Monday, July 30, 2007

 

Jackie O Globo Num Quer... (Mission-es)

Marchemos, marchemos!

Já começam a se insurgir vozes de respeito contra a política de blitzkrieg total do governador Sérgio Cabral visando minar o poder dos mandatários do tráfico de drogas e suas operações no Complexo do Alemão. Estas podem se espalhar para outras comunidades carentes, onde prevalece esse tipo de atividade ilícita.
Mas antes de cairmos no lugar-comum de dizer que não se faz omeletes sem quebrar ovos, ou de chegar ao limite do que é suportável para os cidadãos inocentes, temos que usar um melhor exemplo para esse embate. Não devemos nos espelhar no que ocorre na Colômbia ou até na maior favela em Porto Príncipe, no Haiti, a Cité de Soleil, agora aparentemente “dominada” por tropas da ONU com o contingente brasileiro adiante. As lições para o governador devem ser tiradas da veneranda Revolução Francesa.

Quando Edmund Burke disse, a propósito da supra-citada que as massas estavam se revoltando e eram revoltantes com um brilhante trocadilho (“the masses are revolting”), não se podia prever o que seria o vácuo criado pela falta de estado, ainda que na França tivéssemos uma execrável monarquia absolutista onde os cidadãos mal tinham direitos. Marx, tão admirado pelo pessoal hoje em dia no andar de cima aqui, foi o primeiro a observar – correta e ironicamente - que se tratava da primeira revolução burguesa. Isso é que é ascensão social. Assim como ocorre com os delinqüentes aqui, que já estão municiados de um arsenal sofisticado, e, muitos dos donatários, com um contigente material de dar inveja a políticos, que pelo sim ou não ou se associam a eles veladamente ou se calam. Líderes estes que têm o poder eclesiástico de por a população de joelhos quando querem, e dão voltas inclusive no judiciário corrompendo toda a máquina estatutária e legalmente concebida com propina e corrupção ativa. Ou seja, Cabral está lutando contra os girondinos e jacobinos, e não se sabe quem vai “ganhar” o embate. Parece-me que já cruzamos o rubicão e limiar entre uma Era do Medo e Era do Terror. Pois então são todos jacobinos. Cabe lembrar que em guerra civil não se aplica a Convencão de Genebra. E obviamente teremos Rambos, figuras míticas e muitos “Massarandubas” altruístas ao fim de um embate diário, regozijando-se do fato de que o dia no batente foi produtivo entre baforadas de charuto. Um outro adepto da prática tabagista e também tido como herói pelos que lutaram com armas aqui contra a ditadura, teria algo a dizer sobre isso. Podemos citar então Che Guevara sem medo de que a ordem dos fatores altere o produto, dizendo que nunca, nunca devemos perder a ternura, mas que “hay que endurecerse”.

Como parte dos que estão no poder não são afeitos à leitura, desde que a primeira produção sobre o tema da revolução francesa foi filmada em película, com o Assasinat du Marat dos Irmãos Lumiére em 1897, mais de 300 obras foram criadas a partir do tema. Em alguns, personagens fictícios entraram para o (in)consciente coletivo como Scaramouche. Não falta material para aprender e se divertir no processo. Portanto, não fazer absolutamente nada com a situação das favelas é como esperar pela Noite de Varennes, onde o mandatário supremo terá que sair correndo de charrete ou jatinho, dado que os jacobinos do mal empunharão seus fuzis para o alto dando salvos (não condutos) ao firmamento acima....

Muitas vezes, até em política externa, podemos cair numa confusão ideológica que não reflete bem os problemas que temos internamente. Jorge Castañeda, ex-chanceler mexicano durante o conservador governo de Vicente Fox, com um passado ideológico e trajetória parecida com a de FHC, nos lembra que o México sempre teve posições tidas como “corretas” em relação à região. Se opuseram à derrocada de Jacobo Arbenz na Guatemala em 1954, não romperam relações diplomáticas com Cuba, foram contra o golpe de Pinochet no Chile, apoiaram os sandinistas na Nicarágua e a FMLN em El Salvador... Isso com o gigante americano logo ali do lado bufando no seu cangote e com um regime interno unipartidário absolutamente questionável em termos do que era democracia e liberdade. Portanto, podemos ter – e é o caso do Brasil - uma voz na política externa que não esteja em sintonia com a política interna; o que não deixa de ser praxe em vários países. Isso dado que o governador Cabral é aliado político do governo federal.

Voltando a Marx, observamos paralelos que são muito similares. Diz ele que em certa hora não se sabia quem incendiava as edificações, referindo-se à Revolução Francesa. Se eram os atacantes ou defensores, conceito até – dentro do contexto atual – um tanto que até dispensável. Portanto, no que toca a política programática para se eliminar o poder paralelo não é hora de vacilar – na acepção carioca da palavra. Claro que a fonte dos problemas, como exclusão social e decorrente falta de estrutura e vácuo de poder instituido, devem ser debatidos no âmbito ideológico dentro do legislativo. E ações devem ser executadas pelo Executivo. Alguns defenderão ações exclusivas do estado, outros parcerias e outros até cortes de tributos e legalização das drogas para organizarmos o caos. Mas agora o juiz já apitou, deu-se início à peleja e é jogo de Copa do Mundo. Todo mundo está vestindo a verde e amarela e só nos interessa a vitória e o caneco. Já que as metáforas ludopédicas são as melhores compreendidas por nosso líder, não nos esqueçamos que a França e Zidane foram nossos carrascos nas duas últimas Copas onde não trouxemos a taça para casa. Muita gente do atual governo já lidou com outros tipos de carrascos em outras situações. Que aprendam a lição....

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