Friday, October 03, 2008

 

Sobre o Cinema

Eu sou desses que não me lembro de filmes, diálogos, passagens, vou ao cinema apenas e vejo vídeos e DVDs. Leio livros também. Uns bons, segundo experts, outros uma bomba, mas divertidos. Mas vejo mais mesa redonda com o PVC na ESPN do que coisas que deveria ver da sétima ou décima-nona arte. Agora temos o Rio Film Fest. Nessa minha cidade agora parece que todo mundo ou virou cineasta ou faz parte do “movimento”. Não é possível. Filme pra tudo que é lado. Produtor, diretor, fotógrafo. Aliás o que faz um fotógrafo num filme, já que a imagem mexe e remexe? Chamam de “still”. (Tou brincando hein? Conheço vários – excelentes - que vão me dar cascudo). Still... Deixa o Aldo e a Turma do Saci saber disso lá em Brasília. E os cineastros devem mandar recados um pro outro do Blackberry, perdão, da Amora Negra.

Bom, no tempo logo após o Betamax, quando surgiu o VHS, as lojas do Exército da Salvação nos EUA, onde fui parar sei lá porque até hoje, tinham câmeras de Super-8 e até de 8, a dois pau de verde. E ainda se achava o cartucho de cem pés com três minutos nas lojas de material fotográfico. Ih, parece que estou me empertigando e já mostrando que sou do metiê. Ai, ai meu Deus.

Sou não.

Mas como o treco era barato, comprei e comecei a fazer filminho pra minha primogênita que não era minha prima, e sim filha, hoje já graúda, a miúda. Mas não fiz esses trecos de família e bebê andando como bêbado aos trambolhões. De um mau gosto tremendo. Eu fiz filme de Derrida com as bonecas da Estrela enviadas pelo correio por ciosos avós paternos. Eu filmava todas elas se desmembrando, tirando a cabeça com as mãos e braços, depois as pernas, e depois elas mesmas, como lesmas em slow motion, (ih caraca, dominei o jargão) se recompunham anatomicamente. Fácil, Pega o aparato, dá um tirinho apertando o botão e larga; muda a posição, outro teco, e por aí vai.... Eu tenho a prova cabal de tudo que fiz e filmei. Inspirado tudo por meu amigo, cujo nome não vem ao caso. Quando ele morava em Nova Iorque. Esse pegava a bicicleta e saía pelas ruas com a câmera na mão. Uma vez quase deu com os corno num cara que tirava a carcaça de um bovino pra levar pro açougue, e a cena ficou nos anais do cinema verité de poucos. Mas ele foi fazer outra coisa na vida.

Um outro amigo também. É bom paca nesse treco e leva jeito. Mas também desistiu, pelo que me parece. Eu julgo ele tão bom quanto Fellini, pra mim o maioral, meu Garrincha pessoal. Acho que todo mundo que já conheci foi Antonioni por um dia.

Mas haja assunto sobre cinema.... Agora vejo que há uma tendência a fazer filmes questionando o ver, enxergar, cegueira, miopia, catarata, astigmatismo, hipermetropia - que deixa a vista cansada até. Tudo com estéticas e narrativas de triplo sentido, pois cinema é para ser visto. Haja filosofia de filó.

Portanto, eu estou já pensando num roteiro, e fui aconselhado por uma grande cabeça pensante, a falar com um conhecido meu, que se encantaria com o projeto. Seja longa, curta ou o que for. Pensei nos sentidos. Já exploraram até o sexto.

Eu quero explorar o tato. Num lugar onde ninguém tem tato. Então teríamos o tato tangível e intangível. Ninguém ia sentir frio ou calor. Isso tem a ver com tato? Chama um médico e começa a super-faturar essa joça. Eu não tenho idéia.

Quem quiser se suicidar pode ficar famoso. Eu faria o teste de passar a pessoa por uma fogueira enorme e chegaria do outro lado já cremada. Seria verité total, tipo filme snuff mesmo – ih olha o jargão aí gente. Poderíamos abrir Club Med na Antártica e filmar praias naturistas no Polo Sul. O Troigros poderia tirar o suflê do forno sem luvas. Os boxeadores ficariam desempregados. Acabaríamos com a violência física no mundo. A morte seria indolor.

E será que tem tato interno? Tem o paladar e o olfato de Olaf. Então o cara toma cana e sente o gosto e fica com bafo. Mas fica doidão? Se não toca no sistema nervoso central via tato interno não fica. E o fumacê? Aí é intangível. Fica pior ainda de qualificar.

A audição – ou falta de – já foi explorada no cinema mudo. E o cinema surdo? Esse ainda estou por ver, perdão, ouvir.

Mas o tato gera mil perguntas. Mas não pode virar Instituto Benjamin Inconstante. Pois aí voltamos à cegueira, ou clara pra meirelles ou escura como só. Temos que ficar focados (pobre escolha de palavra) no tato. Seria ótimo no futebol. Se o atacante avança, corta a perna do infeliz ao meio, ninguém vai sentir nada e é só vir o cirurgião e grampear o membro de volta.

Enfim, idéias para o Cinema Novo. Por isso todo mundo desiste. Mas para quem tá na fila do suicídio, pode dar uma grana pros que ficarem pra trás. Na fila dos que não sentem mais nada.

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