Monday, March 31, 2008

 

Into the Wild....

Apesar de aparecer no Rotten Tomatoes, com alto índice do “Tomatometer”, o filme de Sean Penn em cartaz, “Into the Wild” (acho que Na Natureza Selvagem) é um filme e tanto. Fuck the Rotten Tomatoes! Tendo a concordar mais com o Peter Travers da Rolling Stone, que babou. O excesso de “literatice” e obras escolhidas de gancho parece realmente o currículo de segundanistas de faculdades de “liberal arts” nos EUA, daí mesmo o adjetivo de “sophomoric”. Mas as alinhavadas do Sean Penn na narrativa com as próprias citações questionáveis tornam-se bastante acentuadas filme afora. E estas ganham a conotação inicial de obras primas que são. Realmente Jack London com Tolstoy é leite com manga. Mas a narrativa é forjada literalmente na pele de couro, os que verão (ou-tono), sabem do que digo. O menino “feito” de livros foi levando paulada da vida até aprender o que é certo e de direito, e que o mais importante sim são as relações humanas. Mesmo as esfarrapadas. Temos que esperar o tempo certo para consertá-las, fazer bainha, tirar daqui, apertar ali.... Boneco batendo palma de pé apoiado no corrimão lateral.... Só uma “baixa” (se é duplo sentido fica como surpresa para quem verá o filme): a trilha sonora do Eddie Vedder é muito péssima, valei-me Pai.... Logo ele, que no YouTube tem a melhor versão de Gimme a Heart to Hang Onto com Pete Townshend num show do David Letterman, sem contar o que fez lá atrás com Pearl Jam e Neil Young até. Esperava mais esmero....

Friday, March 28, 2008

 

Jazz Quotes

What we play is life.

Louis Armstrong

I never had much interest in the piano until I realized that every time I played, a girl would appear on the piano bench to my left and another to my right.

Duke Ellington

As far as playing jazz, no other art form, other than conversation, can givethe satisfaction of spontaneous interaction.

Stan Getz

If it has more than three chords, it's jazz.

Lou Reed

The only things that the United States has given to the world are skyscrapers, jazz, and cocktails. That is all. And in Cuba, in our America, they make much better cocktails.

Federico Garcia Lorca

The memory of things gone is important to a jazz musician. Things like oldfolks singing in the moonlight in the back yard on a hot night or something said long ago.

Louis Armstrong

There are four qualities essential to a great jazzman. They are taste,courage, individuality, and irreverence. These are the qualities I want to retain in my music.

Stan Getz

It occurred to me by intuition, and music was the driving force behind that intuition. My discovery was the result of musical perception. (When asked about the theory of relativity)

Albert Einstein

After silence, that which comes nearest to expressing the inexpressible, is music.

Aldous Huxley

Anyone can learn what Louis Armstrong knows about music in a few weeks. Nobody could learn to play like him in a thousand years.

Benny Green

Over all, I think the main thing a musician would like to do is give a picture to the listener of the many wonderful things that he knows of and senses in the universe.

John Coltrane

...it bugs me when people try to analyze jazz as an intellectual theorem. It's not. It's feeling.

Bill Evans

I hate straight singing. I have to change a tune to my own way of doing it.That's all I know.

Billie Holiday

One thing I like about jazz, kid, is that I don't know what's going to happen next. Do you?

Bix Beiderbecke

Jazz music is to be played sweet, soft, plenty rhythm.

Jelly Roll Morton

This is positively not an album to play while you do a doctorate thesis on"Bergson, Webern and Charles the Vicious, Paradox or Ambiguity?"

Bob Brookmeyer

Jazz music is an intensified feeling of nonchalance.

Francoise Sagan

The whole thing of being in music is not to control it but to be swept away by it. If you're swept away by it you can't wait to do it again and the same magical moments always come.

Bobby Hutcherson

Music is your own experience, your thoughts, your wisdom. If you don't live it, it won't come out of your horn.

Charlie Parker

Men have died for this music. You can't get more serious than that.

Dizzy Gillespie

It's like an act of murder - you play with intent to commit something.

Duke Ellington

It is only by introducing the young to great literature, drama and music, and to the excitement of great science that we open to them the possibilities that lie within the human spirit - enable them to see visions and dream dreams.

Eric Anderson

If I'd known I was going to live to be a hundred I'd have taken much better care of myself.

Eubie Blake

Without music, life would be a mistake.

Friedrich Nietzsche

Jazz is rhythm and meaning.

Henri Matisse

Technically, I'm not a guitar player, all I play is truth and emotion.

Jimi Hendrix

If you're going to make a mistake, make it loud so everybody else sounds wrong.

Joe Venuti

It's easy to play any musical instrument: all you have to do is touch the right key at the right time and the instrument will play itself.

Johann Sebastian Bach

Music is the shorthand of emotion. Emotions, which let themselves be described in words with such difficulty, are directly conveyed to man in music, and in that is its power and significance.

Leo Tolstoy

Jazz is not dead - it just smells funny.

Frank Zappa

Music is a higher revelation than philosophy.

Ludwig van Beethoven

I'll play it first and tell you what it is later.

Miles Davis

I think I had it in the back of my mind that I wanted to sound like a drymartini.

Paul Desmond

Music is a moral law. It gives a soul to the universe, wings to the mind,flight to the imagination, a charm to sadness and life to everything.

Plato

It don't mean a thing if it ain't got that swing.

Duke Ellington

Have a look at our community


"Jazz at the Maze"!http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=41950558

Thursday, March 27, 2008

 

Olivia Byington (Para J. Carlos Muniz Lacerda)


Algumas resenholas já foram feitas e loas tecidas à essa grande chanteuse, compositora e filósofa musical carioca, Olívia Byington, que nunca é midiática. Mas como até diz no seu grande sucesso de fim dos 70, eu friso que ela anda com luz, iluminando o “lado escuro onde a vida continua”. Esse pocket show dela, que de bolso não tem nada, pois é enciclopédico, é uma verdadeira auto-biografia no palco. Uma coisa muito melhor do que se tivéssemos uma Laurie Anderson menos aditivada e meio acústica. Moleza. Como filha do junguiano Carlos Byington, ela mesmo confessa o papel da simbologia nos seus passos pessoais (e diria que musicais). O arrojo do arranjo exemplifica o jogo de esconde-esconde.....

O show combina uma magistral espiritualidade (o mantra inicial aos vedas e o seguinte estilhaço de harmo-melodias de uma canção de Gil louvando Nossa Senhora é a perfeita modernidade nem pós, nem pré... Ou contendo ambas, o que a torna inteira). Com um bom gosto que não vou adjetivar pois teria que usar um palavrão enorme e lindo para qualificar a obra dessa mulher. No melhor dos sentidos, obviamente. Uma vez, Abel Braga, o técnico campeão do mundo pelo Internacional do Veríssimo, ao ver o Felipe, ex-lateral do Vasco num dos seus dias desconcertantes disse: “Vai jogar assim....”

Assim é Olívia. Vai cantar assim... Vai compor assim... Mas, começando pela voz. As oitavas ainda estão lá em cima, registros além da lua. Não houve uma metamorfose como Joni Mitchell, com o registro mais baixo. Noel, Egberto, Caetano, Tom, A Barca do Sol, letras de Geraldinho Carneiro, Yves Montand, Seu Jorge, Pablo Milanés e ela mesmo. Só faltou Radiohead, mas ela escutará sem dúvida. Fará parte do seu show. Suas desconstruções de Caetano e fidelidade ao ideal jobiniano são indescritíveis. Menos, menos, menos. “Understated....” Muito bom gosto, cultura, identificação com a dissonância, diminutas e finalizadas de arpeggios, volta e meia (meia volta vamos dar, e ela dava sempre).

Esse show para quem quiser acessar seu site pessoal no MySpace está todo lá com várias noites na Sala Baden Powell por vir ainda (eu vi no Centro Cultural Carioca - magistral a escolha!) e em turnê inclusive internacional. Seu último disco autoral saiu com participação até de Bethania, pela Biscoito Fino. Já é hora da mídia jogar o spotlight a quem é de direito. Todas as letras, menos uma creio, do poeta português Tiago Torres da Silva, com um vernáculo e dicção absolutamente “brasilairas”, o que torna a empreitada ainda mais valiosa. Brasilairas com Tom de Abelaira.

Mas voltando ao show em si, é um passeio por sua vida, formação entre tertúlias com Morelembaum e Egberto, uisghe beata com Paulo Mendes Campos e Sabino, contando com letras de calibre de alto teor teórico. Na melodia, influência de Tom; junto a vocalises e cantatas eruditas que dão um alô, alô em cada uma de suas canções ou leituras. Engraçado como o material solo antigo ainda está super fresco. Com as sacadas e janelas abertas do CCC, no fim de Lady Jane, como que por inspiração divina, sinos da igreja próxima repicaram, isso tarde da noite. Leituras de Aracy de Almeida. Leituras sobre amor, desencontros e desenganos de sublime altivez.

Um dos shows e propostas mais interessantes, arrojadas e criativas destes tempos atuais. A platéia fica mesmerizada. Os “sonados” despertam e os inquietos se pacificam com essa voz angelical. A Nélida Piñon disse que se Machado existe, o Brasil tem jeito. Eu sempre fui fanático e falo aqui despudoradamente. Se ela existe, existe um Brasil do cacete! Já fiz uma aula de expressão corporal com a diva e já a encontrei na praia em longínqüos anos falando que tinha dado – naquele tempo – uma fita cassete da "ouvre" prum japonês roommate no exterior e que propaguei um pouco da chama. Não sendo sibarítico e não devendo nada a ninguém, tenho acompanhado toda a obra, até nos hiatos e silêncios. Como tiete, recomendo.... Como fã que conhece tudo faltou: “O cravo, a crise, o crime, nas barbas da polícia....” Acho que seria super atual. Sempre com o Geraldo Carneiro.... Outro Lamb, Outro Mouton, mas de outras pastagens.....


Deixo aí uma palinha da letra – editada - do seu parceiro na última empreitada, mas feito para e com Jorge Peixoto. Ele está em

http://cancoesdotiago.blogspot.com/


PRA NÃO TER MEDO
(Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: José Peixoto)
sabes de que é feito o silêncio?
sabes de que é feita a saudade?
onde é que nasce a voz do vento?
porque é que esta dor me invade
(porquê o silêncio? porquê a saudade?)
quando se apaga uma estrela
diz-me quem veste um véu de luto?
quem é que vai chorar por ela?
quem se vai calar um minuto?
meu amor, sabes que há um livro
que ninguém é capaz de ler?
só se vive
por desejo
de o escrever
nunca de mim saberei
se algum dia lá escrevi
a saudade um dia contou-me
que a minha vida é um segredo
a que eu escolhi dar o teu nome
pra não viver morta de medo
E ela em:
http://www.myspace.com/oliviabyington

 

Bela Pepita

http://www.freud-lacan.com/articles/article.php?url_article=mdorioteixeira031105

Elogio da tradução

Marcus do Rio Teixeira - 03/11/2005

"Saboreei numerosas palavras".

Jorge Luis Borges

Sempre na berlinda, injustamente assimilada à traição, a tradução é lembrada, na maioria das vezes, com a finalidade de uma comparação desfavorável com o original e, bem mais raramente, para merecer um elogio. É o mestre Borges, contudo, quem agradece à sua ignorância do grego o contato mais aprofundado com a obra de Homero através das múltiplas versões de múltiplos sentidos. Até o mais rigoroso - ou mais pedante - dos lacanianos, na solidão do seu consultório, tendo que optar entre a leitura de um texto de Lacan no original e uma boa tradução, certamente preferirá esta última, cotejando-a eventualmente com o original para dirimir dúvidas em passagens controversas. De fato, a visão mais aceita hoje em dia é aquela que considera a tradução não apenas uma mera cópia da obra em outro idioma, mas um novo trabalho de criação (entre nós, Haroldo de Campos prefere falar em transcriação) que permite ao leitor experimentar um novo prazer de leitura.

Estamos falando, neste caso, do texto literário. O texto científico situa-se num registro totalmente diverso, pela colocação em primeiro plano da necessidade de transmitir uma determinada informação e pelo apagamento do sujeito que o discurso científico preconiza. Já o texto psicanalítico, como não podia deixar de ser, herda da Psicanálise um estatuto mais complexo; se por um lado ele tem em comum com o texto científico a transmissão de uma informação e a busca da exatidão teórica, ele deve contar sempre com a irrupção do sujeito e com a equivocidade do significante - o que, por outro lado, o aproximaria do texto literário. Deixo para os apreciadores da fase de Lacan em que este acreditou poder trazer algo do rigor da matemática à teoria psicanalítica, a tarefa de conciliar estas contradições.

A minha experiência profissional, de início como psicanalista e leitor, em seguida também como editor, levou-me a estudar e comparar - e, hoje em dia, a revisar - as traduções dos textos psicanalíticos para o português. Talvez seja a partir daí que eu me permita dizer duas ou três coisas sobre esse tipo de tradução; em primeiro lugar sobre o aspecto "literário" ou estilístico, em seguida sobre o aspecto "científico", ou, melhor dizendo, teórico.

A preferência pessoal fala sempre mais alto quando se trata do primeiro aspecto e, quanto a mim, esta recai sobre a tradução que enfatiza a língua de chegada - no nosso caso, o português - e que possa fluir tranqüilamente, sem dar a impressão de um texto escrito por um estrangeiro que não domina bem o nosso idioma. Daí a minha impaciência com os galicismos, que me parecem um traço de subserviência à língua estrangeira ou mesmo um sinal de preguiça mental, como os anglicismos dos adolescentes micreiros que dizem deletar (recentemente dicionarizado, inclusive) por não saberem traduzir to delete por apagar, suprimir, cancelar, eliminar, etc. Algumas traduções de textos lacanianos parecem ter sido escritas num novo dialeto que mistura os vocabulários e as sintaxes do português e do francês.

No seu ABC da Literatura Ezra Pound alerta sobre a deterioração da língua, cujos exemplos mais flagrantes seriam a linguagem política e, atualmente, da mídia. De fato, ambas são exemplos dessa linguagem rasa, burra, de vocabulário escasso e sintaxe empobrecida que para Pound representa o estágio mais avançado do estiolamento do idioma de um povo. Como medida preventiva e curativa ele propõe o seu paideuma, uma seleção literária do que os escritores produziram do melhor para ser consultada com facilidade pelas novas gerações. O empreendimento crítico poundiano serve para nos lembrar que aquele que aspira a ser um bom tradutor de textos psicanalíticos tem mais a aprender freqüentando as obras dos grandes escritores do nosso cânone do que compulsando as obras completas de Freud e Lacan.
O que nos conduz ao segundo aspecto da tradução do texto psicanalítico. Evidentemente este diz respeito a uma disciplina que compreende, entre outras coisas, uma prática clínica e um corpo téorico bem elaborado, como todo o aparato conceitual que lhe é específico. Não podemos, portanto, tratar dessa tradução com critérios puramente literários. Há de se estabelecer, por exemplo, um acordo quanto à tradução dos conceitos, o que não é um problema pequeno considerando a babel das versões existentes hoje em dia. Imaginem, só por divertimento, uma mesa redonda sobre a Verleugnung composta por quatro ou cinco analistas: o público poderia ter a surpresa de ouvir cada um deles referir-se ao tema da mesa com um nome diferente!
Algumas vezes encontro em artigos e traduções recentes de autores brasileiros palavras-valise e conceitos lacanianos citados no original. Esse tipo de procedimento me parece absolutamente injustificável, uma vez que já existem há vários anos ótimas traduções para esses termos, muitas vezes obra de tradutores anônimos. A merecida consagração dessas traduções é o resultado de um longo processo de experimentação e aprimoramento, até chegar a um termo que ganhe aceitação na comunidade analítica. O estudo desse processo pode ser extremamente útil para compreender e elaborar a tradução contemporânea dos conceitos lacanianos.

Tomemos, por exemplo, o caso de parlêtre. Nos anos 70, tentou-se impor o uso de falesser, que não pegou, é óbvio, por ser demasiadamente marcado pelo sentido de morte, não presente no original. De circulação mais restrita, falente não ganhou adeptos, provavelmente devido à sua esquisitice. Fala-ser foi sem dúvida a opção mais pobre, por desdobrar didaticamente o neologismo lacaniano. Finalmente falasser consagrou-se como o termo preferido pelos autores e leitores; uma opção inteligente, pois traduz com perfeição o neologismo juntando duas palavras apenas com a duplicação do "s", para impedir que este soe como um "z", como observa Francisco Settineri. Note-se, entretanto, que ainda ficou de fora o sentido de letra (lettre), presente no original.

Há também uma espécie de "sub-categoria" das expressões lacanianas cuja especificidade eu gostaria de comentar. Sua característica principal é produzir homofonias perfeitas em relação a outros termos, dos quais são impossíveis de serem distinguidas pela escuta. Essas expressões só podem ser percebidas, só podem "surgir" a partir da leitura. Elas foram criadas portanto preferencialmente para a escrita, em vez da fala. Sem forçar muito a memória, me ocorrem dois exemplos: sinthome e hommossexuel, cujos pares homófonos, é claro, são symptôme e homossexuel. A minha opinião é que, tratando-se de palavras que só se distinguem na escrita, sua tradução deveria privilegiar igualmente o jogo da escritura e da letra, ao invés de buscar uma diferença pela sonoridade. É por isso que para traduzir sinthome me parece mais justo acrescentar simplesmente a letra "h" (sinthoma), abandonando alternativas mais complicadas como sinthomem, que privilegiam o significado e não o significante.

Quanto a hommossexuel, a dificuldade de tradução é ligeiramente maior. No Seminário XX, Lacan referiu-se às histéricas como hommossexuels, não por serem lésbicas mas por "faire l´homme". O neologismo lacaniano é extremamente sutil: a letra "m" duplicada remete a homme (homem), ao invés de homo (semelhante). O termo passou batido pelo tradutor do Seminário, que tascou homossexuais mesmo. Há algum tempo tomei conhecimento de uma tentativa de tradução como homemsexual. A opção me parece um tanto pesada e não faz jus à sutileza do original. É obvio que, se assim o quisesse, Lacan poderia muito simplesmente ter dito hommessexuel; se ele não o fez, se preferiu o recurso mínimo da repetição de uma letra, creio que deveríamos respeitar essa opção. Há alguns anos eu mesmo sugeri a tradução homomsexual, colocando o "m" a mais no final, como em homem no nosso idioma. Ainda não tenho certeza, contudo, de que esta tradução seja satisfatória.

Problemas como estes levaram-me a propor um esboço de um Glossário geral das traduções consagradas dos conceitos freudianos e lacanianos no Dicionário de Psicanálise - Freud & Lacan, que é a nossa versão brasileira do Dictionnaire da Association Freudienne Internationale. Trata-se de um work in progress, como o próprio projeto do Dicionário aliás. Para mostrar que o próprio autor destas mal traçadas (e bem digitadas) não é ele próprio imune aos equívocos da tradução, cito um problema mais recente com o qual me deparei. Ao revisar uma tradução de Letícia Patriota sobre Le graphe de Lacan, achei que poderia substituir grafo por gráfico, por julgar o primeiro um neologismo e um galicismo (vide a minha implicância com os galicismos). De fato, grafo, como substantivo masculino, não consta do nosso Aurélio, nem do velho Caldas Aulete, nem sequer do Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de Antonio Geraldo da Cunha, só para citar alguns. Além disso, a etimologia de gráfico é a mesma de graphe, ambas remetem à grafia.

Erro meu: grafo é palavra da língua portuguesa, do vocabulário matemático, e consta, por exemplo, da nova edição do Michaellis. O que me leva a concluir que o trabalho da tradução, além de ser infindável - o que talvez não seja uma característica exclusiva sua - não nos impede, pela sua prática, de cometer equívocos banais. E que talvez seja o amor pelo texto que nos leva a persistir, em busca de uma tradução tão perfeita quanto impossível.

Thursday, March 20, 2008

 

Pensando...

Não pense que nesses segundos
Não penso em você...
Estou cego, manco e capenga
De carinho por você...
De saudade de você...

Não pense que me esqueço
E que agüento sem falar.
Sem contar... Somente a esperar...
Um domingo ou uma segunda passar...

Não pense que eu não posso mais falar...
O que passou, ficou e deixou...
No meu canto se calou...
O restante evaporou...

No tatear, escutando a mente...
(Demente)
Ela não mente sobre onde o sentimento vai chegar...
Mas se fecha, me fecho, me tranco no calar...

Semeando uma semente
Ainda que eu tente,
Não saio do lugar...


Não pense...


Deixa que eu pense...


Tenso....


Deixa rolar....

Monday, March 17, 2008

 

Acho que Waldo Motta

CONVIDEI MEU NAMORADO
PARA IR COMIGO À PENHA.
NÃO HÁ QUEM ALI NÃO VÁ.
NEM HÁ QUEM DALI NÃO VENHA.
(1999)

EM RIBA DAQUELE MORRO
(JÁ DIZIA O POETA)
É ALI QUE O PAU COME
É ALI QUE O BICHO PEGA
(1999)

EM RIBA DAQUELE MONTE
(COMO REZA O FUXICO),
PASSA ISSO, PASSA AQUILO,
TUDO PASSA SÓ EU FICO.
(1999)

EM RIBA DAQUILO, MONTO
EM RIBA DAQUILO, FICO
EM RIBA DAQUILO, MORRO
EM RIBA DAQUILO, VIVO
(2001)

 

OFF no Nordeste ou Northeast Intelectual... O Empate no Embate....

Isso é literalmente, qualquer nota. Falo do artigo do Otávio Frias Filho (OFF), homem cujo sobrenome denota inclusive sua maneira de abordar fatos ao escrever. Seu artigo na Piauí sobre o (pós) darwinismo é primoroso. Chega a ser - paradoxalmente - caloroso. Antes de dar minha meia dúzia de pitacos mal formulados, vamos a alguns “nuggets” sensacionais. Falando de George P. Murdock, antropólogo americano, nos lembra que há congruências entre os humanos de diferente tez e inclinação relacionadas a 68 práticas. E aí lista algumas como dança, tabus alimentares, ritos fúnebres, tabu do incesto (isso é importante pra burro e pra não burro!), cosmologia, direito de propriedade e por aí vamos.... Falando então - após um passeio epistemológico sobre a sociobiologia de E.O. Wilson, mostra como até pesquisas empíricas e cientificistas não são imunes nem à de-cantada “ilusão ideológica”. Posto que “especulação e evidência” se confundem. Isso é sabido mas vale muito ressaltar mormente aqui no Brasil, onde impera – (outro) paradoxalmente – um romantismo anti-empiricista, que leva ao seu próprio contrário. Do que se vale o “criacionista” atual senão de sua respeitabilidade ao utilizar o empiricismo para derrubar os empiricistas? Soro anti-ofídico, sempre e na veia. OFF (com duplo sentido positivo, denotando isenção) inclusive fala que a “própria distinção entre a emoção e razão não se sustenta”. Isso é a pura Teoria James-Lange das emoções, sobre o que precede o quê, quase como o Ovo de Colombo, pela dificuldade da prova, e da velha conjectura entre o ovo e a galinha.

Num petardo inspirado – que espero que nenhum “criacionista” leia (ou espero que leia sim, pensando bem) – ele mata grande parte da charada darwinista, e aí peço vênia para a citação: “Como as relações de produção na doutrina marxista e as pulsões do inconsciente na psicanálise, tomada numa chave dogmática a teoria da seleção natural se converte em abracadabra para ‘solucionar’ problemas a golpe de mágica”. Que rigor! Completamente verdadeiro. Ou achamos uma rota comum entre o cientificismo e a busca do inexplicável pela tentativa da explicação (não usei a palavra religião ou o que valha de proximidade) ou só dá empate....

Há tentativas rasteiras dos que “acreditam” em se banhar no “ofurô” do empiricismo. A figura de linguagem, creio, não é infeliz, pois Henri Bergson falava do pragmatismo de William James sempre comparando o mesmo como uma imersão numa banheira quente onde a água se esquenta de tal forma, imperceptível, que não sabemos quando é a hora exata de gritar de dor. Uma dessa primeiras tentativas é o “Man’s Origin, Man’s Destiny” com o sub-título de “A Critical Survey of the Principles of Evolution and Christianity”. Tentativa péssima, sem muito rigor, mas pelo menos um livro crucial para entender como almas aflitas foram se valendo de um hiper-racionalismo (algo perigoso) para justificar o que nossos sentidos não depreendem.

Melhor ficar na discussão dos temas darwinistas, onde todos são verdadeiras “federações de genes” (sic) mas agora com um potencial de se auto-conquistar dominando esses genes. Ou eles ainda assim seriam mais “espertos” que nós e nessa própria tentativa nos encaixariam na rota da auto-ilusão? Tema muito bom. Daí vamos às inclinações. Cito OFF: “Somos dilacerados pelas trações contraditórias de cooperar, ludibriar e retaliar... (criamos um sistema jurídico e moral na tentativa de regular essa tensão permanente)”. Ou, “somos sujeitos ao ciúme sexual, porque é vantajoso não desperdiçar investimentos na progênie alheia...”.

Ou seja, no fim das contas, como houve o que OFF chama desse “assalto intelectual do neo-darwinismo”, podemos deduzir que ele é apenas uma reação ao “Segredo”, ao “Sagrado” ao próprio questionamento de “Quem somos Nós?”, onde a “turma da energia”, por assim melhor definir sem perorações pejorativas, começaram a argumentar não mais com tacapes toscos, mas com armas – senão sofisticadas – mas pelo menos com apelo e verniz de sapiência respeitável.

Fecha OFF com uma dedução bastante crível, e aqui, mais uma vez é importante citá-la: “Tudo indica que, mais cedo ou mais tarde, será tecnicamente possível interferir com segurança no repertório genético e recriá-lo. Depende das ciências humanas e não da biologia definir se esse futuro ainda envolto em névoas será mais parecido com o pior dos pesadelos ou com a maior das utopias”. Isso é exatamente uma briga entre Davi e Golias, mas não sejamos tão criativos assim para dar munição aos inimigos. Que na verdade, não existem. A guerra sempre é interna, apenas a externamos.... Somos a "federação". O caminho, o “dharma” é esse mesmo, e dele não podemos fugir, apenas descrevê-lo sem editorial e análise.

Wednesday, March 12, 2008

 

Essa Semana

(Ian Mecler, Portal da Cabala)

Existem importantes códigos por trás da porção da Torá desta semana, que fala de sacrifícios. É preciso entender que a palavra hebraica para sacrifício, Korban, está relacionada também à idéia de aproximação.

Assim, o que a Torá realmente quer nos dizer, é sobre a importância de sacrificarmos uma porção de nossa alma animal, instintiva, muitas vezes dominada pelo desejo de receber só para si.

Que nesta semana possamos nos aproximar mais uns dos outros. Fazemos isto dedicando nosso tempo e atenção à construção de uma consciência baseada no desejo de compartilhar. Não há nada mais gratificante do que levar algo ao outro.

 

Reforma Tributária

A vitória da informalidade é a única solução do país. O ApeTeuta disse em um de seus raros proncunciamentos que “não me venham com a lenga-lenga da questão tributária” ou algo parecido. O curioso é que ele não tinha tomado seu Old Eight quando falou isso senão o recheio seria adjetivado com belas palavras de baixo calão. Mas quando se vai ao Sendas e um mel no potinho micro custa dez reau, temos uma garrafa na rua custando os mesmos dez reau e de um mel de melhor qualidade. Tudo está de cabeça para baixo. Ou seja, não temos que jogar os informais na formalidade. Temos que diminuir todos os custos, com reforma tributária completa, para que os “formais” se aproximem da realidade de uma economia menos custosa, praticada pelos informais. Não preconizo obviamente a sonegação. Mas critérios tributários mais sensatos, informalizando o setor formal. Não vejo nenhum economista falando nisso. E sim vejo uma tentativa não criativa de trocar um problema econômico por uma questão de heráldica, ao de se tentar auferir brasões aos não-barões mas com armas já assinaladas e apontadas para a nossa cabeça. Tanto o governo, escorchando o micro-empresário, como o bandido na indústria do furto, que é arriscada mas que gera uma receita tampouco declarada como o Caixa 2 dos “federais”. O sistema está caduco, viciado e moribundo. O brasileiro é informal por natureza. Bastam apenas uns dois ou três micro-tributos que a base de arrecadação se ampliará compensando perfeitamente a desigualdade momentânea na arrecadação. Tem que mexer nesse vespeiro com roupa de apicultor ou não.

Tuesday, March 11, 2008

 

Pro Henri-quieto....

A porta que se abre traz luz, vento e uma pessoa….
A pessoa que te acolhe, ou que se recolhe...
Mas não deixa de ser um evento....
Quando abrimos a porta e sentimos o vento...

A que acolhe, muitas couves colhe...
A que se recolhe, senta, ouve, vive e morre...

Abir a porta é sair de dentro...
Ficar fora ou ficar por fora sem poder...

A dádiva é poder – não querer - desejar,
Mormente os seus desejos com o rodo enxaguar...
Levar ele para os outros é puro poder...
Nunca dar ao que deu,
Pedindo troco, clamando pelo que (não) é seu....

Monday, March 10, 2008

 

Mensaleiros - bom sentido - da Casa Lima Barreto na Gomes Freire...


Foto: Rogerio Carneiro
Na Gomes Freire....

 

Tenderness

Zbigniew Herbert
Tenderness

In the end what can I do with you — tenderness
tenderness for birds and for people for a stone
you should sleep in a palm in the eye’s depths
that’s your place may you be woken by no one

You spoil everything you get it back to front
you contract a tragedy into a pocket romance
you change the high-toned flight of a thought
into sobbing and exclamations into moaning

To describe is to murder because it’s your role
to sit in the darkness of a cold and empty hall
to sit solitary where reason blithely rattles on
with mist in a marble eye tears running down

Friday, March 07, 2008

 

Meu ponto de vista....


Art work and picture:
Rogerio Carneiro

Wednesday, March 05, 2008

 

Meu Deus....

Num capítulo do seu “As Variedades da Experiência Religiosa”, a ser publicado brevemente pela Contraponto, William James aborda o tema, há mais de um século, sobre como percebíamos as pessoas com fé ou tementes de Deus. O rigor e disciplina dos fervorosos adeptos vem acompanhados de um ar solene, por vezes mórbido e sombrio, ou então vindo a roldão numa atmosfera de crise, pessoal ou não. Então ele explorou a conexão entre a felicidade e a religião, perguntando: “...estariam estes conceitos conectados? E, caso não, poderíamos reconciliá-los”?

A chave estaria em primeiro trabalhar (n)a felicidade. Para o mundo ocidental, a bagagem deuteronômica judaico-cristã é um fardo e tanto, e o advento de Agostinho levou à proximidade com o Divino a um modo de viver mais austero e contrito. Alguns prazeres sensoriais realmente criam obstáculos no avanço espiritual de um indivíduo. E isso é universal, sem termos que fatiar tradições ocidentais e orientais, nem mesmo em sub-categorias teológicas. James dizia que os “religiosos” acreditam que sua fé e a alegria que essa possa vir a proporcionar seriam uma prova da verdade metafísica de sua crença. Ele fala de otimistas não-religiosos, mas depois fala de São Francisco e Walt Whitman. Ambos tinham uma abordagem meio cosmológica e panteísta em relação à vida, hiper-consciente no primeiro e inconsciente no último.

Então para a existência da sanidade mental não sistemática é necessária uma comunhão com a natureza sensorial. Precede a comunhão com o Divino, pois é nosso ponto de partida. Em Whitman isso é claro no poema “Song of Myself”. E São Francisco é o “instrumento” da paz de Deus. Nisso tudo, James faz uma justaposição então entre o estado de felicidade e o mal. Uns nascem predispostos. Mas têm que lutar contra o “mal” (evil) para atingir a felicidade. E aí podemos ter a religião como aliada ou não. Mas fazendo a distinção entre o essencial e o substancial.

Mas ele também cita o agnóstico e seu “contentamento com o finito” (sic) indicando que isso era a visão de que o universo era uma “carapaça de lagosta”. Ele crê nessa espécie de multilateralidade do universo, mas ainda assim temos muitos problemas filosóficos. Estaria Deus vivo, dentro do esquema universal? No esquema cabalístico temos o Emanador e o Receptor, nas origens. Nada de Deus, como o imaginamos ou pensamos. Então uma abordagem estritamente comportamental e universal não dá para o começo da conversa. Nem em ritos, pois o que é profano para alguns é sagrado para outros. Então a dosagem de racionalismo a ser imposta ao espiritual não deve ser desprezível.

Ainda assim, voltamos ao metafísico para obter resultados objetivos. Ou seja, na enfermidade ou doença (disease), ao tirarmos o prefixo em inglês, poderíamos obter uma calma de estar ”at ease”, ou em paz. Então a falta de paz é associada, nesse contexto linguístico, a uma doença. Ou seja é óbvio que há muitas falhas e charlatanismo no processo. Entretanto temos muitas histórias de sucesso, caso contrário as falhas acabariam com as ilusões num argumento sólido e monolítico. Ou seja, a saída é acabar com a hierarquia entre homem e Deus. Realmente essa união é bem preconizada em várias tradições.

O trabalho e tentativa árdua, segundo ele, mais a determinação, são os verdadeiros mapas do insucesso. O relaxamento e falta de preocupação com o mundano seriam a chave. Hemingway é o exemplo do avesso disso, com sua vida mimética, usando seus diabos fictícios como auto-modelos e exemplos de conduta.

Para James, a passividade, ou “a capacidade para a incapacidade” nos livraria desse senso extremo de responsabilidade que afeta o nosso motor interno. Estaríamos relegando certas situações a algo fora de nosso controle. Algo a (não) se pensar a respeito.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Free Web Site Counter
Free Counter