Wednesday, February 11, 2009

 

Beato Salu sobre Caramamblocos...

ARNALDO BLOCH, OS IRMÃOS KARAMABLOCH, COMPANHIA DAS LETRAS, 2008

Em mais uma prova de que o absurdo da realidade muitas vezes supera o da ficção, Arnaldo Bloch remexe os escondidos baús de lembranças familiares e nos conta a saga de uma família, a sua, desde Jitomir, Ucrânia, até o Brasil. O resultado é algo assim como a tropicalização da atmosfera dos contos de Isaac Bashevis Singer (embora em versão mais profana) para o Rio do inicio da década de (19)20. Estereótipos são aceitos e aparentemente reforçados para logo em seguida serem desconstruídos, numa narração que é quase um exorcismo de antigos dibuks que insistem em assombrar, como se o autor-personagem vertesse em livro o drama familiar de que é protagonista involuntário, tentando inutilmente lavar em letras o carma seu e de seu clã.

Psicanálise a que assistimos como a um Big Brother em que o autor é o único vencedor (?) a permanecer ao final no consultório de sua mente, a estória revela também a intersecção da família com a História. Sobreviventes de pogroms, os renitentes capitalistas, gráficos num longínquo shtetl, não resistiram, entretanto, à Revolução de Outubro de 1917. Como tantas outras famílias Askhenazy do Leste Europeu, os Bloch, depois de muitas tentativas, empreenderam, em sucessivas levas, o êxodo para a primeira Babilônia que os aceitasse. Uma longa espera até o desembarque triunfante do patriarca Joseph em pleno Rio dos dias de outra Revolução (Tenentista, não Bolchevique), com direito a incursões na Praça XI das polaquinhas ― onde, segundo lhe preveniu, em ídiche, um cidadão negro brasileiro, só tinha crioulo e judeu. Excessos da alma russa, a sagacidade mercantil e a satiríase hebréias, pecados imediatamente punidos por um D´s vétero-testamentário, incestos furtivos no noite de Copa, Bar Mitzvahs conspurcados em Istambul, tudo é hiperbólico, blasfemo e infinitamente voraz, como se só houvesse este, e nunca outro mundo. Essa paixão pela vida baixa, sem ascese possível, que é a da maioria de nós, se trasladou tempestuosa, mas definitivamente para um Rio boêmio e macunaínimico, onde tudo também é desmedido e malandro, ainda que de um jeito muito diferente daquele de todas as Rússias.


Corte da vida de uma família, o fim da narrativa está no começo, o trem da chegada é o mesmo da partida, como o expresso São Petersburgo-Moscou em Ana Karenina, como se tudo fosse um sonho sonhado na antiga casa de Jitomir, congelada no tempo, Terra Prometida de onde, entretanto, não escorre apenas leite e mel, mas esperma, sangue, suor e lágrimas, até que não sobre nenhum segredo, ou secreção, e no fundo só fique a Diáspora eterna, de si a si.

Tudo se passa como se a mítica casa de pedra da Rua 5 de Julho, Copacabana, onde os primeiros Bloch foram morar logo depois de chegarem no Brasil, se transmudasse em livro, inscritura automática, fluxo de (in)consciência. É um Bloch sendo um Bloch, repórter de si e dos seus que narra o próprio giro incessante no espaço e no tempo, ao lado de avós, tios, primos, amando-se e odiando-se, roubando uns aos outros ou caluniando-se mutuamente, demasiado humanos, sátiros, sagazes, materiais, mas sempre juntos e empreendendo. Primeiro em gráficas e daí à mídia impressa e eletrônica, fugindo de um país em que ser empresário subitamente se tornou abertamente proibido para outro em que sutilmente nunca deixou de sê-lo, com os juros de agiota e sempre em alta, tributos escorchantes, pacotes econômicos regularmente surpreendentes, parece ser o surrealismo supremo, sem sequer a suposta compensação socialista, para no final tudo acabar como começou, numa casa trancada por todo o tempo em que durou a saga familiar nos trópicos, onde afinal tudo também se perdeu, a não ser o prazer de contar uma história, e para continuar a contar outras, disseminá-las, distribuindo ao público o que nós, e nele, se imprimiu.

Comments:
lol. That's great, Mouton. When do I make your blogroll? QuixoticJedi.com.
 
Cacilda! Que texto espetacular! Muito obrigado, Beato. Do ponto de vista de exegese e de contemplação de narrativa, é a melhor coisa que se escreveu sobre o livro até agora.
 
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