Saturday, August 08, 2009

 

Starlight

28 de julho de 2009
Contraponto na linearidade
BLOG, Música
Por Fernando Carneiro
O novo CD de Estela Cassilatti, “Peixes = Pássaros”, tem algumas boas surpresas. A paulistana já madura chega com banca, agora com faixa de trabalho tanto no seriado “Alice”, sucesso da HBO, (disponível no YouTube e no MySpace da cantora) e também emplacando faixa no blockbuster de Claudio Torres, “A mulher invisível” com Selton Mello e Luana Piovani. Vocação para Ogerman e Morricone pop? Nada de jabá, não. Merece um “spin”, como diriam os DJs.
Mãos à obra, pois. Tem faixa com mellotron!!! Para os incautos, isso era o sintetizador do Fred Flinstone, onde os “efeitos” ficavam armazenados em fita e podiam ser apagados. Era genial a idéia de um computador que poderia ter perda de memória. Enfim… As levadas de moog estão ali. Engraçado, pois todo o CD tá solto como arroz bem feito, é tudo faixa de trabalho. “Peixes” e “Mais” são canções introspectivas e, ao mesmo tempo, chiclete: grudam na audição. Ela tem um domínio bem, bem acima do Joel Santana no inglês, o que faz a fonética soar como deve, e fluir com a dicção nas colcheias. Em “Al”, ela usa o “a” grave e forte, dando a conotação de “tudo”, e mesmo no “Al” britânico o “a” é mais aberto, sendo pronunciado “El”. Mas isso são coisas menores que não tiram o mêrito de nada. Ah, como ela prefere em inglês, são “minor quibbles aside”. Ou talvez seja de propósito.
No total, é uma obra muito profissional, “tight”, e deveria ganhar mais giros e revoluções por minuto com a proposta ousada. A voz dela, quando rasgada e blueseira implorando por um amor, paz ou o que desejar, é comovente. E o bom é o ecletismo que deixa o rapaz na gafieira de perna torta, pois vagamos do blues violento a uma quase valsa country, e de volta a experimentalimos pós-tropicalistas.
A sequência de “Judgment Day”, “Morning theft” e “Meu silêncio” é totalmente incongruente e, por isso, genial. Esse é um excelente CD para se ter no porta-luvas. Impressiona o passageiro e cobrador. Quem é essa cantora? Legal esse som…
Realmente é, e não muitos conhecem. Mas isso para o bem de Estela, que pessoalmente é a delicadeza em pessoa, o que revela que como artista é fruta madura e suculenta, pronta para a feira das vaidades, a feira da vida. Peixes = Pássaros. Revelando também a paixão não só por um bioma repleto de Jeff Buckleys, mas também de forte marca celta. E ela é doida pela região. O CD onde o intimismo é aberto. E o que aparentemente é aberto encontra-se no profundo e íntimo. A menina acertou em cheio. Contraponto na linearidade. Eis a melhor definição…
Esse post foi publicado de terça-feira, 28 de julho de 2009 às 11:37, e arquivado em BLOG, Música. Você pode acompanhar os comentários desse post através do feed RSS 2.0. Você pode comentar ou mandar um trackback do seu site pra cá.
Um comentário para “Contraponto na linearidade”
Charles K. disse: 28 de julho de 2009 às 13:55
Já passou da hora de o mundo conhecer a Estela Cassilatti. Ela é um oásis no deserto musical brasileiro de hoje em dia, repleto de Xandy, Alexandre Pires, Vavá, Frank Aguiar, Bonde do Tigrão e que tais. O F.Carneiro fez belíssima resenha. Essa menina vem na estrada já há algum tempo, quem ouviu o Free Bossa (último do Nouvelle Cusine) sabe do que estou falando, mas a música popular brasileira parece capitania hereditária. Só tem espaço quem é indicado pelo andar de cima do mainstream. Parabéns à Estela e parabéns ao F.Carneiro, que, além de puta jornalista cultural, é cientista político, analista financeiro, tradutor, um verdadeiro humanista!
E parabéns à Zé Pereira por nadar contra a corrente.
Charles.

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