Monday, July 28, 2008

 

Book of Job

Essa noite reli pela trilésima vez o Livro de Jó. Empate no jogo sem gols muitas vezes dói mais que derrota.

Quando perde, pronto, acabou. Diferente.

Sobre o Livro de Jó já existe mais exegese do que se pode exigir de um textículo. Mas pensavam que como era engraçado, que seria do anedotário popular a tal da paciência de Jó. Tudo de “certa forma errado”. O ser humano apenas necessita de um ponto de vista distinto para certas coisas. Nada mais. A cada novo, melhora sua percepção das coisas. Jó levou paulada a cinco por sete, apesar de ser cheirosinho, pentear o cabelo, não blasfemar, fazer tudo como rezava a cartilha. Mas eis que chega a roda viva e carrega o destino prá lá.

Ora, somos gratos a Deus sempre. Ele nos criou. Mas peraí. Nós criamos Deus até prova ao contrário, também. Não foi um Deus safardana que foi lá e foi sacanear Jó. Nem foi um Deus que foi lá ensinar Jó tampouco. A (não) contrição de Jó é que foi o real momento de aproximação dos dois. Sim, porque dúbia. O Deus criado por nós apenas mostrou a Jó que ele podia se pentear, seguir as normas, fazer tudo lindo e ainda dar com os burros n’água de todo jeito. E que esse Deus não tinha nada que ver com isso. Não foi provação coisa nenhuma. Foi reprovação no Enem da vida. Jó não foi um mané. Muito pelo contrário. Caiu nas armadilhas epistemológicas que jamais resolveremos. Ele não foi “por um segundo mais feliz”. Auto-engano. A sua tentativa foi a de ter aquela felicidade eterna, aquele rigor cartesiano de colher os frutos aqui e agora só por sua conduta. Perdeu playboy.

E eis que chega a roda viva...

Tudo necessita de alimento. Inclusive a paixão. E essa é voraz e formiguinha. Adora um doce. O Deus – criado por Jó em sua (vários sentidos) cabeça – está atarefado sempre. Como diria Ciro Monteiro, com medo de avião, melhor rezar praquele santo lá desconhezi-dízimo pois os outros estão meio atrapalhados com a lida. Portanto, no fim das contas ganhou absolvição por entender que as convenções sim devem ser seguidas, não se pode ser maluco. Não se pode. Mas devemos ser... Posto que a maluquice é a hiper-racionalidade. Ser Jó, ser Hitler, ser isso. Mas, dentro da loucura existe muita razão, apud Nietzsche. O atentado às Torres Gêmeas foi o ato mais irracional, chocante e espavorento de que se tem notícia na história recente da humanidade.

E foi planejado com uma racionalidade e frieza de escaldar ferro e concreto. Ação que levou à reação.

Jó poderia ser mais modesto. Acho que a leitura do texto nos leva a essa conclusão meio que simplória. Ai de nós se a conclusão fosse rebuscada, cavilosa e “ardilenta”. Foi uma coisa meio que simples. Jó queria ser Deus. O Deus de sua cabeça. Deu no que Deus. Mas foi sua própria percepção que o levou a uma auto-absolvição. Do Deus de sua cabeça.

Pois ninguém vai nos absolver. Não é niilismo de não acreditar em nada. Muito pelo contrário. Simplesmente trata-se de saber que no delírio, o que sentimos é real. Não temos palavra para a descrição e – muitos – nem para a discrição. O que é irreal é o que sentimos sem o delírio. Até a lobotomia pode e deve ser moderada. Pois assim ainda pensamos um pouco em vez de somente (re)agir. Retenha a mensagem, o momento e o aprendizado, mas saiba que a fábrica que começa a buzinar, é a sua. E o caminho pode ser aleatório e solitário, mas isso não é nenhum problema. Nem teorema a ser resolvido.

A vida coloca diante de nós alguém saudoso. Ou alguém não. A reação deve ser a mesma, como a que temos diante de certos problemas. Uma reação sem empáfia, moderada. O grande exemplo de Jó é que ele não nos serve de exemplo para nada, como ele mesmo constatou, com a anuência e a-provação de seu Deus.

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