Friday, September 21, 2007

 

Sentiu a Dor....?


Não entenderam nada. Nada. Mas ele já sabia que isso ia acontecer. Sempre é dito que é preciso saber da penitência alheia, da margarina, da carolina. Pelo menos vivenciá-la.... Você já sentiu minha dor? Sabe como me senti daquela vez? E por aí vai.... Sei, tenho certeza, pois aquilo que senti poderia ter símiles e metáforas bíblicas: dor escaldante, sufocante, esfaceladora, esquartejante. Metáforas pois..... A dor era como uma navalha afiada passeando no sub-cutâneo da sua consciência. Como um taco de beisebol forçado ânus adentro. Uma coluna interna de Le Corbusier no ouvido como cotonete. Como um soco de Mike Tyson no auge....

Então ele resolveu, mesmo ciente de que já estava num estado de dor meta-morfínico, apimentar mais ainda a mesma com novos requintes de auto-crueldade para ver se doía mesmo como dizem. Isso já desfalecido e com o olho inchado e fechado; sem a felicidade tosca de que o outro sofre "aussi". O catzo! Os outros eram indiferentes....
Pegou cada canção que faz parte da trilha sonora. Jejuou enjoado. Privou-se de tudo que não deixasse os sentidos no estado de maior potência e grau de alerta. Pensou e meditou no sujeito/objeto como a luz branca entre as sobrancelhas que devemos ver na respiração do fogo, kapalabati. Veio (à) luz, as canções se sucediam. O enjôo (reformaram a ortografia), perdão, o enjoo, enjoou-o.
Sua cabeça começou a trabalhar ainda mais fazendo expediente extra...
¿Dolor de cabeza? No... Jaqueca mismo como de mujer...
Neurotransmissores pululavam, olhou da janela para o Filho do Divino, chegou a um estado de pura anestesia. Palavras seriam totalmente inapropriadas.... Não entenderam, não vão entender.....

Não estava com frio nem calor, pensava e não pensava na dor, tudo era um único e eterno absoluto. Aí então é que sentiu uns pingos internos no coração.... Os ventos cardíacos de Sérgio Dias. Ele soprou como o nosso Sudoeste. Veio o ar se deslocando e com ele a tormenta..... Sentiu então o órgão da pulsação como nunca. Não era sentir o bum-bum-bum que faz, ora rápido, ora não. O rápido - tenebroso e amedrontador; o devagar muito preocupante - se demasiado..... Ele o sentiu dolorido, descoberto, com frio, se congelando, exposto.
Então, da tormenta fez-se um raio que destruiu o que estava no caminho. Ele nunca tinha sentido isso. Teve que roer corda, morder, fazer xixi, cocô, tomar uma ducha, cantarolar, rir, agachar-se, fazer abdominais, levantar e deitar. Tentar... Tentar ler, tentar ver, tentar qualquer coisa....
A água da chuva já começava a sair pelos olhos... Concatenou-se com o ritmo disrítmico dos copiosos soluços. Daí aquele grito desafinado com o olhar a esmo e perdido, babas escorrendo, nariz escorrendo. A orquestra chegava no auge do brilhantismo. A empunhadura teutônica da baqueta, em vê rígido, difere do "grip" francês, ensinou seu mestre. Está na diferença entre Debussy e Beethoven. Era pancada alemoa na timpanaria toda.... Todos os sentidos agora estavam aguçados. Aí ele percebeu.... Dói no coração.... Sim, era uma dor física. Tava incomodando demais. Não dor no peito não. Só lá na esponja vermelha bombeante (obrigado Alexei).

Ele viu que não tinha sentido aquela dor da pergunta....
Ele viu que aquela dor da pergunta não tinha sentido....
Ele viu que sentiu mais que a dor da pergunta...

Não... Ele sentiu uma dor única. Uma dor bem na porra do coração. Pela primeira vez e de forma literal. O resto era dor de amor. Essa não. Pois deste verbo fez-se carne. A dor foi na carne mesmo.

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