Friday, May 09, 2008

 

Ca(m)bal(e)a(ndo)

Eu vi na Revista de Domingo do Globo a matéria sobre Cabala. Eu fui fazer aula mais por curiosidade intelectual apenas. E vi que não era a minha praia. Fui reprovado por mim mesmo depois, creio que por ausências. A aula era muito boa, tudo muito bom e sério. Mas me dava uma vontade danada de ir na Letras & Expressões pedir um expresso e ficar folheando a Piauí. Com saudades da New Yorker e Vanity Fair entremeada. E na matéria do Globo li coisas incríveis. Em primeiro lugar, sem saber hebraico esquece, é empulhação total. O cara passando o olho no Zohar, ou simplesmente tê-lo na estante já dava um astral bom. Como diria o Ancelmo, é pode ser... Não se trata de crítica à Cabala. Longe de mim. Mais uma questão de conciliar meios e fins.

O tripé de sabedoria é com o Torá, Zohar (salve Simeon Bar Yochai) e Sefer Ietsirá. Ocorre que os cabalistas sérios, judaicos, tentam achar a chave do mundo nos textos. O trabalho não é nem de Hércules. Trabalho para Deus. E tem uma base bonita na busca. Integridade, poder, palavra, comportamento. Busca mística com meditações, astrologia, numerologia – combate ao pensamento excessivo e desorganizado. Mezuzá na porta. Os textos precedem os vedas e o misticismo é até fonte do animismo afro. O borogodó é forte. Mas de todas as coisas que não poderiam virar pop, dada a sua proposta, é a Cabala. A adjetivação é forte. Nome que metia medo em criança, no meu tempo.

A questão dos números tem a ver com uma abordagem de engenharia cósmica para desvendar segredos. Mas.... Podemos mudar "contornos" de nossa vida, porém negar a essência e formação para abraçar uma causa que nos foi estranha até os 40 e tantos anos é difícil pra burro. Deus abençoe os que escolhem essa trilha, mas minimiza-se a dor com uma pitada de familiaridade. Mas ai é coisa pra filosofia existencial, uma coisa meio Wittgenstein (judeu) e por isso há também uma grande corrente psi debruçada nos livros de filosofia, em vez de ficar olhando raio x de cerebelo, já que temos a nova onda da neurociência...

Voltando aos modismos, pensei no Daniel Goleman, pai da “inteligência emocional” e livros afins. Trata-se de uma contradição. Um oxímoro. Quando damos vazão ao emocional e à pulsão apenas, fazemos coisas nada inteligentes; como já estamos escolados e com calo na bunda de macaco mandril de saber... Assim como “propriedade intelectual”, outra contradição ambulante. Quando madame assovia Ary Barroso aquilo já pertence ao universo. Acredito na propriedade privada, mas isso é outra coisa.

Regulamos o emocional com a razão, algo que só nós entre os bichinhos da Terra temos. Que bom aproveitar essa coisa escassa então.

Essa “neuroplasticidade” na busca de semi-religiões, ou de modos de vida e comportamento tocando no sagrado e no segredo, refere-se apenas a habilidade de poder "modelar" o cérebro através de comportamentos, sendo quase uma espécie de novo behaviorismo de Skinner. Claro que se meditarmos, passarmos a viver uma vida mais regrada e tudo, vamos diminuir os vales e picos de nossa existência, a vida é mais segura, previsível e pacífica. E isso tem um bom efeito.

Fizeram uma pesquisa, a turma da neurociência, com um estudante creio que hindu em Wisconsin, e baseado nas tomografias acharam que ele era o cara mais feliz (sic) do mundo. Eu já sou cético, daí essa melancolia que me persegue. Mas um hindu em Wisconsin ser o mais feliz do mundo foi meio duro de engolir mesmo com “brain scan”..... Não vi se ele tinha acertado na loteria ou se namorava um mulherão, mas foi meio óleo de fígado de bacalhau pra descer.... Mas acho que ele era monge, talvez esteja cometendo um equívoco.

A manda-chuva no assunto aqui no Brasil é a Suzana "Hércules" Herculano Houzel, como gosto de brincar, da UFRJ. Ela é fera mesmo, com um rigor intelectual invejável e escreve no Caderno Equilíbrio (hmmm...) da Folha. Muitos dos psis estão mergulhando a fundo na neurociência. Realmente é de muita valia. Como por exemplo no caso de abuso de susbtância química pois podemos mapear níveis de dopamina e serotonina – além de várias outras coisas - e ver quem já nasceu com o bucho não propenso a, por exemplo, lidar com o “gene-o” da garrafa (duplo sentido por favor). Ou mostra o estrago já feito...

Mas a razão e emoção devem andar de mãos dadas, como um casal feliz e em paz....

Voltando à Cabala e meditação nos 72 nomes de Deus, os vedas com 108, o abracadabra sendo o Pai, Filho e Espírito Santo (aprendi com Grissom no CSI), é tudo meio complicado. Resta medir lá no detector de metais se funciona para uns ou para outros.

A essência não muda. O Bispo Macedo deveria mandar todo mundo ler Flavius Josephus e Eusebius, não o ponta de lança luso. Mas aí é pedir demais..... No fim é simples. Temos que saber onde pisamos, temos saber até sobre a essência do vento que sacode nossas vestes, de onde ele sopra. Não é questão de ser irônico, nem nada. Que cada um encontre seu (des)equilíbrio, pois o próprio exercício de caminhar já o pressupõe. Temos que tirar um pé do chão para avançar com o outro. Então não tem jeito. Puro Raul Seixas....

Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual...
Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Maluco total
Na loucura real...
Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez...
Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza


Shalom!

קַבָּלָה

Comments:
Mas, ô meu, diga lá, o que tu tens contra a Cabala?
 
Absolutamente nada contra a cabala anonymous, nada, eh soh voce ler direito... Soh falo bem, disse apenas que nao era pra mim, nao eh minha praia...
 
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