Thursday, August 12, 2010

 

"In general, I think the way to Describe the World is to get Longer not Shorter"



Chegar em NYC e ficar no meat packing district. Eis quarto e Coca Sarli. NYC? Baltimore na veia - agudo ou circunflexxxo. Quem diria que essa fedentina imunda ia ter loja do Alexander McQueen e Stella McCartney? Isso nem no tempo em que o Lower East Side estava mudando. Como é perto e colado a Chelsea, o bairo mais badalado agora, há vida inteligente ao redor. O Lower West é perto do Village e perto do Soho, com seus artistas plásticos; os caras tomaram tudo de assalto. Ficou legal, mas ainda fede perto do Hudson, e construiram o “Standard Hotel” (Google and pictures please) em frente à planta do Department of Sanitation, metáfora apropriada. Mas o travelogue aqui tem que rezistrar que a linha de trenzinho que levava peru congelado pra embarcar no rio, bem como carne desossada, agora virou um grande “paseo” suspenso, com jardins - tudo ficou “sanitizado” e bonito. O hotel é louco, somente design, concierge de calças pescando siri, parecendo modelo de NY Fashion, tudo mais gay que Berlim. Design e design. Em tudo. Instalação de arte muderna no elevador. Mas muito bom. E aviso (em papel timbrado estrategicamente posicionado em cima da cama) ao chegar no quarto para que se evite ficar nu pois é vidro totalmente transparente “do”... pau a pique “ao sapê”. Nem fosco, nem tosco. Do chão mesmo ao teto. Então voyeur vai voiar e ver. Mais uma novidade. Bom, pegamos o Voice e Time Out pra ver o que rola...

De show vai de ruim a pior, claro – pra quem tem acompanhado essa discussão sobre a criação autóctone. NYC virou de novo importadora de arte, o que não é ruim nem pra cidade e o mundo agradece. Em cima da hora somente populacho, então que tal checar jazz? As apresentações do Blue Note, que há muito reforça a tese que o jazz morreu, se assemelha à minha coleção de fitas cassete, (e o que joguei fora) Ron Carter, Lee Ritenour (!), Dave Grusin (!!), Tuck and Patti (!!!!), ressalva faço ao grande Mulgrew Miller, mas ele toca com Ron Carter agora. Acabou o mundo, viva a misantropia. Museu mesmo. Não tem mais graça. No Vanguard tem Greg Osby – que hoje faz coisa mais datada do que fazia nos anos 80 – tem o Iridium, Birdland e o Puppet’s, mas é triste, requiêmico e não tem jeito. Fico com as fitas cassete e os CDs roubados do meu pai – nada sem ética posto que só ouve hoje em dia a voz do William Bonner e do Boechat – e a da minha mãe, volta e meia.

As artes plásticas sim fervem e no Rubin foi bom ver exposição de arte Himalaia, se é que esse acidente geográfico vértico-promontorialmente cordilheirico possa servir de adjetivo, ou tal atividade adjetivada. Tem o Museu do Marco Zero, ali no distrito do açougue azougue, onde eles falam que não há nada gráfico e pode-se levar criancinha. Claro, estas podem ser comidas por comunistas ou agora muçulmanos. Corajosa a posição do Rick Hertzberg (sim é Hedrick) na New Yorker sobre a construção da mesquita nas proximidades. Eu mesmo estava lá no dia 10 de Setembro de 2001 e a Amtrak me salvou, pois peguei um trem na véspera; cinco e meia da tarde rumo a Jaçanã (D.C.). Claro que o Pentágono levou avião na fuça. Há teorias conspiratórias que dizem que no Pentágono não foi avião, e sim míssil tentando acertar o outro que caiu em Penn. Enfim, whatever. Mas não tem foto não.

Museu, não precisa falar. Chega deles. Não vou. A rua é o museu de tudo e todos. Basta andar ao lado do Marco Zero pra se sentir a energia mais estranha do mundo. Ver aquelas escavadeiras empilhadas, não dá nem pra fazer parque e pisar em cima. Quatro mil almas derretidas no quadrilátero. Faria uma floresta de tundra, mais mata nativa, isolada do público, um monumento à misantropia, onde nenhum ser humano possa pisar, de puro castigo, plantaria mudas, jogaria uns bichos nativos, da região (italianos de Jersey se adaptam bem) e cercaria tudo. Fica um monumento à “Não” Humanidade, pois é o que merece...

E enquanto a CCBB no Rio prestava homenagem a Russ Meyer, a Film Society do Lincoln Center fez uma retrospectiva de todos os filmes de Isabel “Coca” Sarli, o maior símbolo sexual argentino e ex-miss em 1955. Armando Bo, o diretor, foi seu marido, e “Fuego” é ponto máximo da obra – que não tive o prazer (lato auauau) de ver. Retrospectiva de três dias que tinha começado no dia 6. Em Fuego ela faz uma ninfomaníaca que não pode se satisfazer nem com homem ou com mulher. Ninguém menos que John Waters (autor da obra prima “Pecker” que é mais “camp” e pior que Pink Flamingos, onde a corrida pro fundo do poço sempre é o padrão de medida) disse que Fuego entra na sua lista de “movies that will corrupt you”. Com essa benção, corram ao YouTube ou tentem achar cenas espalhadas por aí.... Waters psicografado no Globo recentemente e conterrâneo de Baltimore.

O que há em comum entre as películas de Meyer e o que fez Coca é basicamente enaltecer um tipo de mulher; uma espécie de naturalismo, digamos assim. Um ode à grandeza e grandiosidade. Essa é a parte onde a misantropia não deve entrar. Quando pensamos em Waters, Meyer e os atributos de Coca, vemos que a humanidade pelo menos não ficará para trás na corrida reprodutória, que se valha Freud amordaçado num armário (que não seja de vidro). E o italiano de Jersey correndo pelado no Parque do Marco Zero.

Livro então? Não? Sim, está na hora... Está uma NYC muito mondo cane, nada de Midtown, mas bem Village trash dessa vez, me lembrando muito de Baltimore e vendo New Jersey do outro lado do Rio, não senti trissteza; apenas nada tinha mais vida. A alma evaporou-se com o calor. Coca Sarli seria a solução? Que nada, o elevador vinha com sua instalação permanente de arte em vídeo, bem como oito canais na TV HD no quarto do hotel. E os funcionários glabros e famélicos andando atenciosamente, todos os fashionistas de plantão. O ex-governador Elliott foi empichado por se envolver com prostiputas e entrou o governador cego. Elliott era o Collor dos “prosecutors”, se insurgiu contra Wall Street. Tirésias não tiraria onda melhor de “psychic” com essa. O estado é governado por um deficiente visual. Saudades do Lois. Penso em quando será a vez de um deficiente ou de um eficiente emocional, precisando de atendimento especial. Aqui ele governa.

Livro... Aproveitar o whisper network pro Kindle. Light my fire. Rick Moody,”Quatro Dedos da Morte”, dedicado a Kurt Vonnegut e mandando a cartilha da “concisão” prum pagode do Marquinhos PQD, pois vem com mais de 700 páginas de pura prosa e glosa boa. Numa entrevista reproduzida no Voice, o autor diz algo perfeito.

"In general, I think the way to describe the world is to get longer not shorter,"

E seu livro é meta-meta-meta também. Ou seja, o a(u)tor hoje em dia deve explicações. Ah se deve, e muita!

Segundo a resenha, três espaçonaves rumam à Marte – chamadas Excelsior, Pequod, e Geronimo (sic) – misto de Colombo com... (dica: Longfellow, Melville e Forte Apache). E Mood delira no texto falando que “aí teve um tiroteio, pois o que mais poderia ocorrer?” . O tiroteio ocorre entre macacos, lutadores mexicanos, e um colecionador de tralha esportiva. A mão de um astronauta cai na terra e começa a enforcar algumas pessoas. Montese Crandall, prima persona, chora a morte de sua mulher – uma deficiente física que é apostadora compulsiva no mercado futuro, falando do fim da América num pacto Sino-Hindú. Somos salvos por um germe marciano com o sugestivo nome de thanatobacillus que chega na Terra com sede. Os cosmonautas debatem todos os assuntos e cometem as perversidades mais atrozes. Segundo ainda a resenha do Voice, parece ser Pynchon, David Foster Wallace e um tal de Ron Currie Jr. Esse aí escreveu também sobre bactéria, foguetes e o significado das coisas diante do horror. Enfim o livro é esculhambado por não ter sentido e propósito (como se algo aqui nessa porra desse planeta, e a dita existência, fizesse algum – ou tivesse certo – sentido). Mas criou-se um novo gênero musical, chamado “namorada morta” e o Pulverizador. Existência é o cacete, desistência mesmo. Ou melhor (D)existência.

Observando isso tudo volto ao aeroporto e vejo que a América é para os bravos, tem que ser macho pra segurar esse balaustre. Volto logo pra empunhar as armas de Jorge. Já parece meu quintal e foi rápido reengatar a marcha lenta rumo ao oratório e ao crematório. Fora isso temos Times Square e aquele inferno de turistas lotando as calçadas.... O cheiro fétido de esgoto no Baixo Hudson é preferível. Pois quem gosta de metafísica sabe que a proximidade com Wall Street nos leva aos crimes mais hediondos que ainda são cometidos contra os homens de má vontade. If you can’t fight them, join the party dressed to kill... Os atarantados Tarrantinos vão filmar tudo. A Europa já acabou. E NYC prenuncia o começo do fim infinito. Nome da minha obra que um dia terminarei. No infinito. The end.

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