Sunday, October 21, 2007

 

Desapego









A Prática do Desapego

Swami Durgananda

(Trad. José Gonçalves Carneiro)


É impossível aprender o desapego num livro ou apenas numa técnica. Não existe uma receita específica para o desapego. No entanto, ao aprender a enfrentar nossos medos, começamos a ver realmente quão improdutivo é o desempenho do ego e podemos nos afastar dele e prosseguir adiante. (Para praticar isso que nós realmente não sabemos o que é já é em si mesmo uma prática de desapego).

É melhor não perguntar “O que eu obtenho ao fazer isso?” ou “O que acontecerá se eu cometer um erro?” . Estas preocupações são simples distrações no que concerne praticar atos habilidosa e alegremente. É melhor estar desapegado da acão. Nós não podemos crescer sem a ação. Portanto, o desafio é bem vindo; “uma onça de prática é melhor do que toneladas de teoria .”

Nós invariavelmente cometemos erros quando agimos . Daí, nós os anotamos, corrigimos e assim crescemos. Erros são uma parte essencial do crescimento... Um praticante de yoga tem de ser corajoso e pronto para enfrentar a zombaria e pronto para enfrentar o insulto e a injúria – a mais elevada yoga. Nós temos de aprender que não somos os autores: as coisas acontecem a despeito de todos os nossos planos e melhores esforços . Nós podemos somente dar o melhor de nós e daí “adaptar, ajustar e acomodarmo-nos aos resultados.”

Não adianta dizer: “Agora eu estou completamente desapegado”, e depois continuar como antes . Nós devemos reconhecer e deixar as nossas preocupações de lado, nossos condicionamentos e nossas idéias fixas e substituí-las por pensamentos mais positivos. Para alcançarmos isto, necessitamos nos engajar na prática espiritual sob a orientação de um mestre (um professor) que possa nos inspirar e nos mostrar o caminho até que tenhamos estabelecido a nossa rota . Necessitamos de alguém a quem recorrer para pequenos ajustes e correções do mesmo modo que podemos visitar um quiroprático para ter nosso corpo realinhado. Nós sempre necessitaremos orientação sobre como corrigir nossos processos mentais. Uma vez que tenhamos aprendido a fazer isso, podemos por em prática, quando necessário, estas novas formas de pensar.

Desapego não tem nada que ver com raça, religião ou nacionalidade. Nós podemos ter diferentes constituições físicas e - à exceção de nossos temores, preocupações ou conexões com o passado de família , riqueza, posição social e finalmente com o próprio corpo – é tudo o mesmo.

Nós podemos considerar os vários mestres , trajetórias, religiões e técnicas simbolicamente como guias da luz , postados no alto em frente de nós - luz que temos meramente de seguir, sem preocupação com o objetivo. A partir do momento em que seguimos a luz nós nos libertamos do passado e do futuro e permanecemos inteiramente no presente. Isto por si mesmo já é um sinal de desapego e em seqüência já nos sentimos mais leves.

Nós sentiremos tensão e ansiedade se falharmos na prática do desapego, se permanecermos fixados no passado e no futuro, nada mudando. Veja o que acontece quando nós saímos para um feriado. Levamos conosco apenas uma mala que se torna a nossa casa. Nós esquecemos tudo o mais que deixamos para trás; acumulado em nossas gavetas e armários, todos os nossos livros e papéis, nossas moedas, selos e baixelas, nossas meias, camisas, cachecóis e capotes, e seja o que for que tenhamos acumulado. Nós estamos de fato tirando férias de nossas casas cheias de objetos indispensáveis.

Quando nós partimos com esta mala , nos sentimos maravilhosos, livres como um pássaro. Mas ao voltarmos, tão logo a chave gira na fechadura, tudo transborda novamente. Nossa vida inteira retorna com todas as nossas gravatas e cintos, camisas e sapatos. Pensamos como sempre usamos tudo isto e de qualquer modo o que fazer. Nós desejamos mandar vir uma mala enorme colocar tudo dentro e doar tudo para a caridade . Dizemos a nós mesmos , agora eu estou realmente desapegado de tudo. Estou doando tudo. Mas tão logo chega uma nova remuneração, vamos armados de nossos cartões de crédito fazer compras e voltamos do shopping carregados de substitutos do que havíamos doado. Daí, aprendemos a reduzir nossos bens gradualmente. De vinte camisas reduzimos para dezoito, depois de dezoito para dezesseis. Passo a Passo.

O desapego é acompanhado de nossa experiência íntima . Se a mente e o coração não têm uma real Vairagya, o desapego, o cartão de crédito não suportará isso por um prazo mais longo. O Banco avisará : “O que está acontecendo? Sua conta está constantemente no vermelho desde que você começou a praticar yoga...” Esta não é uma experiência incomum. Muitas pessoas chegam a extremos quando iniciam a prática da yoga e jogam tudo fora. Eles dormem num acolchoado no chão sem travesseiro. Na manhã seguinte eles estão incapacitados para andar. A mente deles reage indo ao outro extremo e consumindo indiscriminadamente. Isto não é desapego.

O verdadeiro desapego consiste em desfazer-se do apego a objetos, não em ser perdulário e irresponsável . Ele não significa que devemos nos livrar de todas as nossas posses, nem significa que devemos procurar uma nova esposa ou marido porque a pessoa ao nosso lado não tem mais a aparência que desejamos. Através da prática do desapego, nós aprendemos a viver com o que a vida nos dá e ir além de gostar e não gostar das coisas. Consideremos o corpo, por exemplo. Se você deseja que seu corpo tenha a conformação apregoada pelas revistas de hoje em dia, mas, após tentar todas as dietas, ver que nada mudou, então aceite o que você tem. Se Deus quer você como você é, não fique orgulhoso nem envergonhado, limite-se a ficar contente.

Uma coisa é controlar o desejo ardente por um bolo quando olhamos para ele e outra inteiramente diferente é controlar o pensar num bolo. Não apegar-se é um estado de espírito e como tal é um processo contínuo. Necessitamos demoradamente pôr em ordem os nossos pensamentos . Um instrutor tem ânsia de tornar-se um professor. Um professor sonha com a aposentadoria. Uma modelo deseja ser uma atriz. Uma atriz quer ser uma produtora. Um produtor quer ser um escritor. Nós nunca estamos felizes, nunca realmente contentes, até compreendermos que temos de retornar ao milagre do presente. Nós nunca seremos felizes se estamos constantemente caçando a nossa própria sombra.

Nós fazemos tantos planos. Nós pensamos, “uma vez que eu tenha feito isto, então eu farei aquilo. Eu viajarei para lá , eu estudarei isto . Eu me mudarei para lá”. Se acontece qualquer coisa que nos impede de realizarmos nossos planos, nossa felicidade está perdida. Para nos adaptarmos às inevitáveis mudanças da vida , necessitamos um certo grau de desapego. Nós certamente não devemos renunciar a nossas perspectivas e sonhos, mas quando permitimos que nossas mentes corram para o futuro, não estamos permitindo a nós mesmos gozar a vida no presente. Quando nós comemos, desejamos ler o jornal, quando lemos o jornal, desejamos comer . Isto é inquietação sem desapego.

Por favor não pense que a prática do desapego se opõe ao amor e à compaixão. Embora o desapego nos ajude a aceitar e trabalhar com o nosso próprio karma, se alguém falha e se fere, nós não podemos ignorá-los pensando que eles merecem isto e que este é o karma deles. Pelo contrário, uma marca de nossa maturidade espiritual é nós mostrarmos compaixão pelo outro que está sofrendo.

Desapego significa não apenas aceitar o momento presente, mas também desfrutar o momento presente, desimpedido por memórias do passado e preocupações com o futuro. Este é um acesso para a vida meditativa e pacífica. O medo chega com o apego e os desejos. Nós não nutrimos desejos quando vivemos no presente momento. Mas a partir do minuto em que pensamos sobre o futuro, surge a questão “o que acontecerá se ...?”. Desapegue-se deste pensamento.

Se você deseja fortalecer sua habilidade no desapego, então pratique meditação. Quando você meditar tente estar no momento. Concentre-se na respiração; concentre-se no mantra; concentre-se na luz. Entregue-se a uma energia mais alta; além do corpo e da mente. Você pode chamar isso de Deus ou Jesus, Krishna, Siva, Allah ou Buda, dependendo do caminho pelo qual sua religião o guia. Isto é desapego na prática. Nós nos libertamos do futuro imaginário assim como de nossas impressões do passado. Nós acalmamos nossos pensamentos e em silêncio experimentamos uma união com a mente mais elevada.. Vagarosamente o discernimento se manifesta. “O que eu estou fazendo aqui? Por que eu estou correndo em círculos? Eu trabalho oito horas por dia para receber todo este dinheiro e depois eu fico ocupado nas próximas oito horas em gastá-lo novamente?”

Nosso tempo livre é devorado até o fim pelo consumismo. Nós nos mantemos ocupados, correndo por este ou aquele caminho tentando freneticamente atender a nossos desejos. Então, assim que tivermos comprado alguma coisa, nós a jogamos numa gaveta. E ao sairmos para desfrutar de um feriado novamente nos esquecemos completamente dela.


Se alguém quer dar um presente a você, diga : “Obrigado mas, de fato, eu não necessito isso.” Ou como Swami Sivananda costuma fazer, aceitá-lo e depois doar a alguém, sem desrespeito – naturalmente nós ainda sentimos o amor por trás do presente – mas talvez porque alguma outra pessoa necessite realmente mais dele. Nós não temos de nos tornar colecionadores. Muitas posses criam peso e dependência, nós começamos a crer que não podemos viver sem elas.

Tão logo você começa a considerar o tempo para viver no presente, é relativamente fácil renunciar a objetos materiais. Ainda assim, isto é só o começo. Ser você naturalmente, completamente livre, é o mais elevado desapego. Como professores de yoga devemos praticar o desapego. O coração da yoga é desapego e auto-conhecimento. Eles são o cerne da prática da yoga e de nosso ensinamento. Muitas vezes você pode imaginar o que um estudante pensa ou diz sobre você. Você deve doar-se completamente quando estiver diante de outros. Ser simplesmente você, honesto e humilde, demanda um nível elevado de desapego. Pratique esta abordagem no trabalho com seus colegas. Você progredirá bem se, como parte de seu sadhana , ou prática espiritual, você praticar libertar-se da falsa identificação com o trabalho. Para treinar a mente no desapego, primeiro tente simplificar sua vida e desenvolver um estilo de vida puro. Se você vem praticando por vários anos um estilo de vida yogi, agora é a hora de praticar desapego da identificação com o ego.

Isto não é fácil, mas continue a fazer o que tem feito como sempre, dê o melhor de si sem identificação com o ego. Seja simplesmente você mesmo, cheio de amor, paciência e respeito, sem dissipações, sem muita galhofa, sem muita disposição de tomar liberdades com os outros. Isto é a nossa constante escola de desapego.

Swami Sirvananda diz que desapego de Viveka, discriminação e Vairagya , são os mais importantes sadhanas que podemos praticar através de toda a nossa vida. Porque a mente está sempre ativa e tem novas experiências, o ego está sempre pronto para nos apanhar na armadilha de novos apegos. A luta com o ego pode ser comparada a uma guerra. Por esta razão é que muitos casos espirituais são baseados em torno de guerra. Os ensinamentos éticos e espirituais de Bhagavad-Gita são baseados durante uma guerra: a guerra está acontecendo dentro de nós, uma luta entre o bem e o divertido. O bem nos conduz numa direção e o divertido nos leva a outra direção. A Guerra começa imediatamente ao acordar: devo despertar ou devo permanecer na cama? O que comerei? O que usarei para ir ao trabalho, algo elegante ou na moda? Ou será que deverei ir mesmo ao trabalho? Talvez eu devesse telefonar e dizer que estou doente. Estas são as guerras que todos nós vivenciamos; a mente pratica esse jogo com todos nós. Swami Vishnu-Devananda poderia dizer : “as tendências de descida da mente gostam sempre de pedalar a bicicleta colina abaixo, enquanto as tendências a subida dizem: não, vá colina acima e pratique o desapego”.

O verdadeiro desapego é capaz de aceitar seja o que for que a vida nos trás. Se as coisas podem ser mudadas então mude-as mas se não podem, então aceite-as. Diga simplesmente à sua mente: você pode dizer o que deseja, mas eu farei o que tiver de ser feito e me rejubilarei com isso”. Este é o verdadeiro desapego .


Comments:
Saudações...
Gostaria de parabenizar pelo blog,e saber se podemos manter contato,isso mi deixaria muito feliz.
jacklorrany@hotmail.com
 
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