Tuesday, September 27, 2011

 

Viegas

Ponto de Vista

Incertezas

A busca do saber por necessidade profissional favorece o aprendizado, é o que confirmam os pedagogos. No mundo chamado pós-moderno, haveria muita gente dedicada à aquisição de conhecimentos somente pelo prazer de ampliar os horizontes de sua cultura? Há os que pesquisam para passar o tempo, o que implica na existência de pessoas à quais cansa a contagem das horas. Dignos de inveja? Penoso é sem dúvida o estudo exigido apenas por imposição circunstancial, por mera obrigação.

Mas há alguns que procuram insaciavelmente o saber em busca do poder e ainda para dominar os semelhantes ou talvez para acabar com as doenças e até mesmo com a morte. E a massa de curiosos, querendo saber o que acontece depois do sepultamento ou cremação dos corpos, alimenta crenças e teorias, além de alentar o ânimo e o bolso de bruxos, haríolos e de todos que se arrogam o privilégio de possuírem faculdades divinatórias. E tais compulsivos incansáveis estão sujeitos a crises de ansiedade e de angústias perante inevitáveis desencantos e desamparos. E nem se dão conta de que com frequência terminam se transformando em cansativos que alugam os ouvidos alheios para chorar suas pitangas. São pessoas que não aceitam as balizas peculiares ao tipo de conhecimento próprio do ser racional.

Refletindo recentemente sobre os limites da capacidade humana de saber, deparei-me com Manoel de Barros (*1916). Ele lembra: “A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou – eu não aceito...”. E o poeta cuiabano continua suas profundas indagações: “Tentei descobrir na alma alguma coisa mais profunda do que não saber nada sobre as coisas profundas. Consegui não descobrir.”

Mas o poeta não pendurou as chuteiras por causa da incompletude. Ao contrário, reage, tentando rasgar horizontes. E acrescenta: “Eu penso renovar o homem usando borboletas”.

De fato a vida continua em evolução e o futuro é imprevisível. E é poeticamente que Manoel de Barros irá se descrever nessa trajetória: “Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras, liberdade caça jeito”.

E acha, com certeza.


LUIZ VIEGAS DE CARVALHO

10.IX.2011

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