Tuesday, November 28, 2006

 

Abrindo um Negócio No Brasil... (O Globo)

Logo eu. Sempre assalariado, caí na esparrela de ter o negócio próprio, uma empresa de participações. Várias pessoas sonham com a casa própria, o automóvel quitado, as crianças formadas. Não necessariamente nessa ordem. Já os tive por graça divina. Não mais, nem as crianças, pois já cresceram demais para que eu as defina como tal. Depois de uma longa estada fora do país, resolvi voltar e tentar realizar este sonho/pesadelo. Bom, como algumas pessoas que sabem do riscado, nem adianta dar carteirada em certas coisas. A taxa de conectividade (Será esse o nome? Paguei tantas que já me esqueci) na Caixa Econômica, para dar início ao pro-labore de quem quer que seja que você vai contratar, tem que ser assinada in loco (hmmmm...) pelo titular responsável da empresa. Eu, com meus devaneios, ao sonhar em ser bem-sucedido, imaginei Bill Gates numa fila da Caixa. Não achei que fosse dar certo.

Creio que todos devem entrar em todas as filas e travar todos os duelos e embates burocráticos, e fi-lo com galhardia. Isso serve para patrões e empregados. A coisa está andando. Pelo menos é o que parece. Nem eu mesmo sei. No que o meu contador (é obrigatório ter um, não entendi ainda direito por que motivo) avisa que eu receberia vários boletos de cobrança de sindicatos e entidades que achavam, pelo perfil da empresa (obtido de forma espúria o cadastro da mesma), que ela deveria fazer parte deste ou daquele clube seleto. Mas a empresa é marxista como o sócio-fundador. Ou seja, aprecia o humor de Groucho Marx e não pertencerá a entidades ou clubes que lhe teriam como sócio.

Muita gente tem cadastro de pessoa jurídica para prestar serviços e sabem que é uma chateação. Milhares têm empresas bem-sucedidas, gerando empregos legítimos de carteira assinada, micro, mini ou máxi-empresas, não sei bem como é a alcunha.

Mas enfim, vamos ao que o presidente Lula chama de filé mignon. O principal é saber se o negócio vai dar certo ou não. Ao espocar da pistola indicando o início dos cem metros rasos, temos pelo menos uma idéia de se estamos bem preparados técnica e fisicamente para a corrida. E temos alguns dados sobre os competidores que nos rodeiam. Aqui no Brasil todo mundo se prepara para correr os cem metros rasos, mas larga outros cem atrás do resto da competição, seja ela local ou global.

Um exercício de aritmética simples demonstra que todo negócio no Brasil é inviável a não ser os escusos e ilícitos. Numa estrutura de capital simples de um prestador de serviços, o que se espera é que se preste muito, mas muito serviço, para poder empatar o jogo e tentar levar a decisão para a prorrogação. Numa empresa de participações, a coisa fica ainda mais surrealista. Ora, para os leigos e incautos, devemos observar que o rendimento dessas (e de dezenas de) atividades decorre da expectativa de receita agregada. Ainda que pudesse enumerar as brechas jurídicas legais, o conjunto da obra é natimorto. Não obstante o tamanho do capital inicial, e não vou dar munição aos competidores agora que estou mais paranóico do que nunca, você já sai, literalmente, correndo atrás. Por exemplo, fora os gastos já enumerados de pro-labore, folha de pagamentos, contador, e outros tantos, temos que olhar para o lado da receita. E aí só podemos pensar no retorno sobre o capital. Mas quando se põe o capital para trabalhar, que é de interesse do dono da voz (país), e da voz do dono (o pobre coitado), já mela tudo. Ai do capital que gere lucro. O exército de siglas marcha em sua direção como a cavalaria errante de Norcia com Brancaleone à frente. PIS, Pasep e Cofins formam a tríade inicial como o aríete que dá a primeira estocada. E aí voltamos às planilhas para jogar no vermelho o que estava no preto, num exercício de dar inveja a Stendhal. E não precisamos falar do resto, ainda que a declaração de rendimentos seja feita pelo “Simples” da Receita Federal ou não.

Ainda bem que não presto serviços. Sou imprestável para tal. E o faço por enquanto como pessoa física (esse nome em si já diz tudo sobre a natureza filosófica do ser econômico neste país). Num estudo pessoal, absolutamente particular e secreto, vi que na média, ao se auferir receitas aqui neste país, pode-se chegar a descontar em média, no agregado, cerca de 50% de encargos.

Não precisamos entrar em detalhes. Todos sabem, ninguém fala. Reforma tributária? Talvez. Lula não quer nem saber, como disse. O que importa é saber que os escândalos que pipocam não ocorrem impunemente. Ou seja, sem Caixa 2, este país não funciona. Acho que qualquer contador concordaria e afirmaria: realmente, as contas não fecham.

Então precisamos “informalizar” o setor formal, e não “formalizar” o informal. Não estou pregando a sonegação. Mas é mais fácil simplificar os tributos e lascar os informais tributando o consumo e não a renda ou o capital. O governo faria o papel de batedor de carteira, em vez do de assaltante à mão armada. Assim a desoneração seria gigantesca para os “formais” e os “informais” estariam pagando imposto sem saber.

Mas pode ser que esteja errado. Curiosamente, uma das especialidades da empresa seria assessorar outras empresas para que tenham uma gestão efetiva e moderna. Já sei o que vou dizer aos clientes. E acho que vou contribuir para aumentar a taxa de desemprego com minhas platitudes. Ou seja nem os protozoários deveriam ser proto-empresários. Mas, como bom socrático, só sei que nada sei. Como diriam antigamente, acho que preciso de uma assistência. Mas hoje em dia assistência virou ambulância.

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