fortalecerei; mas a gorda e a forte destruirei; apascentá-las-ei com juízo. E quanto a vós, ó ovelhas minhas, assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu julgarei entre ovelhas e ovelhas, entre carneiros e bodes.

Mateus

E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes. Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna.

Thursday, November 13, 2008

 

Barracobama

Sobre ele disse um amigo meu e eu cito. Coisa dele:


".... Barracobama: trata-se de um moreno alto, bonito e sensual que talvez seja a solução de seu problema, como diria Berlusconi. Eu, humildemente, acho que ele será o messias de porra nenhuma e que a data de 4 de novembro de 2008 terá tanta importância no calendário mundial quanto a da assunção de Margareth Thatcher, uma mulher, no reino da Dinamarca, declarando guerra aos das Ilhas Falcolandas. Ou seja, nenhuma, apenas mostrar que o poder iguala homens e mulheres... A cabeça do cara é forjada em Harvard, tem mais a ver com Mangabeira Unger que com o Obina. Lula também já provou que ser humano é tudo igual, faça chuva ou faça sol. O máximo que o Barrack pode representar é uma nova desilusão. Data marcante foi o 11 de setembro. Representou um evento inominável. Eu me lembro direitinho onde eu estava quando os aviões explodiram contra as torres gêmeas..."

 

Vinnie

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Wednesday, November 12, 2008

 

Fukuyama, Conversão, Desejo de Reconhecimento, Hegel, Reich der Freiheit, Esquerdas, Thymos, Exumação do Japonês, Je (Ne) Suis Jesuíta, o Fim, e o Dia

A História acabou? Não. Até os EUA estão estatistas. Ob-amados. Ex-tado. E os chineses capitalistas. Confuso? Ora... Vamos ver se ela acabou ou se isso aqui é um espasmo do que teclei há dois segundos. Hoje é o passado do futuro.

Francis Fukuyama (escolhi ele aleatoriamente, pode ser você o leitor, como veremos) tem muito em comum com protagonistas de movimentos como o dadaísta, beatnick, hippie, etc... Como seus predecessores, ele é mais um incompreendido. Vários artigos foram escritos no século passado sobre seu ensaio questionando – e não afirmando - se a história estaria chegando ao fim. Acho que 90% dos resenhistas e “editoriadores” não devem ter lido o ensaio original que deu no livro. O ensaio era chamado “The End of History?” (acompanhado por esse importante ponto de interrogação), e saiu na obscura The National Interest. Obscura em todos os sentidos, mas isso não vem ao caso. Mas aí o Francis (hmmm) deu asas à sua sofisticada e controvertida obra, que de ode insípida ao neoliberalismo tem pouco, na verdade.

Comecemos por essa conceituação sobre o caráter finito da história. Para os mais incautos e ingênuos, deve ser dito que até hoje Fukuyama não prevê o fim de eventos significativos, das ocorrências que constituem a própria fábrica da História.

Fala-se aqui sobre a finalidade (um duplo, por favor) da História.

No mundo ocidental, esse conceito tem sua origem na idéia judaico-cristã, cuja razão de ser está intimamente ligada ao “fim dos tempos”, ao apocalipse. Ainda que você não goste do cheiro de napalm de manhã, sabemos que a dissociação filosófica entre o religioso e o científico, o resgate do conceito de finalidade da história, deu-se no Iluminismo, principalmente através de Turgot e Condorcet – no campo das idéias. Este inclusive delineou uma história universal do homem em seu “O Progresso da Mente Humana”, enumerando dez estágios distintos. O último seria caracterizado por igualdade de oportunidade, liberdade, democracia e educação universal (grifo meu).

Kant também sugeriu depois tal conceito. Para ele, “a história do mundo nada mais é do que o progresso da consciência da liberdade.” Isto é, Kant via um propósito final inerente no auto-questionamento do homem sobre seu destino e potencialidade. Tal propósito se reflete no progresso cívico e científico da humanidade.

Mas Fukuyama se ampara sobretudo em Hegel. Antes de Zizek. Nesse ponto ele também é incompreendido. Ocorre que Hegel, no mundo de idéias anglo-saxão, era visto como um apologista reacionário da monarquia prussiana. Até Marx (hegeliano também sim sinhô!) dizia que Hegel era um entusiasta da burguesia (sic). A visão de Marx é importante, como sempre. Assim, achavam que Hegel queria preservar boa parte das atividades econômicas longe da rede do estado e nas mãos da burguesia. Ora, mas essa antagonizava com o absolutismo na época. Era a Zona Oeste de então. O cara então tava com o mocinho e não com o bandido. Se bem que nunca se sabe...

Basta dizer que para Hegel, a culminação do processo histórico – daí o interesse de muitos e também o desinteresse de outros tantos por suas idéias – viria com a realização de conceitos universais como liberdade e igualdade. E o estágio final viria quando atingíssemos um estado de total auto-consciência (sic). Pronto. Fim de papo no Maraca. Psicanálise, ciência política, filosofia e economia numa grande suruba. Essa orgia denota-se em termos que roubaram do estudo da alma, filosófico, para “outorgarem” a outras ciências. Conceitos como “crédito”, “acreditar”, “crença”, e “confiança” tem uma raiz pecuniária que foi jogada no colo até da psicanálise. Que agora devolve a peteca pra economia nas pesquisas de confiança do consumidor. Muito Nobel de economia recente foi concedido a trabalhos relacionados ao comportamento de agentes econômicos.

Assim o marxismo – reflitam bem – está nessa mesma corrente teleológica. Ou seja, o marxismo tem um propósito final que visa atingir a plenitude de igualdade sócio-econômica. Dentro desse prisma, seria arriscado criticar o trabalho de (não) marxistas. O comunismo representa não um estágio superior à essa “democracia liberal” que mal se sustenta mundo afora, e sim o mesmo estágio. Pois contribui para a difusão da idéia de liberadade e igualdade hegeliana. Ambos arremedos ideológicos, é claro, oriundos da Revolução Francesa. O que já estava mais do que claro, a essa altura.

O fracasso daquele comunismo tosco e fora de moda, nos faz ponderar se a história universal concebida por Hegel não seria na verdade mais profética do que a sua versão marxista atual. Falamos da auto-consciência. E aí ela se confunde com o individualismo. Uma pena. Mas Marx, como veremos no final – com trocadilho – tem a melhor resposta para isso. Jung pensou no inconsciente coletivo, mas ele nos afastaria do bem-estar, dentro desse prisma. A inconsciência seria a antítese de Marx e Hegel. O consciente “in” no caso está “out”. Portanto a mola mestra dessa democracia liberal meio apatetada que temos por aí está fortemente associada ao conceito da auto-consciência absoluta de Hegel.

A isso soma-se também um desejo de “reconhecimento” no plano abstrato (por vezes espiritual), o thymos platônico, que impulsionaria o homem coletivamente. Como falamos aqui num plano não-normativo, a hipótese hegeliana (ou fukuyamense, ou a sua, e não a minha) parece curiosa. No bom sentido. O número aparente de escolhas que um país tem para determinar sua organização econômica e política diminuiu através dos tempos. Não há nenhuma ideologia, fora o embate dialético de sempre, que possa ter uma pretensão mais universalista. Mormente acompanhada do imanente ou religioso.

O conceito da União Européia aponta para esse caráter de observar a “finalidade” da história. Até mesmo a expressão de Lula, “Nunca na História do País....”, é hegeliana. Algo então já nasceu, sob o conceito de nosso presidente, fora do escopo histórico e ali permanece. E ele é (de um partido) de esquerda.

Quanto a essas porradas que observamos e inssurreições nacionalistas em territórios menores, skirmishes, não passam do que Alexandre Kojève chamava de “bonapartismo-robespierriano (sic) que obrigou a Europa pós-napoleônica a acelerar a eliminação de sequelas anacrônicas de seu passado pré-revolucionário”. Ou seja, temos aqui e ali um surto de inconsciência ufanista, mas é parte do estágio natural rumo à auto-consicência pós-histórica.

Voltando de novo. Antes da derrocada do comunismo tosco, vestido de Ducal, tivemos a derrubada de vários governos de direita na Europa nos Anos 70. A coisa é cíclica, mas como PT e PSDB, todo mundo é da Rua Maria Antônio – ou seria Antonieta? Fazem o revezamento de bastão. Uns acham que isso basta. Outros também, mas com um diferente significado e conotação para a palavra.

Voltando ao fim da história, o título do livro de Fukuyama é “O Fim da História e o Último Homem”. Esse cara aí vem a calhar. O desejo de reconhecimento, por humanos e nações, vem acompanhado pelo orgulho, paixão, raiva e violência. Características do ser humano e do animal irracional (na nossa malta temos alguns de tal espécie representados). Isso é o próprio combustível do processo histórico.

O argumento engloba dois tipos de “primeiro homem”. Um hobbesiano, que, preocupado com o mundo cão, e motivado por um desejo racional de auto-preservação, acabou dando no “último homem” de hoje. Este, por sua vez, seria complacente e absorto em si mesmo. Segundo George Gilder, essa espécie de “primeiro homem” tem na sua “busca da felicidade” a falha fatal do mundo ocidental de nossos dias, pois sua morosidade torna-o incapaz de defender-se dos assaltos relativistas. Pois o relativo é um absoluto em si, conceitualmente falando.

Mas temos também um “primeiro homem” nietzschiano, que se arrisca mortalmente em nome do “reconhecimento” (palavra recorrente no hegelianismo - Freud gostava muito) e respeito por suas idéias.

Então o “último homem”, cidadão desse reino liberal democrata final, é segundo Fukuyama – pasmem – “um homem vazio e quase sem razão de ser”, pois seus desejos, ideais e busca já teriam acabado. Será? Quando vejo o Berlusconi na TV, acho que não. O problema aí é originário do conceito de Nietzsche de que a (então) moderna democracia não representava a auto-realização e transcendência (self-mastery) dos que eram escravos (sic), e sim a própria vitória total (sic) dos escravos, trazendo consigo uma espécie de moralidade escravizada. Revolução Francesa? Sei lá...

Com isso apóia-se – prescritivamente - uma política séria e real de direitos humanos, que passa pelo ambientalismo tonificado, algo impensável num regime ancorado na real politik ou de emergentes botando as manguinhas pra fora. Quando é o caso, sempre se fala em aumentar o orçamento militar, comprar submarino nuclear etc... Claro. Pois a ironia final de toda essa conversa está presente na conceituação marxista da luta de classes. Estas lutavam entre si por um “domínio” (mais um duplo, por favor). Assim, nos lembra Kojève, havia o que Marx definia como Domínio da Necessidade (Reich der Notwendigkeit) e outro situado além (sic) que seria o Domínio da Liberdade (Reich der Freiheit) no qual os homens não lutariam e trabalhariam o mínimo possível. Reich pode ser domínio, fica mais poético e significativo.

Os espiritualistas devem pensar nisso e muito. O pessoal das filosofias orientais devia se orientar também. Sem ironias. Zen, Tao e Vedas. Vemos que Marx e Hegel apostavam no além e numa liberdade que poderia vir da auto-consciência, no que concerne a “finalidade” histórica. O materialismo dialético pressupõe um desfecho igual ao religioso. Seria pós-histórico, pois previa o fim de algo, no caso o capitalismo, ou estado (outro duplo, por favor, o último) das coisas atuais. O religioso pragmático contando seu dízimo (a César o que é de César), e o ateu espiritualista, pensando no além.

Se não é o fim da história para uns, é o fim da picada (ok, mais um duplo) para outros. O que é a mesma coisa.

Thursday, November 06, 2008

 

Um Passeio no Leste

Se olharmos para um mapa da cidade do Rio de Janeiro, somente a municipalidade, vamos ver que o Centro, ou parte mínima dele, e a Baía de Guanabara, formam a Zona Leste da cidade. Lá ninguém mora, ninguém vota, os peixes estão nadando de costas. Mas o MAM faz parte da Zona Leste - de volta ao mapa. E comemora 60 anos. Agora. O que deveria ser motivo de júbilo torna-se algo melancólico. O museu está enceradinho e entre a coleção do Chateubriand, já vista mil vezes, o que sobrou das cinzas do acervo permanente, e o que fizeram para montar a retrospectiva atual, diria que é um trabalho de Hércules. Trabalho de abnegados. Mas os próprios se auto-retratam, afirmando com coragem que não daria para fazer nem um módico de mostra com rigor e coerência artística, seja por estilo ou períodos. Ficamos sabendo do Projeto Fênix, que visa não só restaurar, mas muito mais descobrir o que pegou fogo mesmo em 1978. O museu merece mais atenção e carinho das autoridades, mas também do público, que fica em casa vendo o Faustão. Temos toda a questão da cinemateca do MAM, e o fato de que foi palco de shows históricos. Conservar o acervo. Sempre.


Aliás o MAM, não só os Centros Culturais e MNBA restaurado, pode ser uma boa esticada após a mostra sobre o “Corpo Humano” ali perto no Museu Histológico, perdão, Histórico Nacional, com essa “exibição” coordenada por uma empresa com fins lucrativos e ações negociadas na Nasdaq. Nada mais provável e plausível. Corpos humanos como isca. Voyeurismo de raio X. São muitos chineses recortados ao meio, translúcidos, dilacerados, uma espécie de Gray’s Anatomy ao vivo. Tudo isso e muito mais na Zona Leste, pois o Centro se des-locou. Está no meio das matas de Oxóssi, entre um maciço ou uma maloca. Zona Leste da Saúde, Gamboa. Zona Sudeste, descendo até o MAM. E nada mais... Literalmente.

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