Saturday, August 08, 2009

 

CORONEL E PIAUÍ – ISSO TUDO EU PREVI...



CORONEL E PIAUÍ – ISSO TUDO EU PREVI...

Por Fernando Carneiro
(Foto:Rogerio Carneiro)


A Lúcia Hippólito disse em post no Globo sobre o caso Sarney que o coronelismo está agonizando. Acho que precisamos chamar Mark Twain de volta com sua máxima. Ou seja, tem morto vivo por aí... De todo modo, mesmo “morrendo” um coronel, há tenentes e cabos subindo no pau de sebo da hierarquia. O coronelismo portanto é inseparável de nossa fábrica social. Morre o coronel e não o coronelismo.

Dois eventos poderiam agregar muito ao debate.

Aparentemente díspares, são assuntos correlatos e muito pertinentes à sociologia do país. O primeiro tem a ver com a eterna reclamação sobre o “estado” do Estado do Rio de Janeiro. E o segundo tem a ver com o perfil de Sérgio Rosa, chefe da Previ - o maior fundo de pensão da América Latina – na revista Piauí. Assuntos absolutamente díspares, mas que geraram interessantes comentários de colegas de pesquisa, heterônimos, alucinações, psicografia, Xico Xavier, etc... que chegaram à mesma conclusão provocativa. Não concordo com tudo o que é dito, mas fica a visão de que tudo acaba em coronelismo. E ele jamais morrerá; agoniza como o samba, mas morre, nasce trigo, vive, morre pão. Vamos às reclamações pois, sem censura e com aspas.

“O negócio não tem jeito quanto ao estado do Rio. Olha que hoje é melhor do que era antes. A pujança econômica do interior de Sampa e Minas já foi cantada, decantada e estudada. Não tem jeito, nosso interiorano é indolente e o sistema senzalal - dado que aqui era o centro do império, fez de nossa seara uma fábrica de produzir serviçais do samurai. Portanto temos de um lado uma burguesia ascendente tucaninha, bolsonara, ignara, fascista e uma aristocracia decadente e já sem dente, pois sem capital para tratar dos mesmos. Assim, colocamos 80% da população à margem, no estado, colhendo café no pé. Por isso o desenho geográfico é esse, com a ‘comunidade’ como enforcador de cahorro no nosso pescoço. São quatro pessoas interessantes que relativizam as coisas, cercadas por uma massa acefálica que rosna e ameaça a todos.

Destino manifesto e livre arbítrio não funciona, uma herança maldita dos portugueses e ainda tem aristocrata aqui que tece loas a esses pulhas. Eles ainda são os empregados domésticos na Normandia, cargo a que não deviam renunciar jamais, e motoristas de taxi na Holanda, tampouco deveriam desistir...

O governo Cabral faz o que pode, tem o Joaquim Levy e mapeamento computadorizado dos problemas. Mas o Sérgio também é descendente de português. Esse é o verdadeiro embate de civilizações de Huntington, de um lado crioulos e mucamos e de outro euricos mirandas, uns mais polidos e lustrados, mas no fundo euricos mirandas. Resta ao fluminense não ser vascaíno, fazer seu cabedal e não reclamar muito não. Poderia ter nascido no Piauí caso algum mascate na sua antecedência fosse atrás de mandacaru... Se subisse na vida poderia ser coronel”.

(Tem gente que pensa assim. Quanto ao perfil de Sérgio Rosa na Piauí, já que falamos do estado.)

“...No aniversário de 50 anos de Rosa, apesar de todos esses anos de erros e acertos, mas capitaneando a Previ com firmeza, não compareceu nenhum representante ou compadre das várias empresas em que a Previ tem participação. Eles tratam a Previ como se fosse uma empregadinha ou uma arrivista da Barra da Tijuca que não tem lugar na mesa da aristocracia tupinambá que é antropofágica no DNA. Mas agora eles têm dinheiro e competência. Os fundos de pensão nos EUA todos têm origem laboral e sindicalista. E eles estão finalmente ditando no governo Obama o que não conseguiram no Clinton. Os fundos de pensão dominam a bolsa e 52% do capital mundial. O lance é ficar bem perto da cúpula e de quem manda neles, pois são autônomos. Um Zé Dirceu podia mandar numa Previ mas pouco. Pois a Previ diluia o poder falando com Palocci e Berzoini. Genial. Ninguém é refém, nem sequestrador.

Tem que respeitar o saldo bancário, até mesmo quem senta no trono. Queriam porque queriam por razões técnicas rasgar o Daniel Dantas ao meio. O governo piscou e tremeu, não achou bom pois tinha que peitar o Citi. A Previ dobrou o governo, o Citi, e acabou com o Daniel Dantas no final. Bravo!!!! Antes a rachuncha era meio a meio, patrão e empregado, pra um fiscalizar o outro no conselho de fundos. Numa república sindicalista isso acabou: o sindicalismo do PT e da CUT mandam e pisam na grana e nos fundos. Por isso mesmo não sei porque morrem de medo do Sarney e do Collor. Pode passar o rodo e ainda acender o charuto com uma nota de cem reais no velório pois tão com a mão no cofre do onofre. E é patético ver os velhos ricos da Abrasca, decadentes e cheirando a copo de uísque de sete da manhã com guimba de cigarro apagado dentro. Uma verdadeira tristeza a falta de lustre intelectual, soberba para com os sindicalistas - que tem que entrar no pau para um assento no conselho fiscal, veja você - dessa ex-classe de donatários. No fim Jesus acertou, é mais fácil um camelo passar no buraco de uma agulha mesmo....”

(Ao que Beato Salu retrucou)

“Não sei se é erudito, mas o que importa é que fica bem assinalada a importância do envolvimento do governo petista nessa disputa societária, que certamente foi para o bem, e contribui para difundir a cultura do mercado de ações junto à ‘nova classe’. A solução, para o Brasil como um todo, seriam, um, dois, cinco milhões de equivalentes tupiniquins da velhinha do Wisconsin, somado a uma facilitação do microcrédito bangladeshiano e redução da carga tributária / previdenciária e simplificação da burocracia para os micro-empresários. Todo poder aos sovietes privados prá acabar com o crowding out que a ‘previ-tização’ e o desenvolvimentismo geram, e aos poucos, prá acalmar a companheirada. Virar empresário, prá muitos brasileiros empreendedores, poderia significar educação na marra prás massas ignaras em menos tempo, o que um programa de educação pública talvez não conseguisse fazer. Além disso, podiam fazer que nem os chineses e estimular a emigração. Vi aquele filme do Jean Charles de Menezes e fiquei pensando, putz, que luz o cara tinha, sair do oritimbó de Minas prá London, London, o que o cara evoluiu, não só apreendeu a língua como virou um empreendedor anglo-saxônico.”

(Como em Minas dificilmente teria feito curso de oficial, nem a coronel chegaria. De farda ou de fato - sentido luso também. Eles que nos impuseram a figura do tal do coronel. Melhor generalizar as coisas....)

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