Thursday, September 23, 2010

 

Beato sobre Hopper

(Sensacional o Beato Salu sobre Hopper, sobre o qual queria falar mais no meu momento artes e humanidades, apos sair do canal ciencias exatas. Maravilhoso, e vejo uma linha narrativa comum nas suas apreciacoes. Sempre uma nobre verdade budista, com uma coda meio que ecumenica mas no sentido transgressor de adicionar muita pitada agnostica e empiricista e na meiuca da observacao sempre um questionamento totalmente kantiano no sentido de antever uma salvacao dionisiaca pela razao pura. Uma coisa meio anti-Nietzsche no seu texto apesar de contraditoriamente voce apostar no romantismo... E te escrevi sem acento e assento de chapa)



EDWARD HOPPER OU A PRIMEIRA NOBRE VERDADE

“Uma tarde/ é suficiente para ficar louco/ ou ir ao museu ver Bosch”

(Roberto Piva, Piazza I, em http://www.revista.agulha.nom.br/ag40piva.htm, acessado em 21/09/2010)

KADDISH

For

Naomi Ginsberg 1894-1956

I

Strange now to think of you, gone without corsets & eyes, while
I walk on the sunny pavement of Greenwich Village.

downtown Manhattan, clear winter noon, and I've been up
all night, talking, talking, reading the Kaddish aloud,
listening to Ray Charles blues shout blind on the
phonograph

the rhythm the rhythm -- and your memory in my head three
years after -- And read Adonais' last triumphant stanzas
aloud -- wept, realizing how we suffer --

And how Death is that remedy all singers dream of, sing,
remember, prophesy as in the Hebrew Anthem, or the
Buddhist Book of Answers -- and my own imagination of
a withered leaf -- at dawn --

Dreaming back thru life, Your time -- and mine accelerating
toward Apocalypse,

the final moment -- the flower burning in the Day -- and what
comes after,
looking back on the mind itself that saw an American city
a flash away, and the great dream of Me or China, or you and
a phantom Russia, or a crumpled bed that never
existed --
like a poem in the dark -- escaped back to Oblivion –

No more to say, and nothing to weep for but the Beings in the
Dream, trapped in its disappearance,
sighing, screaming with it, buying and selling pieces of phantom,
worshipping each other, worshipping the God included in it all -- longing or inevita-
bility? -- while it lasts, a Vision -- anything more?

It leaps about me, as I go out and walk the street, look back
over my shoulder, Seventh Avenue, the battlements of
window office buildings shouldering each other high,
under a cloud, tall as the sky an instant -- and the sky
above -- an old blue place.

or down the Avenue to the South, to -- as I walk toward the
Lower East Side -- where you walked 50 years ago, little
girl -- from Russia, eating the first poisonous tomatoes
of America -- frightened on the dock --

then struggling in the crowds of Orchard Street toward what? --
toward Newark --

toward candy store, first home-made sodas of the century, hand-
churned ice cream in backroom on musty brownfloor
boards --

Toward education marriage nervous breakdown, operation,
teaching school, and learning to be mad, in a dream --
what is this life?”

(Allen Ginsberg, “Kaddish”, acessado em http://www.questia.com/read/93673010?title=Kaddish%20for%20Naomi%20Ginsberg%201894-1956 em 21/09/2010)

“Aucune volupté ne surpasse celle qu´on éprouve à l´idée qu´on aurait pu se maintenir das um état de pure possibilité. Liberté, bonheur, espace – ces termes définissent la condition antérieure à la malchance de naître. La mort est un fléau quelconque ; le vrai fléau n´est pas devant nous mais derrière. Nous avons tous perdu en naissant. Mieux encore que dans la malaise et l´accablement, c´est dans des instants d´une insoutenable plénitude que nous comprenons la catastrophe de la naissance. Nos pensées se reportent alort vers ce monde où rien ne dagnait s´actualiser, affecter une forme, choir dans un nom, et où, toute determination abolie, il était aisé d´accéder à une extase anonyme.

Nous retrouvons cette expérience extatique lorsque, à la faveur de quelque état extrême, nous liquidons notre identité et brisons nos limites. Du coup, le temps qui nous précède, le temps d´avant le temps, nous appartient enpropre, et nous rejoignons, non pas notre figue, qui n´est rien, mais cette virtualité bienheureuse où nos résistons à l´infâme tentation de nous incarner.”

(Cioran, De l´inconvénient d´être né, Éditions Gallimard, Collection Folio – Essais, 1973)

“To die, to sleep;
To sleep, perchance to dream—ay, there's the rub:
For in that sleep of death what dreams may come,
When we have shuffled off this mortal coil,
Must give us pause—there's the respect
That makes calamity of so long life.”

(William Shakespeare, Hamlet, in http://www.enotes.com/shakespeare-quotes/not-that-question, acessado em 23/11/2010).

Edward Hopper, 25 de Junho – 17 de Outubro de 2010, Fondation de l´Hermitage, Lausanne, Suíça.

Uma tarde é suficiente para ficar louco ou ir ao Hermitage de Lausanne ver Edward Hopper, retrospectiva que sublinha seu passado europeu. E o que se vê é que o experimentalismo dadaísta e a densidade européia apreendidos em suas curtas estadias em Paris ― patente em quadros como Soir Bleu, de 1914, e várias ilustrações ―, passaram ao fundo de seus quadros, introduzindo um elemento estranho em sua atividade (quintessencialmente norte-americana) de diretor de arte em agências de propaganda, ilustrador e caricaturista, fazendo dele ao mesmo tempo profundamente americano e profundamente inserido na tradição européia, esta descontruindo a norte-americaneidade, as ilustrações ficando para sempre weird. O realismo do ilustrador potencializa o surrealismo do pintor, e a figura, realisticamente reproduzida, parece entretanto despro-vida de toda intensidade, como bonecas velhas esquecidas sem seus olhos de botão, ou homens congelados numa melancolia ancestral e irremediável, para tudo desencorajados. Imagens estadunidenses, inquietação européia, sugestões de silêncios, histórias subentendidas, mas, com certeza, nenhum final feliz. A luz é metáfora de estados anímicos, a arquitetura sinônimo da opressão, fábricas onde os homens se consomem, arranha-céus enormes, mulheres solitárias que vão sofrer sempre em sua nudez inútil sobre as armações metálicas do mundo, sem o didatismo de poema algum, em apartamentos onde de repente não há nenhum sol, nem uma lua, ou qualquer transcendência. Os rabiscos obssessivamente arquivados pela mulher de Hopper mostram como ele reduzia todo retrato ao essencial dramático, eliminando elementos inúteis à atmosfera como fotos de hierarcas stalinistas afinal expurgados. Ser um indíviduo no anonimato da metrópole é não ser, ao menos para a massa de fracassados que perambula em Grandes Depressões, porque a grande cidade burguesa é sempre uma melancolia onde o Ego não atinge nada do que quer _ como de resto jamais atingiria _, nem há, para ninguém, o conforto de um lar aconchegante ou uma família feliz. Nenhum encontro é possível porque amor não há e o transporte erótico errou de endereço, há toda uma seção com mulheres que são só uma bunda branca ou uma inútil buceta rosácea sobre o sol que ilumina nigérrimos pentelhos e cuja masturbação é o único êxtase possível na solidão da megalópole anticlimática, onde o erotismo se degrada em pornografia e sordidez, putaria e brochuras, nenhum prazer além do narcísico da própria memória, o Outro é miragem inatingível e sem solidez, nenhuma compaixão budista ou amor cristão, Luz Vermelha para o amor no Bairro escuro da Alma. Morar na grande cidade americana ou no vazio imenso de suas pradarias é estar condenado a si, exilado no próprio corpo entre tantos outros corpos igualmente insignificantes, indiferentes como prédios. Atirar-se no Lago Lémans à noite neste setembro já daria uma morte segura por hipotermia, mas a história tem de continuar.

Mas por que a gente sofre tanto, como pintou Hopper? Por que temos de ser quando o ser não existe, porque somos apenas algo que não existe – o Ego -, por que o que julgamos ser é mínimo e insatisfeito no mundo de grandes edifícios e da grande finança? Os homens pateticamente banais de seus quadros ignoram a resposta, são eternos coadjuvantes de suas próprias existências que se desenrolam sem sua participação, sem controle algum, vidas que se esvaem entre desvãos e escorrem pelos bueiros como água de chuva, nostalgia inatingível de uma plenitude há muito perdida ou apenas intuída, talvez uma infância que é a antítese do mundo infinitamente adulto da grande cidade, um por do sol especialmente belo quando éramos crianças, o colo materno, regressão impossível, sonho de um sonho, Coletivização forçada, Confucionismo já, Unio Mystica, Que o Dharma do Apocalipse retorne ao Dharma correto Ora pro Nobis Gaudium et Spes.


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