Tuesday, November 25, 2008

 

António Emílio Leite Couto


Foto do Mia quando fez o que fez e aprontou (duplo). Isto sendo apenas um micro-intróito descritivo para incautos. Quem não parar o que está fazendo agora e pegar um livro do (moçambicano) Mia Couto é mulher do padre. Ora, até estas também deveriam pegar um livro do Mia com presteza. “Venenos de Deus, Remédios do Diabo” é uma mini obra-prima. O “Terra Sonâmbula” foi considerado um dos dez melhores livros publicados no continente negro no século passado. Portanto, vamos enxugar tudo e deixar dois trechinhos para se ter o gosto da dicção. Boa obra pra se ler em machimbombos em dia de enchente, quando estamos parados no trânsito. Melhor que auto-ajuda pois nos faz compreender o lado bom do sofrer e como é se acabar – literalmente – na folia.

Sobre o fato de se estar fodido e perder tudo, dá-lhe:

“...Mesmo para nós que tínhamos bens, a vida se poentava, miserenta. Todos nos afundávamos, menos meu pai. Ele saudava a nossa condição, dizendo: a pobreza é a nossa maior defesa. A miséria faz conta era o novo patrão para quem trabalhávamos. Em paga recebíamos protecção contra más intenções dos bandidos. O velho exclamava, em satisfação: - É bom assim! Quem não tem nada não chama inveja de ninguém. Melhor sentinela é não ter portas.”

Sobre o pai de um personagem desgostoso com o desaparecimento do filho e que se entrega à sura, espécie de vinho de palma.

“...Meu velho se embebedava...O estado dele foi se reduzindo até ficar menos de uma lástima: carapinhoso, aguardendo nos bafos. A sura era seu único conteúdo. Um dia lhe encontramos, tão repleto, já nem falava. Borbulhava espuma vermelha pela boca, pelo nariz, pelos ouvidos. Foi vazando como um saco rompido e, quando já era só pele, tombou sobre o chão com educação de uma folha.”

Isso é Terra Sonâmbula, a história não conto.... Mia, filho de Maria de Jesus...

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