Friday, July 29, 2011

 

Beato com Obit de Amy

AMY WINEHOUSE (1983-2011)

LIFE IS A LOSING GAME



“Things they do look awful c-c-cold (Talkin' 'bout my generation)
I hope I die before I get old (Talkin' 'bout my generation)
Pete Townsend (The Who), My Generation”
(TOWSEND, Pete, My Generation, in http://www.lyrics007.com/The%20Who%20Lyrics/My%20Generation%20Lyrics.html,
acessado em 26/07/2011).


«É melhor viver
dez anos a mil,
do que mil anos a dez»
(Lobão, Décadence avec Elegance,
in http://letras.terra.com.br/lobao/446178/,
acessado em 26/07/2011).


«É melhor morrer de vodka que de tédio»
(Vladímir Maiácovsky).


«ll n'y a qu'un problème philosophique vraiment sérieux:
c'est le suicide.
Juger que la vie vaut ou ne vaut pas la peine d'être vécue,
c'est répondre à la question fondamentale de la philosophie.
Le reste, si le monde a trois dimensions,
si l'esprit a neuf ou douze catégories, vient ensuite.
Ce sont des jeux; il faut d'abord répondre.»

Camus, Albert, Le Mythe de Sisyphe,
Folio Essais Folio Essais # 11, Gallimard © 1942, pages 17 et 18, in http://www.philo5.com/Les%20philosophes%20Textes/Camus_AbsurdeEtRevolte.htm,
acessado em 26/07/2011).


“Ó Shariputra, aqui a forma é o vazio e o vazio é a forma; tudo que tem forma é exatamente o vazio e tudo que é vazio é exatamente a forma. Dessa maneira as sensações, as concepções, a discriminação e a consciência são também vazias e desprovidas de substância. Ó Sariputra, o vazio de todas as coisas não foi criado e não pode ser destruído e dessa maneira no vazio não há forma, não há sensações, não há discriminação e não há consciência. Não há olho, não há ouvido, não há nariz, não há língua, não há corpo e não há mente. Não há cor, não há som, não há cheiro, não há gosto, não há tato e não há fenômenos. Nada existe desde o reino da visão até o reino da consciência. Não há ignorância nem extinção da ignorância, não há sofrimento, não há causa do sofrimento, não há velhice, não há morte, não há extinção do sofrimento, da velhice ou da morte, não há sabedoria e iluminamento e nada há para ser ganho. Como nada há para ser ganho, o Bodhisatva vive em Prajna Paramita e não há obstáculos em seu coração, e sem obstáculos não há medo e muito além dos pensamentos ilusórios,e ele atinge o Nirvana”.

(Sutra do Coração da Grande Perfeição da Sabedoria (Índia, século 1. D.C.), acessado em http://www.sanghazen.com.br/sutras.pdf, página 49, acessado em 28/07/2011).




Amy Winehouse talvez nunca tenha lido Émile Cioran (De l´Inconvénient d´Etre Né, Éditions Gallimard, Collection Folio – Essais, 1973), mas sempre soube do enorme inconveniente que é ter nascido, e que a própria vida, e não só o amor (Love is a Losing Game, in http://www.youtube.com/watch?v=n35ffD9H6pA&feature=share e http://letras.terra.com.br/amy-winehouse/879972/traducao.html, acessados em 28/07/11), era uma mão errada no poker de tudo, que todos nós tiramos, um jogo perdido desde o início para todos, seja pelo tédio ou pela vodka e seus congêneres. Preferiu entregar-se a estes a perecer daquele, porque mortos já estamos quase todos, e só pela arte, sexo ou música ressuscitamos por alguns momentos, e os estupefacientes podem nos mostrar, ainda que a um preço altíssimo, como seria uma vida como a sonhamos, intensa e extasiante como um orgasmo eterno taoísta ou tântrico. Ou seja, tudo o que não é a existência da maior parte das pessoas, sóbria, burocrática e repetitiva como uma neurose intratável. Segundo o principal jornal holandês (“Amy Winehouse wist dat ze jong zou sterven", in http://www.telegraaf.nl/prive/10258804/__Amy_wist_van_vroege_dood__.html?fb_ref=art&fb_source=profile_oneline, acessado em 28/07/11), Amy previra sua associação ao Clube dos 27 de Jimmy Hendrix, Jim Morrison et caterva, o dos que preferiram morrer enquanto, a vida ainda ardia como uma chama incontrolável que, em sua volúpia, tudo consumia, arte, música, corpos e tudo mais que era belo e celebração. Muito antes dos ídolos da década de 60 os poetas românticos do fin-de-siècle que morriam tuberculosos já estavam e eram, como eram todos os cantores da vida desmedida e desregrada, Baudelaire e seus companheiros nos Paraísos Artificiais da Paris por onde flanavam. Sua morte é também a morte da morte de Janis Joplin, também ela mulher, excessiva, bêbada e drogada, mas desbravadora, em uma época de contestação onde queimar sutiãs, ou não usá-los, ainda era novidade. Agora não há mais nada contra o quê se insurgir, mais resta a culpa e o blues de ser tão louca, ácida e mulher (“Amy Winehouse sang of a deeply feminine suffering”, in http://www.guardian.co.uk/music/2011/jul/26/amy-winehouse-lyrics , acessado em 28/07/2011), a forte e agridoce melancolia do amor intensamente físico e fácil. Em sua vida excessivamente intensa e curta, foi integralmente trágica como toda mulher, pois não podia se impedir de ser o que era (“You know I´m no Good”, in http://www.youtube.com/watch?v=Rr56knoA1rA&feature=share e http://letras.terra.com.br/amy-winehouse/879973/, acessados em 28/07/2011), e sabia que nenhuma reabilitação (“Rehab”, in http://letras.terra.com.br/amy-winehouse/858528/# , acessado em 28/07/2011) era possível, nem como todo amor do Pai. Preferiu partir de volta ao Negror do Nada de onde todos viemos e para onde retornaremos, Back to Black (http://www.youtube.com/watch?v=TJAfLE39ZZ8&ob=av2n e http://letras.terra.com.br/amy-winehouse/932418/, acessados em 28/07/2011), com sua alma presa na foto dos mass media e seus irresistíveis rendimentos, ela que era tão suas canções que eram tão ela, nascida na terra que inventou a privacy só pelo prazer de violá-la a cada instante. Lembro de alguém que me contava de um grande poeta, alcóolatra, que depois que se curou, nunca mais escreveu um só poema que prestasse, e de outro que me contou de encontros com um mesmo jovem, esquizofrênico, um em um bar, animado e cheio de vida, e outro numa festa de família, um zumbi impregnado de medicação antipsicótica, antes do inevitável suicídio. Toda mulher quer um algoz prá chamar de seu, mas Amy, que teve todos os homens e mulheres que quis, preferiu se sacrificar por todos nós, mostrando como a vida pode ser foda ainda que insana, a nós que passaremos incólumes por uma existência perfeitamente banal e inútil, atravessando por 40 ou 80 anos o deserto da (in)existência sem sequer avistar, mesmo de longe, a Terra Prometida onde escorre o Leite o Mel, nós que não estaremos entre os muitos chamados nem entre os poucos escolhidos, que andaremos pelo Vale da Morte sem que ninguém nos conduza, depois de uma vida em que não teremos ganho nada, porque nada arriscamos. Esse é o impasse. Que talvez, entretanto, sequer exista, e nada haja para ser ganho, e tudo seja o instante em que nossos dedos apenas sentem a carta marcada do jogo da vida, sem saber que é vida, ou que é jogo.

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