Tuesday, July 06, 2010

 

I Wonder Why... A Cara e o Coroa....

Gestor de fundo de hedge decide que melhor é consertar banheiros

Financial Times

06/07/2010

Texto: A- A+

"Diary of a Very Bad Year"

HFM e Keith Gessen. Harper Perennial. 272 págs., US$ 14,99

Sir Howard Davies lamentou certa vez a pobreza da ficção financeira. "A maior parte de nossos escritores está mais preocupada com a vida depois do dia de trabalho e abaixo da cintura", disse o ex-presidente da Financial Services Authority, que na ocasião, em 2007, presidia o júri do prêmio Man Booker de ficção. "Até certo ponto, isso é compreensível - mesmo banqueiros de investimento arrumam tempo para ter um caso amoroso -, mas há limites."
Aparentemente, para os homens de letras as finanças eram uma coisa maçante: as coisas que aconteciam na City de Londres e Wall Street durante o dia eram impenetráveis e pouco interessantes. No entanto, poucas semanas depois dos comentários de Davies, o banco de investimento americano Bear Stearns foi forçado a contabilizar perdas enormes, porque dois fundos de hedge estavam implodindo; o Northern Rock, um dos maiores bancos hipotecários do Reino Unido quebrou e houve uma corrida aos bancos em todo o mundo.
De repente, o mundo financeiro passou a ser fascinante para um grupo muito maior de pessoas. Embora não seja ficção, "Diary of a Very Bad Year" é, à sua maneira, uma tentativa de reduzir a distância entre os mundos literário e financeiro.
A ideia é colocada com clareza: o livro contém transcrições de entrevistas entre um gestor de fundo de hedge anônimo e bastante articulado, baseado em Manhattan, e Keith Gessen, editor da "n+1", uma revista literária de Nova York.
A leitura é fácil. O formato, simples e claro, funciona bem como a estrutura sobre a qual a crise do mercado vai se desenrolar. Cada uma das entrevistas - conduzidas em tempo real no decorrer de 2007 e 2008 - carrega um sentido redobrado de urgência.
Embora o livro esteja carregado de jargão financeiro, isso contribui para sua credibilidade. Com muita frequência, as descrições da crise financeira passam tempo demais explicando a mecânica do mercado de uma forma que confunde, mais do que esclarece.
Esse exercício é bem-sucedido, graças à personalidade e carisma do gestor anônimo entrevistado, um tal "HFM". Mas, embora nunca se mostre intimidador, e sendo sempre envolvente, mesmo assim ele é um indivíduo falível, com um ponto de vista errado colocado às vezes, pelo entrevistador, de maneira bajuladora, como se fosse um oráculo do mercado.
Os comentários feitos no livro parecem sinceros, mas também são extensos e às vezes inconclusivos, talvez compreensivelmente. Gessen, que faz as perguntas, confessa honestamente que "nunca ouvi falar disso".
A conversa tem, também, momentos que causam desconforto. "Sabe, você tem uma bela mente..." é uma introdução um tanto ingênua para o que de outra forma seria uma pergunta muito bem colocada para um gestor de fundo de hedge. "Você sente que sua mente está sendo usada neste momento da história da melhor maneira possível?"
HFM esquiva-se, mas na medida em que a entrevista prossegue - e a crise financeira se desenrola, ao mesmo tempo -, fica cada vez mais claro que a resposta provavelmente será "não". "Tenho dinheiro suficiente, não preciso mais dessa dor de cabeça, vou trabalhar consertando os banheiros de minha casa", diz HFM. Na verdade, muitos gerentes de fundos de hedge espalhados pelo mundo chegaram à mesma conclusão nos últimos tempos - ou foram forçados a isso.
Os elementos mais pessoais das transcrições - a grosseria para com colegas, ser ameaçado por banqueiros de investimento ou desejar uma semana de trabalho de três dias - tornam a leitura mais interessante, especialmente porque o diálogo deixa de ser um relato amplo, ainda que longe de original, do "crash" do mercado, para se transformar em uma conversa pessoal sobre os altos e baixos de se trabalhar no setor financeiro e na indústria dos fundos de hedge.
Em última análise, "Diary of a Very Bad Year" tem seus limites. É, afinal de contas, simplesmente uma série de transcrições de entrevistas. As respostas de HFM são sempre perspicazes e cativantes, mas isso é tudo que alguém pode aprender com uma pessoa cuja identidade se limita a três letras.

Comments: Post a Comment



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Free Web Site Counter
Free Counter