Monday, July 25, 2011

 

Beato Salu de Volta

DOIS ARTISTAS
NEGROS, POBRES, DEMENTES

RICOS, SANTOS:
ITAMAR ASSUMPÇÃO E ARTUR BISPO DO ROSÁRIO


– ITAMAR ASSUMPÇÃO

In My Craft or Sullen Art

In my craft or sullen art
Exercised in the still night
When only the moon rages
And the lovers lie abed
With all their griefs in their arms,
I labor by singing light
Not for ambition or bread
Or the strut and trade of charms
On the ivory stages
But for the common wages
Of their most secret heart.

Not for the proud man apart
From the raging moon I write
On these spindrift pages
Nor for the towering dead
With their nightingales and psalms
But for the lovers, their arms
Round the griefs of the ages,
Who pay no praise or wages
Nor heed my craft or art.

(THOMAS, Dylan, “In My Craft or Sullen Art”, in http://www.naic.edu/~gibson/poems/dthomas1.html, acessado em 22/07/2011).

Daquele Instante em Diante, documentário de Rogerio Velloso, da série Iconoclássicos do Itaú Cultural, sobre a vida e a obra de Itamar Assumpção, Beleléu vulgo Nego Dito ― entidade que esse filho de Xangô recebia nos palcos paulistanos ―, como Arrigo Barnabé, integrante da linha de frente da vanguarda paranaense que se estabeleceu na capital bandeirante, Isca de Polícia reformando os Rumos da MPBosta junto com Premeditando o Breque e outros. Escolheu viver a vida em estado de criação, misturando samba, reggae e atonalismo, teatro e canção, obsessivamente trabalhando seus arranjos, fugindo do star system e de seus esquemões, mas ao mesmo tempo agridoce, lamentando a fama que não veio e pela qual não conseguiu, não conseguimos não desejar, ainda assim quase um autista da estética, TOC do som, pesquisador musical inexaurível, Negritude Sênior, bom pater familias e marido exemplar de italianíssima do Paraná, caseiro e global, cotidiano e anarquia, ultrapop fundindo Marley e Miles, Schönberg e Ataulfo, no final quase um velho sacerdote rastafári, magérrimo por seu tumor, dreads grisalhos. Como teria digerido o rap carioca e o batido no seu liquidificador de toda a música, samba de break, rock de breque, funk jazz de reggae? Como permanecer sempre ligado em som, des-reconstruindo-se musicalmente, ser de verdade independente, sem deixar de lidar com a questão material ou, pior, o ego _ e os outros? Por que alguns são tão à frente de seu tempo, chegam antes da hora e saem tão antes de a festa ficar boa? Hoje teria sido tão mais fácil sua produção independente do que em seu tempo de vinil. Mas não, nada, nirgends mais o negão que um dia pulou da Penha para abalar Berlim, aonde quase foi antes de ir-se, e que ainda permanece como um bólido sempre na contramão, no front da resistência da canção, abrindo a força outros caminhos _ ainda que ninguém mais os percorra. Alternativa àqueloutra alternativa que um dia cansa e se oficializa, Pretobrás preferiu a cada vez sair pela tangente e fugir antes que para ele se abrisse o proscênio da glória pasteurizada da indústria cultural, persistindo “Em seu ofício ou arte taciturna”, música é aqui e agora ou não é nada, pura, ainda que imperceptível para as massas, ainda que a falta de reconhecimento doa como um câncer.

Vide http://www.pastilhascoloridas.com/2011/07/doc-itamar-assumpcao-daquele-instante.html; http://www.maissoma.com/2011/7/13/itamar-assumpcao-daquele-instante-em-diante-2011; http://cinema.uol.com.br/ultnot/2011/07/08/itamar-nao-foi-absorvido-pela-industria-como-os-mutantes-ou-tropicalistas-diz-diretor-de-daquele-instante-em-diante.jhtm; http://www.itamarassumpcao.com.br/; http://fortaleza.etc.br/o-que-fazer-geral/details/6208-cinema-daquele-instante-em-diante-documentario-itamar-assumpcao-em-um-documentario-sobre-sua-v.html; http://www.negodito.com/musica-confira-o-trailer-de-daquele-instante-em-diante-doc-sobre-itamar-assumpcao/, acessados em 22/07/2011.



- ARTUR BISPO DO ROSÁRIO

“Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.”

(MAIACÓVSKY, Vladímir, “A Flauta-Vértebra”, in http://versofractal.blogspot.com/2011/05/flauta-vertebra-maiakovski.html,
acessado em 22/07/2011).


“Não faço isto para os homens, mas para Deus.”

(Artur Bispo do Rosário, in http://pt.shvoong.com/humanities/1768645-arthur-bispo-ros%C3%A1rio-biografia/, acessado em 22/07/2011)

“Wo Es war,
Soll Ich werden.”

(Sigmund Freud)


Toda riqueza está dentro nós, toda a arte, todo o sexo, todo o Deus, Do Todo e de Todas as Coisas, é o que mostra a mostra “Artur Bispo do Rosário – O Artista do Fio – Caixa Cultural”. Artur Bispo do Rosário, nordestino, preto, pobre, passou a maior parte da vida interno no que antes de chamava um hospital de alienados, a Colônia Juliano Moreira. Como, desprovido de todo suporte, produzir arte? Com o fio de seu, e de seu próprio uniforme de doido oficial, seu e dos outros internos, não diria companheiros de infortúnio porque além disso ser brega, loucura é que nem a morte, cada um tem a sua, e próprio dela ser uma coisa que nos torna únicos e torna a todos distantes. Dizem que o louco não vive no corpo, está fora dele, e responde mal aos sinais que os (cinco ?) sentidos lhe dão. Mas sua representação dos diversos objetos que via era ultra-realista, cafeteiras, arreios, chaleiras, sem distorções à la Bacon ou Lucien Freud, nem gordas nem magras, concretas, exatas, re-costurando objetos com fios azuis até fazer deles suas ORFA's (Objeto Recoberto por Fio Azul), como micro-maquetes de tudo o que há no mundo. A exposição suspende os ORFAs no ar por fios nada azuis, quase invisíveis: pensei nos nossos pensamentos que, quando certa vez, em meditação, profunda, na forma ensinada por George Ivanovitch Gurdjieff (http://www.gurdjieff.org.br/mestre.htm, acessado em 22/07/2011), entendi que apenas passam pela mente que é como uma televisão permanentemente ligada, pela qual, porém, logo nada passa se não somos por hipnotizadas pelo que apenas passa, mas apenas pensamos no não-pensar. Parece que Bispo se impôs a missão de recriar toda as coisas existentes para que, no Dia do Juízo, desse a Nosso Senhor testemunho de Sua criação. Se pôde ou não cumprir sua promessa, nunca saberemos. Mas é fato que, ao tornar tangíveis as coisas que o pensamento representa, é como se o quisesse agarrar, ele que é tão fugidio e que invade a todos nós, e aos (mais) loucos, da forma mais terrível. (Re)Criando as coisas, Bispo se assemelhava ao Criador original, nomeando-as, inscrevendo-as no único mundo que parece real – o da matéria. Psicanálise do precário, sua arte ultrapovera foi, se não sua cachaça (ou seu Haldol), seu atarático ― homeopático ― de sua esquizofrenia estóica, seu remédio para aquilo que nos invade e que é em nosso lugar, aí mesmo onde deveríamos ser.

Vide http://guiadecidades.terra.com.br/pe/arte-e-cultura-exposicao-arthur-bispo-do-rosario-o-artista-do-fio-en-rio-de-janeiro; http://www.cultura.rj.gov.br/espaco-evento/caixa-cultural-unidade-almirante-barroso/artista-do-fio; http://saitica.blogspot.com/2010/07/artur-bispo-exposicao-no-margrs.html; http://pt.shvoong.com/humanities/1768645-arthur-bispo-ros%C3%A1rio-biografia/; http://www.facebook.com/note.php?note_id=246328042060651; http://www.brasil247.com.br/pt/247/cultura/7147/Os-fios-azuis-do-Bispo-do-Ros%C3%A1rio.htm, acessados em 22/07/2011.

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