Thursday, May 11, 2006

 

O Messias do Planalto

No Brasil, o futebol é religião. E agora, por que não a política, já que temos quase duzentos milhões de marketeiros e técnicos? Todos aliás obrigados a contribuir para a fumaça branca exalando da chaminé do Planalto a cada quatro anos....

Pois na reta inicial da corrida presidencial, Lula parece estar lá a estalar... Apesar das crises. E quem vem no vácuo tem chance de ir além do Troféu Abacaxi. Como Alckmin. Jocosamente conhecido como Chuchu, o alquimista paulista – que está caro para como ele só – faz jus à máxima química de ser conhecido como o segundo estado líquido da água, dado o que certas pessoas pensam sobre seu carisma. E por fim, só nos resta a análise do próximo, e de seus seguidores. E ficamos assim na santíssima trindade. Composta também por Garotinho. Deste terceiro candidato aparente, diz o velho chavão que quem pariu Mat(h)eus que o embale, e – agrego - que o alegre docemente com balas de Cosme e Damião. No embate presidencial, sempre tentam abalroar a proa do líder e a dos que postulam à pústula. Mas o que poderá consagrar por fim um dos três que disparam na liderança é ver a postura mercadológica dos mesmos em termos do que absorvem de fatos, dados e sapiência. E por qual tipo de absorção de tais fatos, se via televisão, leituras, rádio, computador ou o que valha. E, principalmente, olhar para como lidam com a religião ainda que sub-repticiamente. Este é o fator principal.

E isso é fácil de fazer. O atual líder que, inconscientemente, faz a apologia da não-leitura, ao citar muitas vezes o seriado JK da TV Globo como o opus magnum da sua sapiência política, inclina-se pelo áudio-visual. Tudo bem. Talvez. Assim era Ronald Reagan e assim é George W. Bush. Os pré-citados do Norte não passaram as privações do supra-citado do Nordeste. Mas isso não é desculpa. Senão nosso maior autor não seria Machado de Assis. Lula assiste a partidas do Corinthians pela TV, não participando de confrarias, pensatas ou tertúlias. Ao contrário de Collor, não sobe a rampa planaltina, e nem leva um tomo debaixo do braço ao chegar para o despacho matinal. Não comunga das máximas de Saulo de Tarso, que veio a dar sem querer o toque de batismo final ao time de futebol caro ao presidente (e a Kia Joorbachian, um iraniano) numa carta ao povo de Corinto. “....Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos não dando [a] nós nenhum motivo de escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado...”

Deveria Lula pois, ensaiar alguns passos ainda que tornitruantes nas páginas de algum alfarrábio até... Qual que fosse... Podia pular da leitura de Monteiro Lobato, já que atingiu a propalada auto-suficiência petrolífera, a um Guimarães Rosa com prosa nonada que lhe soaria familiar.... Pelo menos Lula jamais leria um livro de cabeça para baixo para crianças como fez seu peculiar amigo Bush, MBA de Harvard.

Mas parece que quem pode angariar mais votos do que Lula e Alckmin é o Sec(re)tário Garotinho, que sempre evoca o livro fundamental e se esquece da máxima da carta de (outra vez) Saulo de Tarso ao povo de Corinto, tão caro ao presidente no futebol, e a ele, o outro postulante, no que concerne a liturgia ou teologia do cargo. “....Como entristecidos, mas sempre nos alegrando; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, mas possuindo tudo....”. Em termos de segurança pública, Garotinho inclina-se mais para dar a outra face do Novo Testamento do que se fiar no olho por olho do Tanach judaico. Ou melhor, fia-se mais no protestantismo de suas aulas de segurança pública na veneranda Scotland Yard, do que no embate nos morros cariocas. Mas lhe afeiçoa o rádio pelo que mostra sua trajetória profissional. Não nos consta que participe de programas de formação oral política debatendo autores como Maquiavel.

Quanto ao candidato tucano há uma incógnita a seu respeito. Afinal faz parte do partido de elites intelectuais, gostem ou não de suas inclinações e de seu ideário. Das pessoas que ao menos tem dinheiro para comprar livros. Mas algo parece estranho nessa não-equação. O nome científico do tucano é sugestivo: Ramphastos toco. Ou seria tosco? Não importa. Alckmin deve ter livros recomendados por sua esposa, como “Educar em Oração”, na cabeceira. Deve ter lido tudo de seu secretário de educação Gabriel Chalita – autor da obra citada – e que publicou mais livros do que viveu anos aqui nesse vale de lágrimas, reza a lenda. Opus Dei? Diz Alckmin que são calendas... De resto, nada se sabe sobre o candidato tucano, uma verdadeira tabula rasa para muitos de nossos compatriotas. Gosta de Asterix, Danielle Steel? Que tal Norberto Bobbio, Burke ou Nietzsche? Não sabemos. Por sua postura afável, parece que não saberemos tão cedo.

Mas a leitura ou visão teológica deles não nos importa. E sim a leitura que fazemos deles. E ao exarminar esse tema, vemos que isso é o que há em comum entre os três, por mais absurdo que isso possa parecer. Principalmente aos que querem ejetar o presidente do comando da aeronave – novinha em folha.... Ou seja, há um pendor pela temática teológica. Ao menos ao que parece. Outra vez, nada de errado nisso. Mormente não temos que nos preocupar com isso num país pluralista como o Brasil. Não corremos o risco de perseguir à morte um cristão que queira tornar-se kardecista ou muçulmano. Se tivermos algum dia um Mullah no comando do país que seja oxítona e não paroxítona. Ainda assim os renitentes poderiam apontar para o fato de que os oxítonas, segundo sua carta teológica, não podem cobrar juros. Aí a celeuma para o futuro da nação sairia do Copom e ia parar na Academia Brasileira de Letras.

Comments:
Seu Carneiro,
percebi pelo seu tom jocoso que o senhor deve ser um pândego ecumênico, sem a iluminação do caminho divino. Leia, por favor, o Universo em Desencanto e o senhor descobrirá que não havendo energia racional deformada, não há micróbio, não havendo micróbio, não haverá vida.
E assim caminham James Dean e a humanidade.
 
Post a Comment



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Free Web Site Counter
Free Counter